O perigo do uso de formol em alisantes capilares

O perigo do uso de formol em alisantes capilares

Desde 17 de junho de 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso de formol em alisantes capilares. Ainda assim, no ano de 2021, na cidade de Ferraz de Vasconcelos, em São Paulo, uma garota de 9 anos passou 21 dias internada após ser acometida pela progressiva com formol, como é popularmente chamada.

O Estratégia MED está aqui para explicar da melhor forma possível quais são os riscos que a substância traz à saúde, além de elucidar qual é o seu propósito e o porquê da proibição de seu uso entre o ramo de cosméticos. 

O que é Formol?

O Metanal, formaldeído, formalina ou formol, como é popularmente conhecido, nada mais é do que o menor aldeído – composto orgânico caracterizado pela presença do grupo carbonila ligado a um hidrogênio – que existe atualmente, sua fórmula molecular é: H2CO

Mas, fique atento! Só chamamos o Formol por esse nome, quando o composto orgânico (Metanal) tem sua solução gasosa dissolvida em água a 45%.

Essa substância é altamente tóxica, além de ser muito inflamável. Dessa forma, ela consegue se juntar com facilidade a outros compostos orgânicos, o que gera outros poluentes e produtos químicos.

O Formol está presente nos mais diversos produtos usados no dia a dia, como em adesivos, carpetes, cigarros, conservantes, cosméticos, desinfetantes, espelhos, explosivos, isolantes elétricos, resinas sintéticas, tintas, plásticos, vidros, materiais de construção, móveis, entre outros. Há uma lista gigante de materiais que possuem essa substância, porém nosso foco aqui é em cosméticos, mais precisamente naqueles usados em cabelos, como os produtos de alisamento capilar. Continue no texto para entender melhor a problemática do uso de formol na indústria da beleza.

Formol em produtos capilares

Antes de tudo, precisamos entender como o formol age nos alisantes capilares, já que essa substância faz com que a estrutura química capilar seja modificada. O professor do Estratégia MED e dermatologista, Bruno Souza, explica que o formol em si não alisa o cabelo, é necessário que ele seja aquecido, para a  substância se polimerizar: “é como se ele virasse um plástico”, explica o professor. 

Ou seja, o formol aquecido, ligado às proteínas da cutícula e aos aminoácidos hidrolisados da solução de queratina, faz com que o fio fique “plastificado”, tornando-o impermeável (não sendo possível nutrir o cabelo), rígido, frágil e liso. 

Consequência do uso do formol

O formaldeído é uma substância com elevado nível de toxicidade, uma vez que ele é facilmente absorvido pelo trato gastrointestinal, resp iratório e metabólico. Além do seu uso ter sido proibido pela Anvisa (apenas 0,2% é liberado), em 2009, o Formol também foi considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, uma substância cancerígena, relacionada com o aparecimento de tumores na boca, na faringe, na laringe, no nariz e na traqueia. 

Dito isso, são inúmeras as consequências que essa substância pode causar no corpo humano. Vamos a algumas delas:

  • Ao entrar em contato com a pele: coceira, descamação, dor, irritação, vermelhidão e queimaduras.
  • Ao entrar em contato com os olhos: dor, irritação, vermelhidão, lacrimejamento, visão embaçada e até mesmo danos irreversíveis, quando o contato se dá em grande proporção.
  • Ao ser inalado: dor de cabeça, dor de garganta, enjoo, irritação no nariz, falta de ar, irritação e sensibilização do trato respiratório. Fora isso, em casos mais graves pode-se encontrar ferimentos mais atenuados nas vias respiratórias, podendo levar a um ao edema pulmonar ou pneumonia.
  • Ao ser aplicado como alisante capilar: pode causar queda e quebra do cabelo, dependendo da concentração do produto.
  • Contato Crônico: se o indivíduo está em repetida exposição ao formol, pode-se ter, como consequência, fragilidade da visão, reação alérgica e aumento do fígado. Em casos mais graves, pode levar ao câncer no sistema respiratório e leucemia.

Caso o paciente comece a sentir um desses sintomas, o professor do Estratégia MED alerta: “O uso do produto deve ser interrompido imediatamente. Em seguida, é necessário procurar um hospital para que o especialista investigue se está ocorrendo uma reação alérgica mais grave. Não é recomendado nenhum tipo de automedicação, já que não se sabe que tipo de reação que o paciente está sofrendo”.

Além desses casos, é de extrema importância lembrar que o uso de alisantes em crianças, mulheres grávidas ou em lactantes é estritamente proibido, já que ainda não foram descobertos, por meio de estudos, todos os riscos que podem ser causados a esse público.

