Estrategista, o liquen escleroso vulvar é a causa mais comum de doença crônica vulvar (1:300-1:1000). Pode acometer todas as faixas etárias, mas é mais frequente em mulheres na pósmenopausa (na quinta ou sexta década de vida) e em meninas pré-púberes. Consiste em uma dermatose crônica, inflamatória, não neoplásica, não infecciosa, de provável origem autoimune. Em alguns casos, há associação com doenças autoimunes, como vitiligo, tireoidite autoimune, lúpus, artrite reumatoide, doença celíaca e outros. Está associado com um risco de 4-6% de transformação maligna (carcinoma escamoso de vulva).

O principal sintoma do liquen escleroso é o prurido vulvar crônico, mas a doença pode ser assintomática em 1% dos casos. Outros sintomas associados podem ser: dor, disúria, restrição à micção e dispareunia. Geralmente começa em torno do capuz do clitóris na forma de um eritema bem demarcado, progredindo para os pequenos lábios, vestíbulo e regiões perineal e perianal. As lesões típicas são pápulas e/ou máculas branco-nacaradas, que podem agrupar-se conferindo a característica distribuição em “figura de oito”.

Devido ao ato de coçadura, podem formar-se fissuras, erosões, púrpura e equimoses. A pele adquire textura adelgaçada e enrugada, que lembra papel de cigarro. Eventualmente, pode ocorrer distorção da arquitetura com reabsorção de estruturas anatômicas: sinéquia de pequenos lábios, encapuzamento de clitóris, perda dos pequenos lábios, e, em alguns casos, estenose do introito vaginal.

O diagnóstico pode ser apenas clínico. A biópsia só deve ser realizada quando se tem dúvida em relação ao diagnóstico, e também em casos atípicos, que há suspeita de malignidade (obs.: para a prova, considere que a biópsia deve ser feita em todos os casos!).

Os principais diagnósticos diferenciais do liquen escleroso são: líquen plano, líquen simples crônico, vitiligo, e neoplasia intraepitelial vulvar. Observe que a lesão é bem demarcada e os pelos geralmente são brancos. O vitiligo é assintomático. Deve ser feita a biópsia para a exclusão de câncer em todas as pacientes com diagnostico de líquen escleroso sem resposta à corticoterapia, especialmente naquelas com presença de áreas espessadas e ulcerações.

O objetivo do tratamento é reduzir o prurido, melhorar a qualidade de vida, evitar a progressão da doença e sua transformação maligna. Devem ser feitas orientações gerais de higiene: evitar irritantes, vestir roupas íntimas de algodão, aplicar lubrificantes e emolientes na vulva e usar sabonetes sem fragrância. A base do tratamento são os corticoides tópicos de alta potência (clobetasol 0,05% ou mometasona 0,10%), inicialmente diariamente, por um mês, e a seguir se faz a retirada progressiva da medicação. Como segunda opção de tratamento, podem ser utilizados os inibidores da calcineurina (tacrolimus e pimecrolimus).

Mesmo em pacientes assintomáticas, o seguimento deve ser semestral ou anual para o resto da vida.Caso não haja melhora, devem ser avaliados os seguintes pontos: uso correto da medicação, infecção bacteriana ou fúngica concomitante e, principalmente, a presença de neoplasia intraepitelial vulvar ou carcinoma escamoso.