5 casos ainda não solucionados pela medicina
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5 casos ainda não solucionados pela medicina

A busca pela solução de mistérios na medicina constantemente impulsiona as pesquisas científicas na área, além de sempre gerar resultados muito úteis à sociedade, como maneiras de diminuir a mortalidade infantil, as sensações de dor e até mesmo impedir infecções. 

Um dos casos mais notórios na história da medicina foi a descoberta de Louis Pasteur, que no século XIX começou a investigar as causas de doenças quando se deparou com o principal culpado: os germes. Graças a sua descoberta, algumas das primeiras vacinas foram desenvolvidas, como a antirrábica, reduzindo drasticamente a mortalidade que assolava a população do período.

Pensando em incentivar descobertas e inovações como essas, foi criado o Prêmio Nobel em 1901, homenageando personalidades que realizassem grandes contribuições nas áreas da Química, Física, Medicina, Literatura e no ativismo pela paz mundial. A descoberta mais marcante de 2021 na medicina, ganhadora do Nobel, teve como tema “a interação do sistema nervoso com estímulos de toque e temperatura”. Tratam-se de duas pesquisas que ajudaram a responder algo que vinha intrigando médicos e cientistas de todo o mundo: como experimentamos e sentimos o mundo ao nosso redor? 

Porém, alguns casos intrigantes ainda não foram esclarecidos pela ciência e podem render ótimas pesquisas científicas e estudos de caso. Confira abaixo 5 casos não solucionados pela medicina.

1 – Morte súbita de bebês

A Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) – ou SIDS, na sigla em inglês, ainda é um mistério para a medicina. Geralmente, os bebês são colocados para dormir totalmente saudáveis e normais, porém não acordam no dia seguinte. Quando são levados para o hospital, já sem vida, até hoje nenhum médico é capaz de dar uma explicação concreta para a causa da morte, então diagnosticando como Síndrome da Morte Súbita do Lactente. 

A maioria dos casos desta síndrome acontece durante o sono entre lactentes que não aparentam problemas de saúde, mas trata-se de um tipo de morte considerado raro. O DataSUS, banco de dados brasileiro em saúde, contabilizou 155 casos de SMSL em 2020 no país.

O motivo das mortes que se enquadram no SMSL ainda não é compreendido, embora teorias apontem que os bebês possam ter dificuldade em regular seus batimentos cardíacos, respiração e temperatura corporal. Já outra hipótese relaciona a dificuldade de despertar de alguns bebês à morte súbita na infância, isso porque a ausência de níveis adequados da enzima BChE pode impossibilitar alguns bebês de desenvolver a “habilidade de acordar” diante de uma ameaça, como falta de ar durante o sono — que pode causar morte súbita.

Por enquanto, existem apenas hipóteses, que poderão ser validadas por pesquisas científicas para, assim, a síndrome deixar de ser um mistério médico. Embora ainda não se entenda plenamente o que causa a síndrome e como preveni-la, estudos recentes apontam alguns hábitos que reduzem os riscos de SMSL, como a amamentação, pois bebês que mamam no peito aparentam mais facilidade em acordar, além de possuírem mais anticorpos, que são adquiridos por meio do leite materno.

Além disso, o risco de SMSL é maior entre bebês prematuros, que possuem baixo peso e aqueles com pais fumantes. Isso acontece por conta da vulnerabilidade a infecções nesses casos, bem como a capacidade dos resíduos da fumaça em bloquear as vias respiratórias. Ainda, pesquisas apontam maior incidência de Síndrome da Morte Súbita em lactentes que dormem na cama dos pais.

A Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) acomete bebês de até 12 meses e, ainda, possui uma variação: a morte súbita inexplicável na primeira infância, que atinge maiores de 1 ano de idade. 

2 – Alergia à água

A urticária aquagênica é uma condição médica rara popularmente chamada de “alergia à água”. O paciente acometido pela doença não pode deixar água se aproximar da pele, caso contrário, ocorrerá erupção cutânea grave. Aparentemente, entre os sintomas imediatos, há uma coceira, dor e irritação na região, que pode chegar a formar vergões e a sangrar, caso o paciente friccione a área afetada, sinais que geralmente desaparecem após 60 minutos do contato.

A urticária aquagênica foi descrita na literatura médica pela primeira vez em 1964 e na maioria dos casos ocorre entre o sexo feminino e durante a puberdade – o motivo disso ainda não é conhecido. A doença até então está longe de ser solucionada pelos cientistas, mas, aparentemente, a urticária aquagênica não é uma alergia e sim uma provável reação imunológica ao identificar uma substância considerada estranha. Para se proteger, o sistema imunológico produz anticorpos e, diante do estímulo, as células da pele liberam substâncias químicas, em grande parte histamina, assim dilatando os vasos sanguíneos, que causam os sintomas já citados.