Devido a essas consequências, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) já alegou que o uso do formol em procedimentos capilares é uma questão de Saúde Pública, uma vez que a população está inserida nesse mundo de alisamento capilar e utilização de produtos químicos para alterar a forma do cabelo. Por isso, os especialistas alertam que é essencial que as pessoas saibam os riscos que correm ao passar por essas técnicas de alisamento.

Como se prevenir das consequências do formol?

É importante ressaltar que diversos estabelecimentos que oferecem o serviço de alisamento capilar tentam enganar o cliente, utilizando os mais diversos nomes, para as pessoas pensarem que não há formol no produto utilizado. Então, não se engane, porque procedimentos como botox capilar, escova russa, escova marroquina, escova egípcia, escova de chocolate, selagem e blindagem possuem, em sua fórmula, formol ou derivados. Por isso, preste muita atenção nos sintomas que descrevemos acima quando estiver em contato com esses alisantes. O formol possui um cheiro bem forte e específico, por isso, leia os rótulos e pesquise sobre o produto que está sendo usado. 

Para te ajudar nessa prevenção, a SBD separou algumas das substâncias que são utilizadas em alisantes capilares e apontou qual é a sua situação diante da Anvisa. Confira os detalhes na tabela abaixo:

SubstânciaNome que consta no rótuloSituação na Anvisa
Ácido Tioglicólico, seus Sais e Ésteresp. ex. Thioglycolic AcidLiberada
Hidróxido de Cálcio + Sal de GuanidinaCalcium Hydroxide + Guanidine CarbonateLiberada
Hidróxido de Sódio, Potássio ou LítioSodium Hydroxide; Potassium Hydroxide; Lithium HydroxideLiberada
Sulfitos e Bissulfitos InorgânicosPotassium Sulfite; Sodium BissulfiteLiberada
Cisteamina HCLCysteamine HCLAntes permitida, agora em análise
Cisteína HCLCysteine HCLAntes permitida, agora em análise
Glioxiloil de Aminoácidos da Queratina e CarbocisteínaGlyoxyloyl Carbocysteine + Glyoxyloyl Keratin AminoacidsAntes permitida, agora em análise
Ácido GlioxílicoGlyoxylic AcidEm análise
Glioxiloil de Proteína de Trigo Hidrolisada e SericinaGlyoxyloyl Hydrolyzed Wheat Protein/SericinEm análise
PirogalolPyrogallolEm análise como alisante, liberada como corante de oxidação para cabelos
FormolFormaldehydeProibido
GlutaraldeídoGluratalProibido
Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia, 2019

O professor Bruno Souza explica que essas primeiras substâncias são liberadas, primeiro, porque há estudos que comprovam a inexistência de danos a longo prazo, além de elas não serem substâncias cancerígenas.

“O mecanismo de ação dessas substâncias é diferente, elas não fazem essa plastificação do cabelo, o que elas fazem, principalmente o Ácido Tioglicólico e os Hidróxidos, é quebrar algumas estruturas que temos nos fios, chamamos de pontes de sulfeto – responsáveis por manter a estrutura do cabelo. Esses alisantes entram na camada mais externa, a cutícula, e atingem a parte mais interna, o córtex, em seguida, quebram essas pontes, tornando o fio mais maleável, o que nos possibilita moldá-lo na maneira desejada. Após esse processo, é utilizado um shampoo ácido para fechar a cutícula, mantendo o cabelo daquele formato”.

Por fim, mesmo que esses alisantes não sejam tão prejudiciais à saúde e ao cabelo, como o formol, especialistas, como o professor Bruno Souza, não aconselham nenhum método de modificação do cabelo, inclusive os meios por fonte de calor, uma vez que eles enfraquecem o fio e podem causar danos irreversíveis. Mas, nosso professor EMED explica:

“Não há como falarmos de alisamento capilar e não associarmos ao padrão de beleza, o que é imposto pela sociedade. Felizmente, isso vem mudando, muitos dos meus pacientes vem com o novo padrão de cabelo, o natural, e eu os encorajo nesse processo”.

E então, você já sabia quais eram os riscos trazidos pelo Formol em alisantes capilares? No blog do Estratégia MED você encontra artigos como esse, que abordam os diversos temas da área da saúde e suas atualidades, além de textos que falam sobre as Residências Médicas, o Revalida e os conteúdos técnicos. Não perca mais tempo, vem ser coruja e fique cada vez mais próximo de sua tão sonhada aprovação!

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