Quer saber o que é poliglobulia? O Estratégia MED separou para você as principais informações sobre o assunto.
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O que é poliglobulia?
A poliglobulia é um grupo de distúrbios que leva ao aumento dos valores de hemoglobina ou hematócrito. É essencial entender o tipo de poliglobulia e diagnosticar sua causa para poder tratá-la.
A poliglobulia é classificada da seguinte forma:
- Absoluta ou real: quando há aumento do volume de eritrócitos, mas sem alterações do volume plasmático.
- Relativa ou pseudopoliglobulia: quando a massa dos eritrócitos é normal, porém há queda no volume plasmático.
Por sua vez, a poliglobulia absoluta pode ser dividida em:
- Primária: na qual a atividade na medula óssea aumenta por fatores intrínsecos;
- Secundária: quando a atividade da medula óssea é elevada pelo aumento de produção de eritropoetina.
Quais os sintomas da poliglobulia?
Os sinais e sintomas da poliglobulia variam de acordo com as causas. Podemos citar alguns, como:
- Pletora facial;
- Prurido após banhos quentes;
- Esplenomegalia;
- Cefaléia;
- Dispnéia;
- Gota;
- Visão turva;
- Hemorragias; e
- Trombose.
É possível que a poliglobulia seja assintomática em algumas pessoas. Nesses casos, o diagnóstico é feito incidentalmente, quando o paciente faz um hemograma por algum outro motivo.
Quais as causas da poliglobulia?
Poliglobulia Primária
Em relação à poliglobulia absoluta primária, podemos citar causas congênitas e causas adquiridas. As causas congênitas são raras e levam à mutação do receptor de eritropoetina ou dos genes ligados à sensibilidade ao oxigênio, como o VHL, PHD2 e HIF2A.
Já as causas adquiridas ocorrem, geralmente, por mutação no gene JAK2, uma proteína que promove crescimento e proliferação celular. A principal causa adquirida é a policitemia vera.
Nessa doença, o aumento da massa eritróide é causado por transformação maligna clonal de uma célula-tronco da medula óssea. Uma única célula mutada já ganha enorme vantagem proliferativa em relação às demais. Na policitemia vera também há aumento de outros elementos associado à elevação de hemácias, como leucócitos e plaquetas.
É uma doença com maior incidência em idosos e afeta igualmente ambos os sexos. Os sintomas mais comuns da policitemia vera são cefaléia, dispnéia, visão turva, sudorese noturna, prurido após banho quente, pletora facial, hemorragia, trombose, gota e esplenomegalia.
A OMS atualizou os critérios diagnósticos dessa doença em 2016, de maneira que devem estar presentes três critérios maiores, ou dois maiores e um menor.
Os critérios maiores são:
- Hb maior que 16 g/dL ou hematócrito maior que 48% para mulheres, Hb maior que 16,5 g/dL ou hematócrito maior que 49% para homens, ou massa eritrocitária aumentada > 25% acima do valor normal previsto;
- Biópsia de medula óssea mostrando hipercelularidade para a faixa etária com panmielose, proliferação eritróide, granulocítica e megacariocítica com pleomorfismo e megacariócitos maduros; e
- Presença das mutações JAK2V617F ou JAK2 exon 12.
Há apenas um único critério menor, que são os níveis séricos baixos de eritropoetina.
O tratamento da policitemia vera busca manter o hematócrito e a contagem de plaquetas dentro dos valores de referência. Algumas das possibilidades terapêuticas são:
- Sangria terapêutica – bastante utilizada quando é necessária uma rápida redução do hematócrito, porém não é capaz de controlar a contagem de plaquetas. Esse método é mais indicado em pacientes jovens com doença leve;
- Hidroxicarbamida – indicada quando há intolerância a sangrias repetidas, esplenomegalia sintomática, trombocitose elevada, perda ponderal ou sudorese noturna. Os efeitos adversos são mielossupressão e náuseas, além de que pode ser tóxica para a pele;
- Inibidores de JAK2 – ruxolitinibe inibe a atividade da JAK2. Outras drogas também têm sido testadas, como lestaurtinibe e pacritinibe;
- Interferon – o IFN-α suprime a proliferação excessiva da medula óssea, porém causa muitos efeitos adversos; e
- Ácido acetilsalicílico – tem utilidade para prevenir a ocorrência de trombose, pois age como antiagregante plaquetário.