Alguns dos pacientes que sofrem com a condição alegam que até mesmo beber um copo de água gera incômodo na pele e no corpo, assim como chorar, suar e salivar. Já outros precisam apenas evitar o contato físico com a água, independentemente da temperatura ou de sua origem, mas ainda podem consumir qualquer coisa derivada da substância para hidratação, sem reação nas mucosas da boca e no trato digestivo.

O que causa a patologia, bem como quais seriam suas manifestações mais recorrentes, ainda não foram totalmente descobertos pela medicina, já que o fato de menos de 100 pessoas no mundo manifestarem a doença dificulta o seu estudo. Isso por tratar-se de um número insuficiente para grandes testes clínicos para definir um medicamento ou uma cura. Estima-se que apenas uma em cada 230 milhões de pessoas no mundo sofram da doença. 

Existem algumas teorias que tentam definir como a “alergia à água” ocorre, como:

  • A urticária seria uma resposta tóxica ao toque da água na pele por conta da extrema sensibilidade desta aos íons que a substância carrega;
  • A água dissolveria as substâncias presentes na camada de células mortas da pele, podendo liberar compostos tóxicos, levando a uma reação imunológica quando eles penetram em camadas mais profundas;
  • A reação aconteceria pelas diferenças de pressão repentina que acionam o alarme imunológico por osmose decorrente da saída da água da pele; e
  • A água reagiria com as glândulas sebáceas formando uma substância tóxica que estimularia a degranulação do mastócito com liberação de histamina, resultando na formação das lesões. 

Além disso, médicos e cientistas tentam investigar se a patologia decorre de alguma alteração genética, mas nenhum gene específico foi identificado até o momento. Por enquanto, o tratamento da condição é feito à base do uso de anti-histamínicos, ainda sem chance de cura, mas os sintomas podem ser razoavelmente controlados. Infelizmente, pela raridade da condição não há motivação para desvendar essa doença misteriosa.

3 – Origem do autismo e da esquizofrenia

Tanto a causa do autismo como a da esquizofrenia não é conhecida, bem como não se sabe ao certo o porquê das condições acometer, em sua maioria e de maneira mais grave, indivíduos do sexo masculino.

Ambos tratam-se de problemas psiquiátricos. A esquizofrenia ocorre quando há uma alteração cerebral que dificulta o julgamento correto da realidade – psicose, além de alucinações e delírios, sintomas que surgem na passagem da adolescência para a vida adulta. Já o autismo geralmente é diagnosticado na infância e costuma afetar a comunicação, a capacidade de aprendizado e adaptação da criança. 

Até então, tudo o que existe são suposições sobre suas origens. Pesquisadores alegam que a predisposição genética, as mudanças químicas do cérebro, possíveis infecções durante a gravidez e influências do meio ambiente podem estimular o desenvolvimento desses distúrbios. Por se tratarem de condições crônicas, saber o que de fato as causa poderia ajudar na prevenção e tratamento.

Acerca do autismo, a explicação mais aceita para definir sua causa é algum tipo de mutação nas proteínas neuroliginas e neurexinas, cuja interação – que ocorre nas sinapses – é crucial para o equilíbrio entre os sinais excitatórios e inibitórios que trafegam entre os neurônios. Alterações nestas proteínas poderiam gerar desequilíbrio entre as funções antagônicas e afetariam o aprendizado, linguagem, capacidade social e memória, principais sintomas do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Quanto à esquizofrenia, sabe-se da importância dos fatores hereditários, como familiares que já manifestaram a doença, e dos fatores ambientais, referentes a complicações da gravidez e do parto, condições socioeconômicas desfavoráveis e o uso de drogas psicoativas ou psicotrópicas. Além disso, o que se sabe sobre sua causa é: pacientes com o distúrbio tendem a ter diferenças nas substâncias químicas do cérebro chamadas neurotransmissores, como a dopamina e o glutamato. Eles são responsáveis por controlar a comunicação cerebral e, naqueles que sofrem com a condição, costumam ser ou muito ativos ou não suficientemente ativos. 

Além das condições acima, diversas outras patologias muito comuns ainda não possuem explicações definitivas. Este é o caso da endometriose, que até o momento acredita-se possuir origem multifatorial, mas as hipóteses ainda precisam ser validadas por estudos mais elaborados. De qualquer forma, chegar à causa concreta de qualquer doença é um pilar essencial para alcançar o tratamento mais efetivo da enfermidade e até a uma possível cura. 

