GABARITO: ALTERNATIVA A.

Referências bibliográficas:

(1) Lopes JMC e Dias LC. Capítulo 15: Consulta e abordagem centrada na pessoa. In: Tratado de Medicina de Família e Comunidade – Princípios, formação e prática. 2ª edição. Organizado por Gustavo Gusso, José Mauro Ceratti Lopes, Lêda Chaves Dias. Editora Artmed. 2019.

(2) Kolling MG. Capítulo 8: Método Clínico Centrado na Pessoa. In: Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseada em Evidências – 4ª edição. Organizado por Bruce B. Duncan, Maria Inês Schmidt, Elsa R.J. Giugliani, Michael S. Duncan, Camila Giugliani. Editora Artmed, 2014.

(3) Stewart M, Brown JB, Weston WW, McWhinney IR, McWilliam CL, Freeman TR. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. 3ª edição. Porto Alegre, Artmed, 2017.

Estrategista,

Vamos revisar brevemente o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), uma vez que este tema é comum nas provas de Residência Médica.

O MCCP é um tipo de abordagem individual aplicada durante a consulta médica e que tem por objetivo “compartilhar o poder da relação médico e paciente”, onde o médico cede “poder” para o paciente, para que ele opine sobre seu processo de adoecimento e seu plano terapêutico (1). Este método não deveria ser “exclusivamente” aplicado pela especialidade Medicina de Família, e sim por diversos ambulatórios de especialidades, visto que todo ser humano pode e deve participar das decisões sobre seu plano terapêutico.

O MCCP conta com quatro componentes básicos:

• 1º componente: Explorando a saúde, a doença e a experiência da doença.

Esse é o componente que tenta entender a percepção do paciente sobre o seu adoecimento. Por exemplo, segundo William Osler, a doença (do inglês, “disease”) “é o que todos com essa patologia em comum têm”, mas a experiência sobre a doença (em inglês, “illness”) “é única para cada pessoa”, sendo assim uma experiência subjetiva (1).

Para entendermos como o indivíduo explica e sente esse processo de adoecimento, foi desenvolvido o acrônimo SIFE, que tem por objetivo avaliar as quatro dimensões do “illness” (2) (acrônimo SIFE):

-- Sentimento: os sentimentos da pessoa, incluindo o medo de estar doente.

-- Ideia: o que ela pensa que está errado com ela (chamado também de modelo teórico que explica a doença). Em outras palavras: qual é a resposta que ela informa quando é questionada sobre o porquê ela adoeceu.

-- Funcionamento: qual foi o efeito da doença sobre o funcionamento da sua vida? o que modificou?

-- Expectativa: o que o indivíduo espera do seu médico (quais são suas expectativas?)

• 2º componente: Entendendo a pessoa como o todo.

Esse é o componente que auxilia o médico a entender o contexto de vida daquele paciente, como as suas relações familiares, o seu trabalho, a comunidade onde o paciente está inserido e tudo aquilo que rege as suas relações interpessoais.

• 3º componente: elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas.

O terceiro ponto do MCCP é a elaboração do plano terapêutico tendo o paciente como protagonista desse processo. A partir do momento em que o médico cede poder de decisão para o paciente, esse indivíduo melhora a sua compreensão sobre o processo de adoecimento e apresenta maior nível de adesão. Dessa forma, também há um aumento da resolutividade do problema.

• 4° componente: intensificando a relação entre a pessoa e o médico.

Por último, o quarto componente do MCCP tem por objetivo intensificar a relação médico-paciente. A criação do vínculo é muito importante no processo de adesão ao tratamento, além de trazer maior satisfação tanto para o médico como para o paciente.

Aqui cabe uma observação importante! Antigamente, o MCCP tinha seis componentes:

1. Explorando a doença e a experiência da doença;

2. Entendendo a pessoa como um todo;

3. Elaborando um projeto comum de manejo;

4. Incorporando a prevenção e a promoção da saúde – onde ações como prevenção primária e secundária eram incorporadas ao plano terapêutico;

5. Fortalecendo a relação médico-pessoa;

6. Sendo realista.

No tópico 4, que é “incorporando a prevenção e a promoção da saúde”, o médico tem a oportunidade de identificar pontos importantes na vida da pessoa e que sejam potencialmente danosos para a sua saúde (2,3). A partir disso, ele poderá estabelecer estratégias de prevenção, como as prevenções primária e a secundária, por exemplo.

No tópico 6, “sendo realista”, o médico deve considerar os recursos que têm para otimizar o atendimento, sem que se seja utópico. Por exemplo, se ele está em um dia com muitos atendimentos, e o paciente apresenta muitas demandas, não será possível abordar todas em uma única consulta, sendo necessário se valer da longitudinalidade para abordar as demandas que faltam em uma segunda consulta (2). Ainda, se o ideal seria pedir um determinado tipo de exame, mas isso não será possível porque ele não está disponível no sistema de saúde, o médico deve ser realista e adaptar o plano terapêutico ao que é possível de ser feito.

Em 2017, o MCCP foi editado e passou a ter apenas os quatro componentes que foram explicados anteriormente (3). Os tópicos “4” e “6” da antiga versão foram retirados porque houve o entendimento de eles estão naturalmente “incluídos” nos demais componentes.

Voltando para a questão, o examinador deseja saber qual é o componente que corresponde ao ato de o médico perguntar ao paciente o que ele pensa sobre a doença que o acomete. Ora, como vimos acima, este questionamento faz parte do acrônimo SIFE e está no componente 1. Portanto: