GABARITO: ALTERNATIVA C

Estrategista,

A banca se refere aos critérios de causalidade de Bradford-Hill.

Sir Austin Bradford Hill, um famoso epidemiologista do século XX, descreveu em 1965 os nove critérios que levam o seu nome e cujo objetivo é avaliar se a relação entre exposição e desfecho é do tipo causal. Um ponto importantíssimo acerca desses critérios é que a ausência de um deles não descarta a hipótese de causalidade, exceto se o critério ausente for o da temporalidade – esse é o único critério que precisa obrigatoriamente estar presente, e sem qual o a hipótese causal pode ser descartada.

Dito isto, vamos pontuar cada um dos critérios:

1. Força da Associação: Quanto maior o valor da medida de associação entre duas variáveis (exposição e desfecho), maior a probabilidade de que essa relação seja causal.

2. Consistência: A associação vista entre exposição e desfecho também deve ter sido verificada por outros estudos que também estudaram essa exposição e esse desfecho em outras populações.

3. Temporalidade: A ocorrência da exposição deve preceder a ocorrência do desfecho. E aqui cabe uma observação: é por isso que estudos transversais “falham” em demonstrar causalidade, porque aferem a exposição e o desfecho ao mesmo tempo no indivíduo - com isso, não é possível garantir a temporalidade.

4. Gradiente Biológico ou efeito dose-dependente ou ainda, dose-resposta: conforme a exposição aumenta, o desfecho deve aumentar proporcionalmente. Se a exposição diminui, o desfecho deve diminuir proporcionalmente. Quando isso ocorre, é alta a probabilidade de que a exposição esteja envolvida na etiologia do desfecho.

5. Especificidade: a exposição causa especificamente aquele desfecho e não é vista relacionada à outros desfechos. Esse critério tem sido muito questionado porque hoje já sabemos que pode existir uma a rede de causas em torno de um determinado desfecho.

Atenção especial aqui: não confunda a especificidade que é um dos critérios de Hill com a especificidade dos testes diagnósticos. São dois conceitos diferentes. Quando nos referimos aos testes diagnósticos, é a propriedade do teste que nos informa a proporção de indivíduos saudáveis corretamente identificados dentro do grupo dos saudáveis. Quando nos referimos aos critérios de Hill, é a ocorrência do desfecho quando introduzimos a exposição e a ausência do desfecho quando a exposição é retirada, mostrado que o desfecho ocorre especificamente quando a exposição está presente.

6. Plausibilidade Biológica: Se a associação entre exposição e desfecho estiver compatível do ponto de vista biológico com as teorias do conhecimento já existentes sobre aquele assunto, é provável que essa associação seja realmente verdadeira.

7. Coerência: A associação deve seguir o paradigma atual da ciência, não entrando em conflito com o que paradigmas que a Ciência afirma – Por exemplo, sabemos que é necessário que medicações e microrganismos atravessem a barreira hematoencefálica para chegarem ao sistema nervoso central. Se um estudo afirma que determinada bactéria está associada à meningite, mas essa bactéria não consegue atravessar a BHE, é pouco provável que a associação vista seja verdadeira.

8. Evidências Experimentais: se existem estudos experimentais, sejam em animais ou humanos, e se tais estudos mostram a referida associação entre exposição e desfecho, é provável que a associação seja verdadeira.

9. Analogia: Se outras exposições parecidas ou da “mesma categoria” que a exposição estudada causam desfechos semelhantes ao desfecho estudado, então é possível que a associação vista no estudo seja de fato verdadeira. Por exemplo, se uma determinada medicação “A” causa arritmia cardíaca, e foi visto que a medicação “B”, que é da mesma classe que “A”, também tem sido associada à efeitos arritmogênicos, é provável que “B” também cause esse efeito adverso.

Assim, reforçando o que já foi dito acima:

 a presença dos critérios fortalece a hipótese de relação causal, mas a ausência deles não descarta essa hipótese. A temporalidade é o único critério que precisa estar obrigatoriamente presente e cuja ausência descarta a causalidade e informa sobre a causa preceder o efeito.

Referências Bibliográficas:

1. Nadanovsky P, Luiz RR e Costa AJL. Causalidade em Saúde – capítulo 7. In: Medronho RA e colaboradores. Epidemiologia – 2ª edição. Editora Atheneu, 2009.