Comentário: Bárbara D’Alegria

Gabarito: C.

Estrategista,

Essa é uma questão clássica nas provas de residência médica, em que o examinador deseja saber se o candidato conhece as principais definições sobre classificação de casos. De forma geral, as bancas utilizam o livro “Epidemiologia & Saúde”, de Maria Zélia Rouquayrol, como a principal referência para esse assunto (1). No entanto, o Guia de investigação de surtos e epidemias, do Ministério da Saúde, também pode ser utilizado (2). Acompanhe abaixo as principais definições que são cobradas nas provas:

Caso: o termo “caso” é usado genericamente para descrever qualquer cidadão ou animal infectado ou com determinadas características clínicas, laboratoriais ou epidemiológicas. Existem, portanto, os casos clássicos de uma doença, bem como os casos importados, autóctones, esporádicos, casos índices, entre outros (1).
Casos esporádicos: são aqueles que não estão relacionados com outros já conhecidos (1).
Casos clássicos: são aqueles cuja evolução clínica ocorre exatamente conforme o esperado para a evolução natural da doença. É um termo muito utilizado para descrever os casos de dengue que seguem a clínica esperada.
Caso primário: é o primeiro caso de uma cadeia de transmissão, pois não há evidência epidemiológica de que ele seja derivado de outro caso.
Caso secundário: é aquele caso que contrai a infecção a partir do contato com o caso primário. Para o Ministério da Saúde, um caso pode ser considerado secundário se os sinais e sintomas surgirem 24 horas após o contato com o caso primário (2). Para outros autores, os sintomas devem surgir após o tempo de incubação da doença.
Caso coprimário: é aquele que teve contato com o caso primário, porém os sintomas surgiram antes das 24 horas, sugerindo que a sua fonte de infecção não foi o caso primário, e sim algum caso de outra cadeia epidemiológica (2). Portanto, o caso coprimário não faz parte da mesma cadeia epidemiológica que o caso primário.
Caso-índice: é o primeiro caso da doença a ser registrado oficialmente em uma determinada localidade. No entanto, isso não significa que ele é o caso primário, que é aquele que iniciou a cadeia epidemiológica propriamente dita. Por exemplo, suponha que um determinado indivíduo “A” chegou infectado com SARS-COV-2 em um vilarejo, sendo que essa comunidade ainda não registrou casos de COVID-19. Agora, suponha que o indivíduo “A” teve contato com o indivíduo “B”, que por sua vez contraiu a infecção. O indivíduo “A” apresentou sintomas leves e julgou ser um resfriado comum. Portanto, não procurou atendimento médico. Em contrapartida, o indivíduo “B” evoluiu com febre e dispneia e procurou atendimento médico, sendo oficialmente diagnosticado como o primeiro caso de COVID-19 naquele local. Portanto, ele é o caso-índice, embora não seja o caso primário da cadeia epidemiológica (isto é, não foi ele quem deu origem a essa cadeia de transmissão) (1).

- E se o caso primário, mesmo com sintomas leves, fosse ao hospital para atendimento?

Bom, provavelmente ele seria o primeiro caso oficialmente registrado na região e aí sim poderíamos dizer que o caso-índice é o caso primário. Por isso, veja que isso pode acontecer, mas não é uma obrigatoriedade.

Caso alóctone ou importado: ocorre quando o indivíduo contrai uma doença em uma determinada localidade, mas a doença só é diagnosticada em outra localidade (1). Por exemplo, se um indivíduo adquire COVID-19 na China e viaja para o Brasil, sendo diagnosticado nessa última localidade, teremos um caso alóctone. Portanto, o local de transmissão é diferente do local de diagnóstico (veja a figura 1).
Caso autóctone: é aquele em que o local de transmissão da doença é o mesmo de diagnóstico. Por exemplo, se um indivíduo contrai COVID-19 na região Amazônica e é diagnosticado nessa mesma localidade, teremos um caso autóctone (veja a figura 1). Logo, o local de infecção é igual ao local de diagnóstico (1).

Figura 1 – Diferença entre caso alóctone e caso autóctone. Observe que quando o caso é alóctone (ou importado) o local onde o paciente contraiu a infecção é diferente do local do diagnóstico. Em contrapartida, quando o caso é autóctone, o local de transmissão é o mesmo que o local de diagnóstico.

caso presuntivo: é quando o indivíduo apresenta sinais e sintomas clínicos da doença, sem confirmação laboratorial da doença (1).
caso suspeito: é o indivíduo que apresenta sinais e sintomas compatíveis com a doença, sem ter ainda confirmação laboratorial, porém apresenta exposição à fonte de infecção, sugerindo que ele está desenvolvendo ou pode vir a desenvolver a doença (1).

→ Veja que o que o diferencia o caso presuntivo do caso suspeito é que o segundo apresenta história epidemiológica positiva.

Caso confirmado: Segundo Rouquayrol, o caso confirmado é “a pessoa de quem foi isolado e identificado o agente etiológico ou de quem foram obtidas outras evidências laboratoriais da presença do agente etiológico (1). Já segundo o Ministério da Saúde, considera-se caso confirmado aquele “caso suspeito ou provável que foi confirmado por diagnóstico laboratorial” (2). Observe como em ambas as definições, há a necessidade de confirmação laboratorial; Nesse sentido, caso confirmado é diferente de caso confirmado por critério clínico-epidemiológico, que é aquele que tem “clínica compatível com a doença e ter sido causado pela mesma fonte que o caso confirmado por critério laboratorial” (2). Veja que não tem confirmação laboratorial, mas tem ligação epidemiológica.

Agora que você conhece as principais definições utilizadas na classificação de casos, veja que a banca deseja saber como chamamos o caso em que o “doente, atualmente presente na área sob consideração, que tenha adquirido a sua doença em outra região de onde emigra ou onde esteve ocasionalmente”.

Veja que o doente adquiriu a doença em outra região, sugerindo que o local de transmissão é diferente do local do diagnóstico. Ainda, essa é exatamente a definição de caso alóctone que consta no livro “Epidemiologia & Saúde”, que foi citado no início do texto (1).

Referências bibliográficas:

1. Barbosa LMM e Machado CB. Capítulo 40: Glossário de Epidemiologia & Saúde. In: Epidemiologia & Saúde. Organizado por Maria Zélia Rouquayrol e Marcelo Gurgel. Editora Medbook, 8ª edição, 2017.

2. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia para Investigações de Surtos ou Epidemias. Ministério da Saúde. Brasília-DF, 2018.