A síndrome do choque tóxico estafilocócico (SCT) é uma condição caracterizada pela rápida instalação de febre, rash, hipotensão e

envolvimento de múltiplos órgãos, ocasionados pelas toxinas produzidas pela bactéria Staphylococcus aureus, durante uma infecção

por esse patógeno.

Metade dos casos de SCT em crianças ocorre antes dos dois anos de idade, e a maior parte deles apresenta antecedente de infecção de pele.

Os principais fatores de risco para a SCT são:

- Infecções de sítio cirúrgico

- Mastite

- Sinusite

- Osteomielite

- Infecções de vias aéreas secundárias ao vírus influenzae

- Enterocolite

- Lesões cutâneas

- Artrite

- Queimaduras

A toxina denominada TSST-1 (toxina 1 do choque tóxico estafilocócico) e outras toxinas (enterotoxinas A, B, C, D E e H)

produzidas pelo estafilococo são importantes para a fisiopatologia da SCT.

Essas toxinas funcionam como superantígenos, que são capazes de ativar muitos linfócitos T, gerando produção maciça de

citocinas.

Os critérios diagnósticos da SCT pelo estafilococo são apresentados no quadro abaixo:

CRITÉRIOS CLÍNICOS

Febre: temperatura ≥38,9°C.

Rash: eritrodermia macular difusa

Descamação: 1 a 2 semanas após o início do rash.

Hipotensão: para crianças é considerada como PA sistólica abaixo do Percentil 5.

Envolvimento multissistêmico (3 ou mais dos seguintes):

• Gastrointestinal: vômito e diarreia no início do quadro.

• Muscular: mialgia severa ou aumento de CPK>2 vezes o limite superior de normalidade.

• Membranas mucosas: hiperemia, vaginal, orofaríngea ou conjuntival.

• Renal: aumento de ureia ou creatinina > 2 vezes o limite superior de normalidade ou piúria (>5 leucócitos/campo) na ausência de

infecção de trato urinário.

• Hepático: bilirrubinas ou transaminases >2 vezes o limite superior de normalidade.

• Hematológico: Plaquetas<100.000/mm³.

• Sistema nervoso central: desorientação ou alteração no nível de consciência com sinais neurológicos focais, quando a febre e

hipotensão estão ausentes.

CRITÉRIOS LABORATORIAIS

Culturas (sangue ou líquido cefalorraquidiano) negativas para outros patógenos (hemoculturas podem ser positivas para o Staphylococcus

aureus).

Testes sorológicos negativos para leptospirose ou sarampo.

CLASSIFICAÇÃO DE CASO

Caso provável: caso que preenche os critérios laboratoriais e quatro dos cinco critérios clínicos.

Caso confirmado: preenche critérios laboratoriais e todos os cinco critérios clínicos, incluindo descamação (a menos que o paciente

evolua para óbito antes da descamação)

Deve-se suspeitar da SCT pelo estafilococo em pacientes saudáveis com início abrupto de febre, rash, hipotensão e envolvimento de

múltiplos órgãos e com fatores de riscos relevantes.

A detecção do estafilococo em cultura não é fundamental para o diagnóstico. Os critérios listados na tabela acima são utilizados para

dados epidemiológicos, contudo, não devem excluir um caso suspeito.

O tratamento da SCT envolve o tratamento do choque, desbridamento das lesões infectadas e antibioticoterapia.

O tratamento do choque segue o fluxograma para o choque séptico, com ressuscitação volêmica e drogas vasoativas caso o paciente

não apresente resposta à fluidoterapia.

O antibiótico de escolha depende do perfil de resistência ao estafilococo e pode ser realizado com:

• Oxacilina e clindamicina para infecções estafilocócicas por germes meticilino sensíveis,

• Vancomicina e clindamicina para germes meticilino-resistentes.

O uso da clindamicina na SCT é justificado pela sua habilidade em inibir a produção de toxinas bacterianas. O tratamento é

recomendado por 10 a 14 dias