Olá, querido doutor e doutora! As infecções cutâneas bacterianas representam uma causa frequente de atendimentos em unidades de atenção primária, especialmente em populações vulneráveis como crianças e idosos. A seguir, será descrito o caso de um paciente pediátrico com quadro típico de ectima.
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Informações do paciente
J.M.S, 9 anos, foi levado à consulta pela mãe devido a lesões dolorosas na perna direita, com início há cerca de 5 dias.
Histórico da moléstia atual
A mãe relata que as lesões começaram como pequenas bolhas avermelhadas na panturrilha, que evoluíram rapidamente para pústulas e, após a ruptura, formaram crostas espessas de coloração amarelada. J.M.S se queixa de dor local intensa, mas não apresenta febre ou sintomas sistêmicos. Refere prurido leve antes da formação das crostas. A família tentou limpar com sabão e água, mas as crostas permanecem aderidas.
História patológica pregressa
Paciente previamente hígido, sem histórico de doenças crônicas. Nega alergias medicamentosas. Nunca foi submetido a cirurgias.
Histórico familiar
Não há casos semelhantes na família. A mãe menciona que um primo teve “feridas parecidas” após coceiras na escola, mas não sabe o diagnóstico.
Histórico social
J.M.S vive com os pais e dois irmãos em uma área periurbana. Frequenta escola pública. A mãe refere que costuma brincar descalço no quintal, que tem terra batida. Alimentação referida como regular. Dorme bem e pratica atividades físicas ao ar livre.
Exame físico
Paciente em bom estado geral, afebril, hidratado e com sinais vitais dentro da normalidade. Em membro inferior direito, observa-se lesão única localizada na região anterior da perna, com cerca de 2 cm de diâmetro, apresentando crosta espessa de coloração castanho-amarelada central, bordas eritematosas e halo violáceo ao redor da lesão. Há hiperpigmentação residual de outras áreas previamente acometidas. A lesão é dolorosa à palpação, sem sinais de flutuação ou secreção ativa. Linfonodos inguinais palpáveis à direita, discretamente aumentados e dolorosos.
Exames complementares
Exames laboratoriais
- Leucocitose leve com predomínio de neutrófilos;
- PCR elevado;
- Eletrólitos, ureia e creatinina dentro dos limites da normalidade.
Exames de imagem
Ultrassonografia da panturrilha evidenciou espessamento da derme com pequeno halo inflamatório ao redor das lesões; sem abscessos ou flegmão.
Hipótese diagnóstica
O quadro clínico de lesões ulceradas cobertas por crostas espessas e aderentes, associadas à dor local e linfadenopatia regional, sugere ectima. A evolução das lesões, distribuição em membros inferiores, ausência de sinais sistêmicos e o exame físico corroboram essa hipótese. O diagnóstico é reforçado pela presença de fatores predisponentes como exposição a solo contaminado e possível coceira prévia.
Condutas
Iniciado tratamento empírico com cefalexina 25 mg/kg/dia dividida em 4 doses por 7 dias, visando cobertura para estafilococos e estreptococos. Orientada higiene local com água e sabão 3 vezes ao dia, com remoção cuidadosa das crostas. Associado ibuprofeno para controle da dor. Solicitado retorno em 7 dias para reavaliação. Orientada lavagem frequente das mãos e evitar coçar ou tocar as lesões. Caso a cultura revele MRSA, planeja-se substituição para sulfametoxazol-trimetoprim. Educação dos responsáveis quanto à prevenção de reinfecção e sinais de alarme para retorno imediato.
Perguntas
- Quais os agentes bacterianos mais frequentemente associados ao ectima?
Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus são os principais microrganismos envolvidos.
- Quais são as principais características clínicas do ectima?
Lesões ulceradas dolorosas com crostas espessas amareladas ou acinzentadas, localizadas principalmente nos membros inferiores, com evolução de vesículas para pústulas e ulceração.
- Quando devemos considerar a internação hospitalar para um paciente com ectima?
Em geral, não há necessidade de internação. Deve ser considerada apenas em casos com sinais sistêmicos graves, falha terapêutica, imunossupressão importante ou complicações como celulite extensa, sepse ou fasceíte necrotizante.
Resumo de ectima
Definição
Ectima é uma infecção bacteriana cutânea que compromete a derme superficial e média, frequentemente descrita como uma forma mais profunda do impetigo. A doença se manifesta por lesões ulceradas, dolorosas e cobertas por crostas espessas, aderentes e de coloração amarelada a acinzentada. Ao cicatrizarem, deixam marcas atróficas e hiperpigmentadas.
Transmissão
A infecção é transmitida por contato direto com lesões de pele infectadas ou indiretamente por fômites como toalhas, roupas e brinquedos contaminados. Indivíduos podem se reinfectar a partir de focos de colonização bacteriana, principalmente na cavidade nasal. A integridade da pele é um fator determinante: abrasões, picadas ou outras dermatoses facilitam a penetração dos patógenos.
Epidemiologia e fatores de risco
O ectima acomete preferencialmente crianças e idosos, especialmente em contextos de higiene precária ou comorbidades que comprometem a barreira cutânea. Não há predileção por sexo. Fatores de risco incluem:
- Má higiene pessoal;
- Presença de outras lesões cutâneas ou doenças dermatológicas;
- Imunossupressão (ex: diabetes, desnutrição, uso de corticosteroides);
- Condições socioeconômicas precárias;
- Ambientes coletivos (creches, escolas, instituições de longa permanência).
Sintomas
Clinicamente, o ectima inicia-se com pequenas vesículas ou pústulas, frequentemente rodeadas por halo eritematoso, que evoluem para úlceras profundas. A superfície das lesões é recoberta por crostas espessas e secas, de cor amarelada ou cinza. As bordas são endurecidas e de coloração violácea. As lesões são dolorosas e podem causar linfadenopatia regional. Quando resolvem, deixam cicatrizes visíveis. Os membros inferiores são os locais mais acometidos.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico na maioria dos casos, baseado na história e nas características típicas das lesões. Exames complementares ajudam na confirmação etiológica e na exclusão de complicações:
- Cultura e coloração de Gram do exsudato;
- Hemograma, PCR e VHS (para avaliar inflamação);
- Ureia e creatinina em casos graves (para rastreio de complicações como glomerulonefrite);
- Ultrassonografia da área afetada, quando há suspeita de envolvimento mais profundo ou abscessos.
Tratamento
A base do tratamento é a antibioticoterapia oral, com cobertura para Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus. Opções incluem:
- Cefalexina ou macrolídeos (como eritromicina e claritromicina) por 7 dias.
- Em suspeita ou confirmação de MRSA, utiliza-se sulfametoxazol-trimetoprim ou doxiciclina (para maiores de 8 anos).
- Quando a cultura isola apenas estreptococos, o uso de penicilina V ou penicilina benzatina é suficiente.
Além do antibiótico, recomenda-se:
- Higiene local com lavagem suave das lesões (2-3 vezes ao dia);
- Analgésicos e anti-inflamatórios, como ibuprofeno ou dipirona, para controle da dor;
- Orientações de prevenção de reinfecção e disseminação.
A evolução costuma ser favorável com o tratamento adequado, e internação é rara, indicada apenas em casos de complicações graves.
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Referências Bibliográficas
- DAVIS, Loretta S. Ecthyma. Medscape, 2024. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/1052279-print.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Ectima. SBD, 2025. Disponível em: https://www.sbd.org.br/.