Caro Estrategista,

Questão dificílima, sobre um conceito muito específico em estudos de análise de sobrevida. Vamos começar do básico - o que é análise de sobrevida?

A análise de sobrevida é uma área estatística usada para estudar o tempo até que ocorra um evento de interesse, sendo o "tempo de sobrevida" o intervalo entre um ponto inicial e o evento final. Na medicina, esse evento pode ser, por exemplo, morte, recaída de uma doença, tempo até a cura ou a ocorrência de uma complicação. A análise de sobrevida é essencial em estudos clínicos para avaliar o efeito de intervenções sobre esses tempos, permitindo identificar fatores que influenciam a duração da sobrevida.

A curva de Kaplan-Meier é a ferramenta mais comum para descrever graficamente a sobrevida ao longo do tempo. Além da análise descritiva de Kaplan-Meier, a regressão de Cox (ou modelo de riscos proporcionais de Cox) é a principal ferramenta numérica para a análise de sobrevida. Esse modelo permite examinar o efeito de várias covariáveis (como idade, tratamento, presença de comorbidades) no tempo de sobrevida, ajustando para essas variáveis simultaneamente. O modelo de Cox estima o hazard ratio (HR), que é a razão das taxas de risco entre os grupos comparados. Um HR de 1 significa que não há diferença no risco entre os grupos, enquanto um HR maior que 1 sugere maior risco no grupo exposto, e um HR menor que 1 indica menor risco.

Porém, imagine que você está avaliando se a concentração de PCR-us é um fator de risco para morte por causa cardiovascular em até 30 anos, como é o caso do estudo em questão. Você concorda comigo que a pessoa pode morrer de acidente de trânsito e isso não ter nada a ver com a PCR-us? Aí que entra o risco competitivo.

O conceito de risco competitivo (do inglês, competing risks) refere-se à situação em que dois ou mais tipos de eventos podem impedir ou alterar a probabilidade de ocorrência do evento principal sendo estudado. Por exemplo, em um estudo sobre o impacto de uma terapia no tempo até a morte por uma causa específica, como câncer, a morte por outra causa, como doença cardiovascular, constitui um risco competitivo. Esse cenário é relevante porque a presença de riscos competitivos pode distorcer as estimativas de probabilidade do evento principal se não forem adequadamente levados em consideração.

Nos modelos de análise tradicionais de sobrevivência, como o modelo de regressão de Cox, assume-se que todos os indivíduos permanecem sob risco do evento principal ao longo do tempo. No entanto, em situações de risco competitivo, essa suposição não é válida, pois a ocorrência de um risco competitivo elimina a possibilidade de o indivíduo vivenciar o evento principal. Métodos específicos, como o modelo de causa específica (cause-specific hazards) e a função de incidência cumulativa (cumulative incidence function), são utilizados para lidar com riscos competitivos. Esses métodos permitem distinguir entre o risco associado ao evento de interesse e o impacto das causas competitivas, oferecendo estimativas mais interpretáveis.

Como os autores sabiam que muitos riscos competitivos entram na jogada ao longo de uma acompanhamento de 30 anos, perceba que foram colocados os gráficos de incidência cumulativa, e não de sobrevida.

Dito isso, vamos às alternativas!