Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome Cardiovascular-Renal-Metabólica (CKM) representa uma interconexão entre três doenças de alta prevalência: diabetes tipo 2, doença renal crônica e doenças cardiovasculares. Sua abordagem integrada tem ganhado destaque por refletir a sobreposição de mecanismos fisiopatológicos e fatores de risco comuns.
Pacientes com múltiplas comorbidades CKM apresentam risco cardiovascular significativamente mais alto do que aqueles com apenas uma das condições isoladas.
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Conceito e terminologia
A síndrome cardiovascular-renal-metabólica (CKM) refere-se à interligação progressiva entre três grandes condições clínicas: doença cardiovascular (DCV), diabetes tipo 2 (DM2) e doença renal crônica (DRC). Diferente da abordagem tradicional que trata essas condições de forma isolada, o conceito de CKM propõe uma visão integrada, reconhecendo que os processos patológicos de uma afecção frequentemente alimentam e aceleram os das demais.
Essa terminologia foi consolidada por sociedades científicas como a American Heart Association, que reforçam a ideia de que essas doenças compartilham mecanismos fisiopatológicos comuns, como resistência à insulina, inflamação crônica de baixo grau, disfunção endotelial e estresse oxidativo. Além disso, o modelo CKM amplia o escopo clínico ao incorporar fatores sociais e ambientais que influenciam o risco e a progressão dessas doenças.
Epidemiologia e perfil populacional
Estudos recentes mostram que a síndrome CKM é amplamente prevalente, afetando cerca de 1 em cada 4 adultos nos Estados Unidos com ao menos uma condição relacionada à tríade (DCV, DM2 ou DRC). Além disso, estima-se que até 8% da população apresente duas ou mais dessas condições simultaneamente, número que ultrapassa 25% entre idosos com mais de 65 anos.
Esse padrão de comorbidade múltipla é particularmente mais comum em grupos vulneráveis, como homens, indivíduos de etnias não brancas e pessoas com menor nível socioeconômico. Além disso, a carga de CKM é desproporcionalmente maior em populações com acesso limitado aos cuidados preventivos, refletindo os impactos persistentes dos determinantes sociais de saúde.
A presença simultânea de DM2, DRC e DCV está associada a um aumento significativo na mortalidade cardiovascular. Por exemplo, indivíduos com ambas as condições renais e metabólicas chegam a apresentar um risco de morte cardiovascular até cinco vezes maior que aqueles com apenas uma das doenças.
Estadiamento clínico
A American Heart Association propôs uma classificação em quatro estágios progressivos da síndrome CKM, com base na presença de adiposidade disfuncional, fatores metabólicos, sinais subclínicos e doenças estabelecidas. Essa estrutura auxilia na estratificação do risco e na tomada de decisões clínicas mais direcionadas, desde a prevenção até o tratamento de complicações avançadas.
- Estágio 0 – Risco ausente ou mínimo: indivíduos sem fatores de risco aparentes para CKM, com exames dentro da normalidade e estilo de vida considerado saudável.
- Estágio 1 – Excesso ou disfunção do tecido adiposo: presença de obesidade ou distribuição central de gordura, mesmo na ausência de alterações laboratoriais ou sinais clínicos de DRC ou DCV.
- Estágio 2 – Presença de fatores metabólicos ou DRC leve: inclui pacientes com hiperglicemia, dislipidemia, hipertensão ou sinais iniciais de lesão renal (como microalbuminúria ou leve redução do eGFR), ainda sem doença cardiovascular manifesta.
- Estágio 3 – Doença cardiovascular subclínica: caracteriza-se pela detecção de alterações estruturais ou funcionais do sistema cardiovascular em exames de imagem, sem sintomas evidentes, como hipertrofia ventricular esquerda ou placas ateroscleróticas coronarianas assintomáticas.
- Estágio 4 – DCV clínica ou DRC avançada: inclui pacientes com eventos cardiovasculares prévios (como infarto ou AVC), insuficiência cardíaca ou doença renal crônica em estágio 4 segundo os critérios KDIGO.
Quadro clínico e comorbidades associadas
O quadro clínico da síndrome CKM é caracterizado por uma variedade de manifestações relacionadas à sobreposição de alterações metabólicas, cardiovasculares e renais, que frequentemente evoluem de forma silenciosa nos estágios iniciais. A combinação desses sistemas comprometidos contribui para um risco acumulativo de complicações graves e mortalidade precoce.
