Estrategista, a intoxicação pelo chumbo, também conhecida como plumbismo ou saturnismo, é uma das mais frequentes em nosso meio, ocorrendo na maioria das vezes durante o desempenho das atividades laborais. Desse modo, deve ficar claro que no contexto ocupacional, a principal via de absorção do metal e, dessa forma, de intoxicação, é através da inalação de fumos e poeiras contendo chumbo.

Portanto, diante de um quadro clínico novo e sugestivo, associado à potencial exposição no trabalho, iremos pensar neste diagnóstico de imediato.

No Brasil, as principais atividades de trabalho onde é possível a exposição maciça ao chumbo são:

1) Produção, reforma e reciclagem de baterias e radiadores de automóveis;

2) Lapidação de pedras preciosas;

3) Jateamento com uso de tintas à base de chumbo;

4) Processo de manufatura de equipamentos de proteção hospitalar;

5) Fundição de latão e bronze;

6) Indústrias bélica e do plástico; e

7) Fabricação de pesticidas.

Diante desses fatores de risco, devemos agora compreender os comemorativos clínicos da intoxicação por chumbo.

A priori, devemos diferenciar duas apresentações básicas da intoxicação, a aguda e a crônica. A gênese diferencial de ambas é o tempo e a quantidade de exposição.

1) Intoxicação aguda: aqui teremos sintomas inespecíficos inicialmente, tais como fadiga, cefaleia, irritabilidade e dificuldades de concentração. Associados a isso, podemos ter manifestações gastrointestinais leves tais como náuseas, alternância entre constipação e diarreia, além de cólicas abdominais leves. Com a evolução de intoxicação aguda, o paciente começa a apresentar um quadro mais florido de cólicas abdominais difusas e extremamente dolorosas, refratárias ao tratamento farmacológico ("cólica saturnina"), além de intensa constipação intestinal, febre, leucopenia e hipertensão arterial. Em casos mais raros pode haver evolução para encefalopatia aguda, com convulsões e coma, além de uma marcada neuropatia periférica, que pode levar à paralisia muscular, em especial nos membros superiores. Insuficiência renal aguda com hiperuricemia é outra complicação grave passível de ser observada.

2) Intoxicação crônica: a sintomatologia inicial da intoxicação crônica é inespecífica e evolui de forma insidiosa, contando com comemorativos como distúrbios leves do sono, fadiga, irritabilidade, cefaleia e redução da libido. Podem surgir, ainda, algumas manifestações gastrointestinais leves como náuseas, anorexia e diarreia.

Com a evolução do quadro crônico de intoxicação, pode haver nefropatia e evolução para insuficiência renal crônica, além de encefalopatia, que cursa com distúrbios cognitivos e de humor e neuropatia periférica, que pode gerar um quadro de queda do punho pelo acometimento do nervo radial. As chamadas “linhas de Burton” podem ser fazer presentes aqui. Elas são linhas azuladas de até 2 mm de largura que se formam nas bordas da mucosa gengival de alguns indivíduos cronicamente intoxicados.

O diagnóstico de plumbismo é feito unindo-se dados oriundos da atividade laborativa do indivíduo que indiquem possível exposição ao metal, com elementos do quadro clínico e exames de laboratório. No Brasil, o exame padrão para diagnóstico laboratorial da intoxicação por chumbo é a medição indireta no sangue de Pb(s) ou a medição do ácido delta-aminolevulínico, ALA(U) na urina.

O tratamento envolve a interrupção imediata da exposição ao metal pesado e, a depender da gravidade do quadro, a terapia com quelantes do chumbo tal como ácido etilenodiaminotetracético (EDTA).

Por fim, como já havíamos frisado, a intoxicação por chumbo e outros metais pesados é de notificação compulsória, mesmo que haja apenas suspeita do ocorrido. Segundo a Lista Nacional de Agravos de Notificação, intoxicações exógenas por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados devem ser feitas semanalmente para as Secretarias Municipais de Saúde. Nos casos onde a intoxicação ocorrer no contexto laborativo, iremos caracterizar o acidente de trabalho e, portanto, será feita a notificação compulsória imediata, ou seja, em até 24 horas.

Vamos à resposta, levando em consideração, como "regra geral" o que se segue:

Letra	Sinal/Sintoma	Gravidade mais associada	Justificativa clínica
A	Cólica abdominal aguda	Grave	Clássico da intoxicação severa, conhecida como “cólica saturnina”.
B	Dor abdominal intermitente	Leve a moderada	Pode ocorrer com maior intensidade, mas ainda sem risco imediato.
C	Constipação intestinal	Moderada a grave	Um dos primeiros sintomas gastrointestinais inespecíficos.
D	Fadiga severa	Moderada a grave	Relacionada à anemia sideroblástica e disfunção neuromuscular.
E	Linha gengival de Burton	Moderada	Pigmentação azul-acinzentada da gengiva, associada à exposição crônica.
F	Parestesia	Moderada a grave	Relacionada à neuropatia periférica tóxica (geralmente motora).

GABARITO OFICIAL: LETRA B