Caso clínico de Eritroblastose Fetal: diagnóstico, tratamento e mais!

Caso clínico de Eritroblastose Fetal: diagnóstico, tratamento e mais!

E aí, doc! Vamos ver um caso clínico? O tema de hoje é Eritroblastose Fetal — também conhecida como Doença Hemolítica do Recém-nascido, uma condição em que a mãe produz antígenos que levam à destruição das hemácias do feto e pode ser fatal.

O Estratégia MED vai te ajudar a entender mais uma condição clínica, que com certeza vai auxiliar nos seus conhecimentos para ser um profissional melhor. Vamos lá!

  • Identificação do Paciente: LAR, sexo feminino, 3 dias de vida.

Queixa Principal (QP): 

Pele amarela há 3 dias.

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Histórico da Moléstia Atual (HMA): 

No terceiro dia de vida, a genitora percebeu que a pele da recém-nascida estava tomando uma coloração amarelada e a palidez chamou sua atenção. Inicialmente, pensando ser algo comum em recém-nascidos, ela procurou observar a evolução ao longo do dia. 

Contudo, a coloração amarelada intensificou-se e a palidez tornou-se mais evidente. Não houve febre ou alterações na frequência cardíaca ou respiratória. A eliminação de mecônio foi observada no primeiro dia de vida. A urina apresentava uma coloração amarelada intensa.

Antecedentes Obstétricos:

Mãe G2P1A0. Gestação anterior sem complicações. Nessa gestação, iniciou o pré-natal regular durante a atual gravidez, na qual foi identificada uma incompatibilidade do fator Rh (mãe Rh negativo, pai Rh positivo). 

História Familiar (HF):

Não há relatos de doenças hemolíticas na família.

Exame físico

Peso3.275 g
Estatura49 cm
IMC13,5 (z: 0/+1)
FC146 bpm 
FR48 ipm  

Gerais: Bom estado geral, alerta e responsivo, ictérico 3+/4, afebril.

Pele: Icterícia evidente, com coloração amarelada em mucosas e pele. Ausência de petéquias, equimoses ou outras lesões cutâneas aparentes.

Cardiovascular: Bulhas rítmicas, normofonéticas, em 2 tempos. Sem murmúrios ou sopros cardíacos audíveis.

Respiratório: Frequência respiratória dentro dos limites normais. A ausculta pulmonar revela sons respiratórios claros e bilaterais.

Abdominal: Abdome globoso, sem cicatrizes ou lesões, com esplenomegalia, fígado palpável, mas sem sinais de hepatomegalia.

Neurológico: Tônus muscular adequado. Reflexos normais para a idade gestacional. Não há sinais de distúrbios neurológicos evidentes.

Geniturinário: Eliminação de mecônio no primeiro dia. Fraldas apresentam manchas de urina com coloração intensa.

Exames complementares

Teste de Coombs indireto da mãe: 1:16;

Tipagem sanguínea e fator Rh: Mãe – Rh negativo; Feto – Rh positivo;

Hemograma completo: Hemoglobina 8,5 g/dL e hematócrito 20%;

Bilirrubina Total e frações: 7 mg/dL, sendo:

Contagem de reticulócitos: 6%;

Teste de Coombs direto do feto: Positivo.

Hipóteses diagnósticas

  • Eritroblastose Fetal: a eritroblastose fetal ocorre quando há incompatibilidade do fator Rh entre a mãe (Rh negativo) e o feto (Rh positivo), levando a uma resposta imunológica materna contra os glóbulos vermelhos do feto. Isso pode resultar em hemólise fetal, anemia grave e icterícia neonatal. 
  • Hipotireoidismo Congênito: o hipotireoidismo congênito é caracterizado por uma produção insuficiente de hormônios tireoidianos desde o nascimento. Pode manifestar-se com icterícia, hipotonia, letargia e dificuldades na alimentação.
  • Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD): a deficiência de G6PD é uma condição genética que afeta a enzima responsável pela proteção das células sanguíneas contra o estresse oxidativo. Isso pode resultar em hemólise em situações de estresse, levando a icterícia neonatal.
  • Hemorragia Fetal: A hemorragia fetal refere-se ao sangramento que ocorre durante a vida intrauterina, podendo causar anemia no feto. Os sintomas incluem palidez, icterícia e esplenomegalia no recém-nascido.
  • Hemoglobinopatias: As hemoglobinopatias são distúrbios genéticos que afetam a estrutura ou produção de hemoglobina. Sintomas incluem anemia, icterícia e complicações específicas do tipo de hemoglobinopatia (como anemia falciforme ou talassemias). 

Definição de Eritroblastose Fetal

A eritroblastose fetal, também conhecida como Doença Hemolítica do Recém-nascido ou doença hemolítica do feto e do recém-nascido (HDFN), é uma condição na qual a mãe produz anticorpos contra antígenos presentes nas hemácias do feto, resultando em destruição das hemácias fetais. 