4 – Síndrome de Morgellons

A doença – ou síndrome – de Morgellons trata-se de uma condição dermatológica de caráter contraditório, inexplicada e sem consenso científico. Entre as manifestações mais comuns da doença estão feridas pelo corpo, sensações de ter algo rastejando sobre e sob a pele, formigamento, erupções cutâneas, filamentos de fibras – de origem e caráter desconhecido – a emergir pelas feridas, além de fadiga extrema, dores musculares e articulares, queda de cabelo e dentes, entre outros.

A condição não é comum e a etiologia da doença ainda não está explicada, bem como não é sabido se a doença é uma infecção parasitária ou uma dermopatia desconhecida. Ainda, existem estudos que atestam que os pacientes que possuem a síndrome estão sob influência de alguma psicose ou transtorno delirante, ou seja, a condição seria psicológica. 

Por conta dessa suspeita, algumas hipóteses sobre o surgimento dessas fibras na pele afirmam que estas são apenas resquícios de roupas ou de alimentos que permanecem na ferida, enquanto outras teorias afirmam que as fibras resultam de um processo infeccioso nas células cutâneas.

Além disso, investigadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) notaram a semelhança entre certos sinais da síndrome de Morgellons aos de doenças mentais, envolvidas por falsas crenças acerca da infestação por parasitas, apoiando certas suspeitas relacionando a síndrome a um delírio coletivo.

Como até o momento não há etiologia definida, então não existe protocolo correto para diagnosticar e tratar a doença, que segue muito controversa, necessitando de muito mais estudos. Porém, os sintomas são reais e incômodos para os pacientes e precisam ser tratados. Até então, mesmo não havendo consenso se a doença se enquadra em psicológica, dermatológica ou infecciosa, é recomendado realizar os exames possíveis para investigação, embora os testes para detectar alguma infecção por bactérias ou parasitas geralmente acabem negativos. Além disso, direcionar o paciente para tratamento que envolva outras condições, como saúde mental, pode ajudar. 

5 – Hepatite de causa desconhecida 

Recentemente, pelo menos mil crianças em 35 países do mundo foram diagnosticadas com hepatite sem etiologia conhecida. A maioria dos pacientes possui menos de cinco anos de idade e alguns necessitaram de um transplante de fígado para conter a doença. No Brasil, dezenas de casos suspeitos foram investigados pelo Ministério da Saúde e, até o momento, são sete mortes confirmadas por conta dessa patologia.

O que mais espanta os especialistas é que nessa hepatite misteriosa, embora se assemelhe à doença tradicional em sintomas, aparentemente não são identificados os vírus da hepatite viral aguda (A, B, C, D e E) nos casos diagnosticados, mas sim a presença dos vírus adenovírus F tipo 41 e o SARS-CoV-2. 

Ainda, a doença se manifesta de maneira aguda, ou seja, causa inflamação hepática abrupta, principalmente em crianças, com alta letalidade e sintomas graves. Além disso, a doença não possui explicação etiológica até o momento, preocupando a classe médica, que não sabe se o transplante se faz necessário.  

Diversos estudos estão sendo realizados no momento. Recentemente, a descoberta mais interessante foi a realizada na Inglaterra e Escócia, que pode explicar porque alguns pacientes desenvolveram complicações hepáticas incomuns e preocupantes. A pesquisa aponta que bebês expostos ao mundo externo mais tarde do que o normal por conta das restrições da pandemia perderam níveis de imunidade precoce a alguns vírus. São eles o adenovírus, responsável por resfriados e dores de estômago, e o vírus adeno-associado dois (AAV2), que se combinado a outro vírus pode causar doenças. 

Outras pesquisas estão sendo realizadas para se chegar a um veredito nesta doença misteriosa, porém, os cientistas já descartaram qualquer conexão com vacinas contra a Covid-19 ou própria infecção pelo vírus. Além disso, os casos aparentam estar diminuindo, mas os especialistas ainda se mantêm em alerta para novos quadros.

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Além disso, demonstrar o seu conhecimento sobre a publicação e o interesse em fazer mais são aspectos importantes, tanto tendo como inspiração algum dos mistérios médicos dispostos acima quanto alguma área ou caso que você possua interesse em entender melhor. Alguns dos pedidos mais frequentes na etapa de entrevista nos seletivos são: 

  • Se você tem um trabalho interessante no currículo, conte um pouco sobre ele; e
  • Se você fez monitoria ou iniciação científica, fale um pouco sobre elas.

Então, não descarte de cara a possibilidade de ingressar na carreira de pesquisador e garanta pontos extras nos processos seletivos!

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