GABARITO: ALTERNATIVA A

Estrategista,

O benzeno é um hidrocarboneto aromático produzido a partir da queima de matéria orgânica, como combustíveis fósseis como o petróleo, e como a queima da madeira, por exemplo (1). Como o petróleo é utilizado para a produção de uma série de produtos, incluindo gasolina e plástico, a principal consequência do processamento da matéria orgânica é a produção indesejada do benzeno.

De forma geral, o gás de benzeno se difunde rapidamente pelo ambiente. Esse gás pode vir diretamente da volatilização do benzeno líquido, ou pode ser produzido no momento do processamento das matérias-primas supracitadas. Caso os trabalhadores dessas indústrias não utilizem equipamentos de proteção individual, acabarão se expondo cronicamente a essa molécula, que é reconhecidamente cancerígena (1).

O principal sistema orgânico afetado pelo benzeno é o hematopoiético. Assim, os produtos da biotransformação do benzeno no organismo humano podem acarretar anemia aplásica, síndrome mielodisplásica, linfoma não-Hodgkin e leucemia mieloide aguda (LMA) (2).

Porém, antes da instalação dessas doenças propriamente ditas, é possível rastrear os trabalhadores que já apresentam toxicidade benzênica, pois estes apresentarão alterações hematológicas como macrocitose, macroplaquetas, eosinofilia e linfocitopenia (2). Quando há hipoplasia secundária ao benzeno, há leucopenia com neutropenia, que poderá estar associada ou não à plaquetopenia. Ainda, poderá haver hiposegmentação dos neutrófilos, que é chamada de Pseudo Pelger*.

Por isso, como o sistema hematopoiético é o mais afetado pela exposição crônica de benzeno, fica claro que o melhor indicador biológico para o rastreamento é o hemograma em série histórica, onde o trabalhador é submetido ao hemograma de forma periódica (3). Essa é uma medida de prevenção secundária** que auxiliará na instituição do tratamento adequado, impedindo assim a progressão para outras doenças.

Dessa forma:

Correta a alternativa “A”, sem ressalvas.

Incorreta a alternativa “B” e “C”. A creatinina sérica é o parâmetro laboratorial utilizado para inferirmos sobre a função renal. Já as aminotransferases, embora não possam avaliar a função hepática, podem inferir sobre a destruição hepatocelular. Um estudo laboratorial realizado em cobaias demonstrou que a exposição à hidroquinona e ao fenol, que são metabólitos do benzeno, não alteraram a creatinina ou os níveis de aminotransferases (4). Ainda, não existem relatos concisos sobre os efeitos do benzeno nos sistemas urinário e hepático.

Incorreta a alternativa “D”. A dispneia também pode estar associada tanto à intoxicação aguda, como na intoxicação crônica ao benzeno, inclusive com broncoespasmo associado (2) (que possivelmente é o mecanismo fisiopatológico da dispneia). No entanto, veja que a banca questiona sobre um método de rastreamento. Como as alterações hematológicas ocorrem em maior frequência, e como o hemograma é mais simples de ser realizado como método de rastreamento do que a prova de função pulmonar, esse não é o nosso gabarito

Para ampliar seus conhecimentos:

*A Anomalia de Pelger-Huet é uma condição genética, benigna, caracterizada pela hiposegmentação do núcleo dos leucócitos (Por exemplo, um neutrófilo que naturalmente deveria ter 3 ou 4 lóbulos, por exemplo, passa a ter dois), porém sem comprometer sua capacidade de resposta imune. Na hipoplasia secundária ao benzeno, o trabalhador também pode apresentar o que é chamado Pseudo Pelger, uma alteração estrutural semelhante à anomalia original de Pelger-Huet, já que ele também apresentará uma hiposegmentação de leucócitos. Porém, é portador dessa condição genética, haverá a desconfiança para o benzenismo.

** Veja que a solicitação de hemograma de forma seriada é uma medida de prevenção secundária, na medida em que haverá a detecção precoce de alterações hematológicas e o tratamento precoce será instituído – ainda, como essa detecção ocorre em um período assintomático do processo patogênico, é chamada de rastreamento.

Referências bibliográficas:

(1) D’Alascio RG et al. Sintomas relacionados à exposição ocupacional ao benzeno e hábitos ocupacionais em trabalhadores de postos de revenda de combustíveis a varejo na região sul de Santa Catarina. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho 12(1):21-9, 2014.

(2) Fonseca ASA et al. Classificação clínico-laboratorial para manejo clínico de trabalhadores expostos ao benzeno em postos de revenda de combustíveis. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. Volume 42 - Suplemento 1 - Dossiê: Benzeno em Postos de Combustíveis: 1-10, 2017.

(3) Ministério da Saúde. Risco Químico Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos ao Benzeno. Protocolo n° 7, Brasília-DF, 2007.

(4) Ferreira A et al. Exposição a hidroquinona e ao fenol sobre a resposta inflamatória pulmonar induzida por bactéria. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. 43(3): 455-464, 2007.