Isso pode levar a anemia grave, icterícia, e em casos mais graves, pode resultar em insuficiência cardíaca fetal, hidropsia fetal e até mesmo morte fetal.

Durante a gravidez, se a mãe for sensibilizada a um antígeno presente nas hemácias do feto, seja por uma gravidez anterior, transfusão de sangue ou outras causas, ela pode produzir anticorpos contra esse antígeno. 

Se o feto herdar o antígeno sensibilizante do pai, as hemácias fetais serão atacadas pelos anticorpos maternos, levando à destruição das mesmas.

Diagnóstico de Eritroblastose Fetal

O diagnóstico da eritroblastose fetal, também conhecida como doença hemolítica do recém-nascido, envolve uma abordagem clínica e laboratorial abrangente. 

O diagnóstico pré-natal é realizado durante a gestação e tem como objetivo identificar a presença de anticorpos maternos contra os antígenos do feto. 

O teste de Coombs indireto é um exame de sangue materno que detecta a presença desses anticorpos. Se o resultado for positivo, indica que a mãe está sensibilizada e pode transmitir anticorpos para o feto, causando a eritroblastose fetal.

Outra técnica de diagnóstico pré-natal é a amniocentese, que consiste na coleta de líquido amniótico para análise do DNA fetal e determinação do tipo sanguíneo. Esse exame é mais invasivo e apresenta riscos para a mãe e o feto, por isso é realizado apenas em casos específicos.

Já o diagnóstico pós-natal é realizado após o nascimento do bebê. O teste de Coombs direto é um exame de sangue do recém-nascido que detecta a presença de anticorpos maternos no sangue do bebê. Se o resultado for positivo, indica que o bebê está com eritroblastose fetal.

Também pode ser feita uma análise do sangue do cordão umbilical para determinação do tipo sanguíneo. Esse exame é menos invasivo e pode ser realizado logo após o nascimento do bebê.

É importante ressaltar que o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento adequado da eritroblastose fetal e prevenção de complicações graves. Por isso, é recomendado que as gestantes realizem o pré-natal regularmente e sigam as orientações médicas.

Tratamento da Eritroblastose Fetal

O tratamento da eritroblastose fetal depende da gravidade da doença e do estágio em que ela foi diagnosticada. O objetivo principal é evitar a destruição dos glóbulos vermelhos do feto e prevenir complicações graves, como a anemia fetal, icterícia e danos neurológicos.

Para o feto, o tratamento pode ser realizado através de transfusões de sangue intrauterinas. Esse procedimento consiste na transfusão de sangue doado diretamente para o feto, através do cordão umbilical. 

A transfusão é realizada sob anestesia geral e monitoramento constante do feto. Esse tratamento pode ser repetido várias vezes durante a gestação, dependendo da gravidade da doença.

Outra opção de tratamento para o feto é a realização de uma cirurgia intrauterina, chamada de transfusão fetoscópica. Esse procedimento consiste na inserção de uma agulha no abdômen da mãe e no abdômen do feto, para realizar a transfusão de sangue diretamente na veia umbilical do feto. Esse tratamento é mais invasivo e apresenta mais riscos para a mãe e o feto, por isso é realizado apenas em casos específicos.

Para a mãe, o tratamento consiste na administração de imunoglobulina anti-D, que é uma proteína que neutraliza os anticorpos Rh positivos presentes no sangue do feto. Isso é realizado durante a gestação e após o parto, para prevenir a sensibilização da mãe e evitar a ocorrência de eritroblastose fetal em gestações futuras.

Além disso, é importante que a mãe receba acompanhamento médico regular durante a gestação, para monitorar a saúde do feto e prevenir complicações. Em casos mais graves, pode ser necessário realizar o parto prematuro ou uma cesariana para evitar danos ao feto.

De olho na prova!

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Na assistência à gestante Rh negativa, qual a conduta CORRETA?

A) Realizamos Doppler da artéria cerebral média para acompanhar a anemia fetal nas gestantes que apresentam pesquisa de anticorpos antieritrocitários negativa.

B) Recomendamos, inicialmente, a pesquisa da tipagem sanguínea do progenitor e de anticorpos antieritrocitários no plasma materno, em todos os trimestres da gestação.

C) Indicamos imunoprofilaxia anti-Rh ao redor de 28 semanas e após o parto, quando o progenitor for Rh positivo.

D) Realizamos imunoprofilaxia anti-Rh logo após o parto em gestantes que apresentam pesquisa de anticorpos antieritrocitários positiva, cujo recém-nascido seja Rh positivo.

Opção correta: Alternativa “B”

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Referências:

LÍBINI SUELEN BIAL DA SILVA PACHE. Eritroblastose Fetal: Técnicas de Diagnóstico e Tratamento para a Mãe e o Feto. Campo Grande, 2017.

Anais da Academia de Ciência e Tecnologia de São José do Rio Preto, 2007:1(1). Santana, D. Doença Hemolítica do Recém Nascido (Eritroblastose Fetal).

Management of non-RhD red blood cell alloantibodies in pregnancy. In UpToDate, 2023. 

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