O Hidrargirismo, também chamado de “Mercurialismo”, significa intoxicação pelo Mércurio. Esse, por sua vez, é um metal pesado que pode ser encontrado na natureza sob três formas diferentes (1):

Mercúrio metálico: forma líquida, que evapora facilmente formando vapores sem cheiro (vapor de mercúrio metálico);
Mercúrio inorgânico: quando conjugado a outros elementos, formando compostos inorgânicos como sais. O Cloreto de Mercúrio é um exemplo;
Mercúrio orgânico: quando conjugados à compostos orgânicos, como o metilmercúrio, que é um produto que resulta da biotransformação do mercúrio inorgânico por peixes, por exemplo.

Enquanto o metilmercúrio é a principal forma de intoxicação da população em geral (por meio do consumo de peixes contaminados, por exemplo), o mercúrio metálico e o inorgânico são as principais formas de exposição nas atividades ocupacionais. Segundo o Ministério da Saúde, atividades que envolvam a fabricação de termômetros, de esfigmomanômetros, indústrias que produzem produtos eletrônicos, pilhas e baterias, lâmpadas e até mesmo as atividades de extração primária de mercúrio da natureza, são ocupações associadas ao mercurialismo. Ainda, garimpeiros também estão expostos a esse metal pesado (2).

Durante as atividades ocupacionais, o mercúrio é absorvido principalmente por via respiratória e dérmica (muito semelhante ao benzeno, que também tem essas vias como principais mecanismos de absorção). A exposição contínua ao mercúrio leva ao Mercurialismo Metálico Crônico Ocupacional (MMCO). Como o mercúrio é um metal que se deposita no Sistema Nervoso Central, esse acúmulo pode ocasionar uma síndrome neuropsiquiátrica que se manifesta por meio de diversos espectros clínicos, mas em geral o paciente apresenta alteração comportamental (apresentando depressão, principalmente), alteração cognitiva (distúrbios de memória) e tremores. Geralmente, os tremores são mais intensos enquanto há exposição ao mercúrio e reduzem quando a exposição cessa. No entanto, a alteração comportamental costuma ser irreversível (2,3).

Um desses espectros ficou conhecido como a “Doença do Chapeleiro Maluco”, visto que no século XIX muitos fabricantes de chapéu inalavam os vapores de mercúrio ao “selar” os chapéus nesse tipo de vapor (3).

Um ponto de vista interessante sobre as atividades ocupacionais que atuam com o mercúrio é que elas podem, teoricamente, atingir a toda população e os sintomas só aparecerem anos depois. Por isso, o cuidado com o manuseio do mercúrio tem sido um tema crescente em saúde pública.

Por exemplo, suponha uma rede de garimpo em uma bacia amazônica. O mercúrio inorgânico produzido durante a extração do ouro pode contaminar rios, sendo consumidos por peixes da região; esses acabam biotransformando esse metal em metilmercúrio. Uma vez que o metal entra na cadeia alimentar, pode atingir a toda população que consome aquele pescado, que só manifestará sinais e sintomas após anos de exposição.

Foi o que aconteceu na cidade de Minamata, no Japão, na década de 50. Muitos pacientes dessa cidade começaram a internar devido à uma síndrome neuropsiquiátrica que cursava com convulsões e psicose. Após intensa pesquisa, verificou-se que se tratava de intoxicação por mercúrio através do consumo de pescado. Uma importante indústria da região jogou os dejetos industriais contendo mercúrio na bacia hidrográfica da cidade por pelo menos duas décadas até que os primeiros expostos apresentassem sintomas. Esse espectro clínico que ocorreu no Japão ficou conhecido como Doença de Minamata (4). Lembre-se que vivemos uma tragédia semelhante em 2015, o desastre de Mariana. Naquela ocasião, a barragem de uma grande indústria nacional se rompeu e dejetos com diversos metais pesados extravasaram para a bacia hidrográfica da região. Alguns dias após a tragédia, foram encontrados níveis elevados de mercúrio no Rio Doce. Provavelmente, só conheceremos os efeitos de uma possível intoxicação por mercúrio daqui a alguns anos.

A intoxicação pelo mercúrio pode ser monitorada pelos níveis urinários desse elemento. Segundo a Norma Regulamentadora n°7, o limite urinário aceitável de mercúrio é de 5 microgramas por grama de creatinina (5µ/g de creatinina).

Para gravar de vez que o hidrargirismo é referente à exposição de mercúrio, é só lembrar que esse metal é representado na tabela periódica pelo símbolo Hg. Dessa forma, Hidrargirismo = Hg = Mercúrio.

Resposta letra A.