Poliglobulia Secundária
Já as poliglobulias secundárias também podem ser classificadas em congênitas ou adquiridas. As causas adquiridas envolvem o aumento da eritropoetina sérica, hormônio produzido pelos rins que é responsável por estimular a eritropoiese.
As causas adquiridas mais comuns são situações ou patologias que induzem hipóxia tecidual, tais como tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica, altitudes elevadas, entre outros. Já a secreção inapropriada de eritropoetina pode acontecer em nefropatias ou tumores renais, porém é uma causa bem mais rara.
Nessas situações, a causa base deve ser tratada. Além disso, é preciso fazer sangrias, caso o hematócrito esteja excessivamente elevado, e utilizar o ácido acetilsalicílico para evitar trombose.
A pseudopoliglobulia é mais comum que a policitemia vera. Resulta da contração do volume plasmático total, porém sem uma redução do volume de eritrócitos correspondente. Caso seja necessário diminuir o hematócrito, o médico pode indicar a realização de sangrias.
Diagnóstico diferencial
Para uma boa caracterização da patologia, é fundamental que o médico realize anamnese e exames físicos cuidadosos. Além disso, é preciso avaliar de forma criteriosa os exames solicitados, uma vez que algumas doenças podem ser confundidas com as poliglobulias descritas acima.
Trombocitemia essencial
Nessa doença, que também é um distúrbio mieloproliferativo, há elevação da contagem de plaquetas. Esse aumento é causado por hiperproliferação megacariocítica. Além disso, também pode acontecer mutação de JAK2, de modo que pode ser difícil distinguir essa patologia da policitemia vera.
Os critérios diagnósticos da trombocitemia essencial também foram atualizados pela OMS em 2016, de maneira que para fechar o diagnóstico é preciso preencher quatro critérios maiores, ou três maiores e o menor.
Os critérios maiores são:
- Contagem de plaquetas maior que 450 x 109/L;
- Biópsia de medula óssea que apresenta proliferação de megacariócitos com hiperlobularidade nuclear, ou seja, uma linhagem megacariocítica com aumento de número e de tamanho. Além disso, não pode ter aumento significativo ou desvio à esquerda na granulopoiese neutrofílica ou eritropoiese. Embora raro, também é possível apresentar um pequeno aumento na fibra reticulínica (grau 1);
- Ausência dos critérios da OMS para leucemia mieloide crônica com mutação BCR-ABL+, policitemia vera, mielofibrose primária, síndrome mielodisplásica ou outras neoplasias mielóides;
- Presença das mutações JAK2, CALR ou MPL.
O único critério menor é a presença de um marcador clonal ou ausência de evidência para trombocitose reativa.
Mielofibrose primária
Essa doença é uma fibrose progressiva e generalizada da medula óssea, que leva ao aumento da hematopoese no baço e no fígado. Pode causar anemia e promover uma grande esplenomegalia. Como a mielofibrose primária ocorre após uma hiperplasia megacariocítica, supõe-se que esses megacariócitos secretam fatores de crescimento e citocinas que estimulam os fibroblastos.
Seu diagnóstico é feito com a presença de todos os critérios maiores e pelo menos um critério menor estabelecidos pela OMS, em 2016. Os critérios maiores são:
- Proliferação e atipia megacariocítica, acompanhada por fibrose reticulínica e/ou fibrose colagênica graus 2 ou 3;
- Ausência dos critérios da OMS para leucemia mieloide crônica com mutação BCR-ABL+, policitemia vera, trombocitemia essencial e síndrome mielodisplásica;
- Presença das mutações JAK2, CALR ou MPL ou ausência destas mutações, presença de outro marcador clonal ou ausência de fibrose reativa.
Por sua vez, os critérios menores devem ser observados uma primeira vez e confirmados na sequência. São eles:
- Anemia não atribuída a uma condição de comorbidade;
- Leucocitose ≥ 11 X 109 /L;
- Esplenomegalia palpável;
- HDL acima do valor máximo de referência; e
- Presença de leucoeritroblastos.
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