Caso Clínico da Síndrome de Mallory-Weiss: abordagem e mais!

Caso Clínico da Síndrome de Mallory-Weiss: abordagem e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Este caso clínico aborda a síndrome de Mallory-Weiss, uma causa de hemorragia digestiva alta relacionada a lacerações na junção gastroesofágica, frequentemente associada a vômitos intensos. O objetivo é ilustrar a apresentação clínica, os achados ao exame físico, os exames diagnósticos e as condutas recomendadas.

Informações do paciente 

  1. Nome: Marcelo Ferreira.
  1. Idade: 42 anos.
  1. Motivo de consulta: “Comecei a vomitar sangue depois de uma noite com muita bebida.”.

Histórico da moléstia atual  

Características do vômito 

  • Início: há aproximadamente 6 horas;
  • Intensidade: moderada;
  • Característica: episódios de hematêmese (vômitos com sangue vivo), associados a náuseas intensas;
  • Frequência: três episódios nas últimas horas;
  • Duração: cada episódio durou cerca de 1 a 2 minutos;
  • Fator desencadeante: ingestão exagerada de álcool;
  • Fator de melhora: repouso em posição semi-sentada;
  • Fator de piora: ingestão de líquidos e alimentos;
  • Quadro prévio: nega episódios semelhantes anteriores;
  • Outros sintomas: melena leve, sensação de tontura e sudorese fria.

História patológica pregressa  

  1. Doença de base: hipertensão arterial sistêmica, mal controlada;
  1. Uso de medicamentos contínuos: hidroclorotiazida 25 mg/dia (uso irregular);
  1. Alergias: nega;
  1. Cirurgias e hospitalizações prévias: apendicectomia aos 19 anos.

Histórico familiar  

Pai com histórico de sangramento digestivo por úlcera gástrica; mãe hipertensa.

Histórico social 

  1. Etilismo: consumo frequente de bebidas alcoólicas, com padrão de binge drinking nos fins de semana;
  1. Tabagismo: sim, 1 maço/dia há 20 anos;
  1. Alimentação: rica em alimentos gordurosos e ultraprocessados; refeições irregulares;
  1. Sono: sono agitado, cerca de 5 horas/noite;
  1. Atividade física: inativa;
  1. Trabalho: motorista de aplicativo, trabalha em média 12 horas por dia.

Exame físico 

Sinais vitais

  • PA: 90/60 mmHg;
  • FC: 112 bpm;
  • FR: 20 irpm; 
  • Temp.: 36,5ºC; 
  • Saturação: 96% em ar ambiente.

Achados no exame físico

  • Palidez cutâneo-mucosa; 
  • Sudorese; 
  • Abdome plano, flácido, doloroso à palpação epigástrica; 
  • Sem sinais de irritação peritoneal; 
  • Sem visceromegalias.

Exames complementares

Exames laboratoriais 

  • Hemoglobina: 9,2 g/dL; 
  • Hematócrito: 28%; 
  • VCM: 78 fL; 
  • Reticulócitos: aumentados; 
  • Sódio: 138 mEq/L; 
  • Potássio: 3,6 mEq/L; 
  • Ureia e creatinina: dentro dos limites; 
  • TGO/TGP: discretamente elevadas; 
  • Coagulograma: normal; 
  • Gasometria arterial: alcalose metabólica leve; 
  • PCR: 2 mg/dL.

Endoscopia digestiva alta 

Laceração única, linear, na junção esôfago-gástrica com presença de coágulo aderido, sem sangramento ativo no momento.

Starpearls.

Hipótese diagnóstica  

Paciente masculino de 42 anos apresenta hematêmese após episódios de vômito intenso, ocorridos após ingestão exagerada de álcool. Relata também melena, tontura e dor epigástrica. Ao exame físico, nota-se palidez, hipotensão e taquicardia. A endoscopia revelou laceração na junção esôfago-gástrica. O conjunto clínico é compatível com síndrome de Mallory-Weiss.

Perguntas 

  1. Existe indicação de intervenção endoscópica para este paciente?  

Não imediatamente. Como a endoscopia digestiva mostrou uma laceração única com coágulo aderido e sem sangramento ativo, não há necessidade de intervenção endoscópica no momento. A maioria dos casos responde bem apenas ao tratamento de suporte. A intervenção seria indicada se houvesse sangramento persistente ou recorrente.

