Joana, 60 anos, é negra, viúva há 5 anos, doméstica aposentada. É mãe de Carlos, 40 anos, e de Tereza, 29 anos. Criou e mora com seus netos Marcos, 15 anos, e Patrícia, 12 anos, filhos de Tereza. Com a implantação da Equipe de Saúde da Família, ela pediu à Agente Comunitária de Saúde que marcasse uma consulta, pois não estava se sentindo bem. Na avaliação pré-consulta consta: Motivo da consulta “dor no peito”; usa medicamentos para hipertensão, diabetes e dor no joelho (Hidroclorotiazida 25 mg/dia; Anlodipina 10 mg/dia; Glibenclamida 10 mg/dia, Diclofenaco de Sódio). Tabagista e etilista social. PA = 180 x 100; PR = 88; HGT = 230; Peso = 90 kg; Altura 1,65 m. Na consulta: Médico: Bom dia dona Joana, em que posso ajudá-la? Joana: [Olhando para o chão e com uma voz baixa] Eu tenho tido dor no peito ultimamente... Médico: Está com dor hoje? Joana: Não, ainda não tive dor. Médico: [Estabelece contato visual] Dor no peito, D. Joana? Conte mais sobre isso. Joana: [Deslizando sua mão pelo peito até envolver o pescoço] Dói quando me aborreço. Médico: [Breve silêncio, mantendo o contato visual] Como assim? Joana: Quando brigo com meu neto, ele não me respeita.... Médico: Nestes momentos a senhora se sente mal? Joana: É, sim. Médico: A senhora quer falar mais deste problema? Joana: É um menino muito revoltado [pausa], não quer estudar nem trabalhar, fica o dia todo andando com um pessoal esquisito. Médico: A senhora tem o apoio de sua filha? Joana: Ela saiu de casa logo depois que a Patrícia nasceu. Eu tive que criar as crianças. Médico: Sobre sua dor, ela acontece em outras situações? Joana: Às vezes dói, quando subo as escadas para ir para minha casa. Médico: Quanto tempo ela dura? Joana: Às vezes fica doendo o dia todo, tomo um chá com o remédio da pressão, mas ela custa a passar. Tem vezes que ela passa logo. Médico: Para chegar em casa tem que subir muitas escadas? Joana: Tem sim. Médico: Como a senhora se sente quando sobe? Joana: Tenho que parar muitas vezes porque meu joelho também dói demais. Médico: Como está usando os remédios para a pressão e para o diabetes? Joana: Tomo todo dia, quando me aborreço uso de novo o remédio de pressão. Medico: Essa preocupação com seu neto pode estar fazendo a senhora ficar mais ansiosa, comer mais. Essas coisas podem estar contribuindo para causar a dor no peito, aumentar a pressão e descontrolar o diabetes. O que acha? Joana: Eu sei disso, mas não consigo mudar as coisas. Médico: Para entender melhor essa dor e avaliar melhor a hipertensão e o diabetes eu gostaria de pedir uns exames. Mas seria importante também tentar ajudar seu neto, ajudando ele ajuda a senhora também. Joana: Seria muito bom fazer os exames e também se o Marcos viesse para uma consulta. Médico: Então está combinado. Após o exame físico, o médico solicita os exames complementares, faz a prescrição, verifica se ela entendeu, marca o retorno para duas semanas e agenda uma consulta para Marcos. Joana esboça um sorriso e agradece a consulta. Identifique e nomeie duas técnicas de comunicação utilizadas pelo médico que permitem diminuir os vícios de uma coleta dirigida e superficial de dados e facilitam a realização de uma boa consulta.
Questão
RJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ (Hospital Universitário Pedro Ernesto - HUPE)
2014
Residência (Acesso Direto)
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Discursiva