Olá, querido doutor e doutora! A síndrome bradi-taqui representa uma forma particular de disfunção do nó sinusal, marcada pela alternância entre episódios de bradicardia e taquiarritmias supraventriculares. Essa condição é mais frequente em idosos e está associada a significativa morbidade clínica, sobretudo síncope, fadiga e palpitações recorrentes.
O reconhecimento precoce da síndrome permite reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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Conceito
A síndrome bradi-taqui, também chamada de síndrome bradicardia-taquicardia, é um distúrbio do ritmo cardíaco associado à doença do nó sinusal. Caracteriza-se pela alternância entre episódios de bradicardia sinusal significativa ou pausas prolongadas e períodos de taquiarritmias supraventriculares, como fibrilação atrial, flutter atrial ou taquicardia atrial.
O mecanismo central envolve a incapacidade do nó sinusal de retomar rapidamente o automatismo após a interrupção de uma taquicardia, resultando em pausas que podem causar sintomas como tontura, pré-síncope ou síncope. Trata-se, portanto, de uma entidade que expressa tanto a depressão do automatismo sinusal quanto a predisposição a arritmias rápidas, configurando um padrão clínico e eletrocardiográfico típico da disfunção do nó sinusal.
Etiologia e fisiopatologia
A síndrome bradi-taqui resulta, em grande parte, de alterações intrínsecas do nó sinusal, principalmente a substituição progressiva do tecido especializado por fibrose, processo intimamente ligado ao envelhecimento. Esse remodelamento atrial reduz a capacidade de geração e condução do impulso elétrico, levando a bradicardia sinusal, pausas ou bloqueio sinoatrial.
Além das causas intrínsecas, existem fatores extrínsecos que podem precipitar ou agravar o quadro, como:
- Fármacos: betabloqueadores, digoxina, antiarrítmicos das classes I e III;
- Distúrbios metabólicos: hipotireoidismo, hiperpotassemia, hipoxemia, hipotermia;
- Disfunções autonômicas: hipersensibilidade do seio carotídeo, síncope vasovagal cardioinibitória;
- Doenças infecciosas ou inflamatórias: como a cardiopatia chagásica.
Do ponto de vista fisiopatológico, o nó sinusal doente apresenta incapacidade de retomar o automatismo após uma taquicardia supraventricular, o que resulta em pausas prolongadas sem batimentos de escape ou com escapes juncionais muito tardios. Ao mesmo tempo, a própria bradicardia favorece a emergência de taquiarritmias supraventriculares, estabelecendo um ciclo patológico em que um distúrbio facilita o aparecimento do outro.
Epidemiologia
A síndrome bradi-taqui é mais frequentemente observada em idosos, refletindo o processo degenerativo natural do nó sinusal e do átrio adjacente. Estima-se que a doença do nó sinusal tenha uma incidência aproximada de 0,1% ao ano em indivíduos acima de 45 anos, e dentro desse grupo, até metade pode apresentar a forma bradi-taqui.
A prevalência tende a aumentar progressivamente com a idade, sendo rara em adultos jovens sem cardiopatia estrutural. Além do envelhecimento, a presença de fibrilação atrial duplica o risco de evolução para a síndrome, o que reforça a inter-relação entre ambas as condições.
Avaliação clínica
Sintomas relacionados à bradicardia
A fase de bradicardia pode gerar sintomas decorrentes da queda do débito cardíaco e da hipoperfusão cerebral. Os pacientes frequentemente relatam tontura, pré-síncope e síncope, além de fadiga, intolerância ao esforço e, em casos mais graves, sinais de insuficiência cardíaca. As pausas prolongadas após a interrupção de uma taquicardia são um dos principais gatilhos desses episódios.
Sintomas relacionados à taquicardia
Durante a fase taquicárdica, predominam queixas de palpitações rápidas e irregulares, acompanhadas por desconforto torácico ou dispneia. Em pacientes com coronariopatia, esses episódios podem precipitar angina ou até descompensar quadros de insuficiência cardíaca.
Caráter intermitente
Um aspecto marcante da síndrome é a alternância entre os extremos de frequência cardíaca, o que gera manifestações clínicas variáveis, muitas vezes de difícil correlação inicial com o eletrocardiograma. Não raro, os pacientes descrevem uma sensação de “coração acelerado” seguida de um “vazio” ou pausa súbita, culminando em sintomas vasovagais ou em perda transitória de consciência.
Diagnóstico
Eletrocardiograma (ECG)
O registro eletrocardiográfico é fundamental para identificar a síndrome. Muitas vezes, o traçado mostra taquicardia supraventricular que termina abruptamente, seguida por pausa sinusal ou bradicardia significativa. Em alguns casos, o ECG de repouso já é suficiente, mas na maioria é necessário monitorização contínua.
Monitorização prolongada (Holter e métodos similares)
O Holter de 24 a 48 horas aumenta a chance de registrar os episódios de alternância entre taquicardia e bradicardia. É particularmente útil em pacientes com sintomas intermitentes de síncope, pré-síncope ou palpitações, correlacionando queixas clínicas com os distúrbios do ritmo.
Testes eletrofisiológicos
Quando o diagnóstico não é esclarecido pelos métodos convencionais, podem ser realizados estudos eletrofisiológicos invasivos. Técnicas como estimulação atrial programada avaliam o tempo de recuperação do nó sinusal e ajudam a diferenciar a síndrome de outras causas de síncope ou bradiarritmia.
Diagnóstico diferencial
É importante distinguir a síndrome bradi-taqui de condições que cursam com bradicardia isolada, como hipotireoidismo, uso de fármacos cronotrópicos negativos ou distúrbios autonômicos. Além disso, deve-se excluir causas estruturais de síncope, como estenose aórtica ou miocardiopatia hipertrófica obstrutiva.
Tratamento
Marcapasso cardíaco
O implante de marcapasso definitivo é a estratégia mais indicada para pacientes sintomáticos. Ele previne as pausas prolongadas e mantém uma frequência mínima adequada, reduzindo episódios de síncope e pré-síncope. Os dispositivos mais usados são os de dupla câmara, que preservam a sincronização atrioventricular e oferecem melhor tolerância hemodinâmica.
Controle das taquiarritmias
O tratamento farmacológico das taquiarritmias deve ser realizado com cautela, já que antiarrítmicos podem agravar a disfunção sinusal. Em casos de fibrilação atrial recorrente, drogas como a amiodarona podem ser utilizadas, embora apresentem efeitos cronotrópicos negativos. Nos últimos anos, a ablação por radiofrequência ganhou espaço como alternativa para reduzir crises de fibrilação atrial em pacientes selecionados, diminuindo a ocorrência de pausas subsequentes.
Medidas adicionais
É necessário revisar o uso de medicamentos que possam estar contribuindo para a bradicardia, corrigir distúrbios metabólicos e tratar comorbidades como insuficiência cardíaca e hipertensão. A anticoagulação deve ser avaliada em pacientes com fibrilação atrial, utilizando escores de risco como CHA₂DS₂-VASc.
Prognóstico
O prognóstico da síndrome bradi-taqui costuma ser favorável em termos de mortalidade, mas está associado a elevada morbidade, já que síncopes, fadiga e palpitações comprometem a qualidade de vida. O implante de marcapasso reduz significativamente os sintomas, enquanto a ablação por radiofrequência pode beneficiar pacientes selecionados, sobretudo na presença de fibrilação atrial. Ainda assim, muitos evoluem para formas persistentes da arritmia, exigindo anticoagulação crônica e seguimento contínuo.
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Referências Bibliográficas
- MOSS, A. J.; DAVIS, R. J. Brady-Tachy Syndrome. Progress in Cardiovascular Diseases, v. 16, n. 5, p. 439-454, 1974.
- FRIEDMANN, A. A. Síndrome bradicardia-taquicardia. Diagnóstico e Tratamento, v. 24, n. 3, p. 100-101, 2019.
- OLIVEIRA, L. H. Ablação por Radiofrequência como Opção Terapêutica na Síndrome Bradi-Taqui. Hospital da Bahia; Fundação Bahiana de Cardiologia, Salvador, 2019.