  1. Quais são os fatores de risco para recorrência do sangramento? 

Idade avançada, presença de comorbidades (como hipertensão mal controlada), consumo crônico de álcool e uso contínuo de anti-inflamatórios como AAS estão entre os principais fatores de risco para ressangramento precoce, que costuma ocorrer nas primeiras 24 horas após o evento inicial.

  1. Qual o tempo ideal de observação e seguimento após cessação do sangramento?

A internação deve ser mantida por pelo menos 48 horas após o controle do sangramento, devido ao risco de recorrência. O seguimento ambulatorial a longo prazo inclui nova avaliação endoscópica se indicado e o uso de inibidores da bomba de prótons por 6 a 12 semanas, além de orientações quanto à abstinência alcoólica.

Resumo da Síndrome de Mallory-Weiss

Definição 

A síndrome de Mallory-Weiss consiste em lacerações longitudinais da mucosa localizadas na transição entre o esôfago distal e o estômago proximal, resultantes de um aumento súbito da pressão intra-abdominal. Essas lesões costumam ocorrer após episódios de vômito vigoroso ou esforço abdominal intenso. 

O rompimento da mucosa leva à ocorrência de sangramento digestivo alto, manifestado por hematêmese. A lesão geralmente é superficial, restrita à mucosa, sem atingir camadas mais profundas da parede gastrointestinal.

Causas 

A causa mais comum da síndrome de Mallory-Weiss é o vômito repetido ou muito intenso, especialmente em pessoas que consomem álcool em excesso. O álcool atua como irritante gástrico e, além de causar vômitos, pode estar associado à presença de hipertensão portal, o que aumenta a chance de sangramentos. 

Outras situações que elevam a pressão intra-abdominal, como tosse intensa, soluços persistentes, convulsões, trabalho de parto ou manobras de Valsalva, também podem provocar a laceração da mucosa. A presença de hérnia hiatal é considerada por alguns autores como um fator predisponente. É mais comum em homens, especialmente entre os 30 e 50 anos, com um pico de incidência nessa faixa etária.

Sintomas 

O quadro clínico se manifesta principalmente por hematêmese, ou seja, vômito com sangue, que pode ser em grande volume e de aspecto vermelho vivo. O paciente pode relatar também melena, caracterizada por fezes escurecidas e com odor forte, indicando sangramento digestivo alto. Em casos mais intensos, surgem sinais de hipovolemia como hipotensão arterial, taquicardia e tontura. 

Outros sintomas incluem náuseas, epigastralgia (dor na parte superior do abdome), palidez e sudorese. O sangramento pode surgir logo após episódios de vômito ou náuseas intensas. A dor torácica ou retroesternal pode acompanhar o quadro, simulando condições cardíacas em alguns casos.

Diagnóstico 

O diagnóstico geralmente é suspeitado em pacientes que apresentaram vômitos intensos seguidos de hematêmese. A confirmação é feita por meio de endoscopia digestiva alta, exame que permite visualizar diretamente a mucosa do trato gastrointestinal. O achado típico é uma laceração única e longitudinal, localizada na junção esôfago-gástrica, que pode estar sangrando ativamente ou coberta por coágulo.

Além disso, exames laboratoriais como hemograma, eletrólitos, coagulograma e gasometria ajudam a avaliar a gravidade do sangramento e possíveis alterações secundárias aos vômitos. A gasometria pode revelar alcalose metabólica, e o hemograma costuma mostrar anemia aguda com aumento de reticulócitos. O raio-X de tórax pode ser solicitado para descartar outras causas de dor torácica.

Tratamento 

O tratamento inicial é de suporte, como em qualquer hemorragia digestiva alta, com hidratação venosa, controle hemodinâmico e jejum. A maioria dos pacientes apresenta resolução espontânea da lesão em até 48 horas com medidas conservadoras. Quando há sangramento ativo persistente, realiza-se tratamento endoscópico com injeção de adrenalina ou eletrocoagulação para promover hemostasia local. 

Casos refratários são raros, mas podem exigir intervenção cirúrgica. Após o controle do sangramento, é indicado o uso de inibidores de bomba de prótons (como omeprazol ou pantoprazol) por 6 a 12 semanas, para favorecer a cicatrização da mucosa. Todos os pacientes devem ser internados inicialmente, preferencialmente em unidade de terapia intensiva, com monitoramento pelas primeiras 48 horas. Após a alta, recomenda-se acompanhamento com gastroenterologista e, quando necessário, novas endoscopias.

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Referências Bibliográficas 

  1. RAWLA, Prashanth; DEVASAHAYAM, Joe. Mallory-Weiss Syndrome – StatPearls – NCBI Bookshelf. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025.
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