Entre os sintomas metabólicos, destacam-se o ganho de peso progressivo com predomínio abdominal, intolerância à glicose e fadiga associada à resistência insulínica. Quando a função renal começa a declinar, pode haver edema de membros inferiores, hipertensão de difícil controle e sinais laboratoriais como albuminúria e elevação da creatinina. No espectro cardiovascular, surgem alterações como dispneia aos esforços, dor torácica, palpitações e intolerância ao exercício, que podem indicar insuficiência cardíaca ou doença arterial coronariana.
Comorbidades frequentemente associadas incluem hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, esteatose hepática não alcoólica, síndrome da apneia obstrutiva do sono, retinopatia diabética, neuropatia periférica e anemia da doença crônica. A presença simultânea dessas condições contribui para uma maior complexidade no manejo e piora do prognóstico.
Critérios diagnósticos e rastreio
A abordagem diagnóstica da síndrome CKM exige uma avaliação integrada dos sistemas cardiovascular, metabólico e renal, mesmo na ausência de sintomas clínicos evidentes. O rastreamento adequado permite identificar indivíduos em estágios iniciais da síndrome, possibilitando intervenção precoce e redução de riscos futuros.
O rastreio deve começar com medidas antropométricas, como índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal, que devem ser avaliadas anualmente. A detecção de adiposidade visceral já configura risco metabólico mesmo sem alterações laboratoriais.
Em termos laboratoriais, são recomendados:
- Glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1c) e perfil lipídico, a cada 3 a 5 anos em indivíduos assintomáticos (estágio 0), a cada 2–3 anos nos que apresentam obesidade ou resistência insulínica (estágio 1), e anualmente nos estágios 2 e 3.
- Função renal com eGFR e relação albumina/creatinina urinária, especialmente nos estágios 2 ou superiores.
- Avaliações de marcadores inflamatórios, como proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-us), podem auxiliar na estratificação de risco cardiovascular adicional.
No campo cardiovascular, exames como eletrocardiograma, ecocardiograma e angiotomografia coronariana podem revelar alterações subclínicas, como disfunção ventricular ou aterosclerose silenciosa.
Além disso, ferramentas de cálculo de risco como o PREVENT score incorporam fatores metabólicos, renais e sociais para estimar o risco cardiovascular em 10 e 30 anos. Essa ferramenta substitui o uso direto da variável raça, valorizando o índice de privação social como marcador de vulnerabilidade.
Tratamento
O manejo da síndrome CKM exige uma abordagem progressiva e multidisciplinar, adaptada ao estágio clínico e à presença de comorbidades. O objetivo é interromper a progressão das alterações metabólicas, prevenir eventos cardiovasculares e preservar a função renal. Isso é feito por meio de modificações no estilo de vida, tratamento farmacológico direcionado e suporte social contínuo.
Nos estágios iniciais (0 e 1), o foco deve ser em intervenções não farmacológicas: alimentação balanceada, atividade física regular, controle do peso corporal e cessação do tabagismo. Estratégias baseadas em padrões alimentares como a dieta DASH ou mediterrânea mostram benefícios metabólicos e cardiovasculares significativos.
A partir do estágio 2, é comum a necessidade de tratamento farmacológico para os componentes da síndrome metabólica. Isso inclui:
- Antidiabéticos orais ou injetáveis com benefício cardiovascular e renal comprovado, como os inibidores de SGLT2 e agonistas do GLP-1.
- Anti-hipertensivos, preferencialmente inibidores da ECA ou bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA), pela proteção renal e cardiovascular.
- Estatinas ou outros hipolipemiantes, conforme o perfil lipídico e o risco global.
No estágio 3 (doença cardiovascular subclínica), o tratamento intensifica-se com o uso de terapias combinadas, sempre considerando o risco cardiovascular total. Já no estágio 4, com DCV ou DRC estabelecida, o manejo deve seguir as diretrizes específicas (ADA, AHA, KDIGO), incluindo controle rigoroso da pressão arterial, da glicemia e da proteinúria.
O tratamento eficaz da síndrome CKM também depende da coordenação entre múltiplos profissionais: médicos, enfermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, fisioterapeutas e assistentes sociais
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Referências Bibliográficas
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- DYNAMED. Metabolic Syndrome in Adults. Ipswich: EBSCO Information Services, 2024.