Estrategista, várias teorias foram propostas para a endometriose. Como foi dito anteriormente, quando existem várias teorias para um assunto é porque nenhuma delas explica completamente a fisiopatologia da doença. A teoria mais aceita (ainda hoje!) é a teoria de Sampson ou teoria da menstruação retrógrada e foi proposta em 1927(!)

Teoria de Sampson: esta teoria parte do príncipio que 90% das mulheres apresentam líquido livre na cavidade pélvica durante o período menstrual, sugerindo que uma parte do conteúdo menstrual reflua através das trompas. Entende-se que as células endometriais provenientes desta menstruação retrógrada possam se aderir, se implantar e se proliferar no peritônio e outros órgãos pélvicos, provocando a doença.

Aproximadamente 5 a 10% das mulheres têm endometriose e a pergunta que fica é: porque somente algumas mulheres desenvolvem endometriose se 90% delas tem menstruação retrógrada?

Deve existir um ambiente hormonal favorável e fatores imunológicos propícios que não impediriam a adesão, implantação e proliferação destas células em locais inapropriados.

Teoria da Metaplasia Celômica: esta teoria sugere que o epitélio celômico ovariano e peritoneal pode se transformar em tecido endometrial. Ou seja, a endometriose poderia se originar a partir de tecidos normais através de um processo de metaplasia.

Teoria da Menstruação em neonatos: esta teoria tem o objetivo de explicar a ocorrência de casos de endometriose em meninas antes da menarca. Logo após o nascimento, o útero da bebê apresenta uma resposta aos hormônios maternos. Foi observado que uma pequena porcentagem das RN’s (cerca de 5%) apresenta um tipo de “menstruação”, que não se exterioriza devido ao colo ser muito comprido e ter muito muco nesta fase da vida. Com isto, o conteúdo menstrual acaba refluindo pelas trompas, devido a obstrução cervical, levando os fragmentos de tecido endometrial com células progenitoras deste epitélio. Estas células poderiam se aderir no peritônio e outros órgãos pélvicos, e aguardar para se “ativarem”, quando receberem um estímulo estrogênico, próximo à menarca.

Teoria das alterações genéticas ou epigenéticas: esta teoria tenta explicar a origem dos implantes de endometriose sem depender da origem de uma célula inicial (menstruação retrógrada ou neonatal, células indiferenciadas ou resquícios embriológicos). De acordo com esta teoria haveria uma predisposição genética ou alterações epigenéticas (associadas ao ambiente peritoneal) tais como fatores imunológicos ou inflamatórios, que poderiam provocar o aparecimento da doença.

Teoria da disseminação linfática ou vascular: segundo esta teoria a endometriose é causada por disseminação vascular ou linfática do tecido endometrial. O encontro da endometriose em lugares pouco comuns como o tórax, região inguinal ou até mesmo o cérebro, favorecem essa teoria. Mas esta teoria tem pouca comprovação científica.

Teoria da indução: a teoria da indução postula que algum fator (ainda desconhecido) pode induzir a transformação de células indiferenciadas em células endometriais. A “falha” desta teoria está no fato de que estes fatores poderiam causar a endometriose em algumas mulheres, mas não em outras. Ou seja, ainda faltam algumas “peças neste quebra cabeça”.

Teoria Imunológica: esta teoria é a peça que falta na teoria da menstruação retrógrada. As células endometriais que refluem na menstruação retrógrada deveriam ser eliminadas pelo sistema imunológico. Mas isto não ocorre nas pacientes com endometriose. Alterações no sistema imune celular (células NK, macrófagos e linfócitos) e humoral (citocinas e interleucinas) destas pacientes justificam esta teoria. Ou seja, as pacientes com endometriose possuem “defeitos” no seu sistema imunológico que permitem que as células endometriais provenientes do refluxo menstrual se implantem e proliferem na pelve, causando a endometriose.

Teoria Iatrogênica: esta teoria justifica a ocorrência de endometriose próximo das cicatrizes cirúrgicas, tais como a cesárea e a episiotomia e nas punções de videolaparoscopia. A explicação para estes casos é a de que houve um “transporte” das células endometriais de dentro do útero para o local afetado durante o procedimento e que a partir disso estas células puderam se aderir e proliferar nestes locais.

Enfim, como vimos, várias teorias foram feitas para tentar explicar a fisiopatologia da endometriose. Porém nenhuma delas explica totalmente a doença e justifica todos os locais onde os implantes de endometriose podem ser encontrados.

Agora vamos analisar as alternativas: