Olá, querido doutor e doutora! A síndrome de Apert é uma condição genética rara caracterizada por craniossinostose, hipoplasia médio-facial e sindactilia das mãos e pés. O quadro clínico pode ser complexo, envolvendo alterações craniofaciais marcantes, malformações viscerais e comprometimento do desenvolvimento neurológico. O diagnóstico é baseado em achados clínicos e exames de imagem, com confirmação genética pelo gene FGFR2.
A realização de cirurgia craniana precoce está associada a melhores resultados cognitivos e funcionais.
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Conceito
A síndrome de Apert, também conhecida como acrocefalossindactilia tipo I, é uma condição genética rara caracterizada pela fusão prematura de múltiplas suturas cranianas, levando a deformidades do crânio, associada a hipoplasia da região médio-facial e sindactilia complexa das mãos e dos pés. Essas alterações decorrem de mutações que afetam a regulação do crescimento ósseo, resultando em anomalias craniofaciais marcantes e malformações esqueléticas dos membros.
Etiologia e genética
A síndrome de Apert apresenta herança autossômica dominante, embora a maioria dos casos surja a partir de mutações de novo. A causa principal está em mutações de ganho de função no gene FGFR2 (receptor do fator de crescimento de fibroblastos tipo 2), localizado no cromossomo 10q. Essas mutações alteram a sinalização celular responsável pelo desenvolvimento ósseo e pela diferenciação tecidual, levando à fusão precoce das suturas cranianas e à formação anômala dos membros.
As duas variantes mais comuns são a Ser252Trp e a Pro253Arg, que apresentam diferenças fenotípicas: a primeira está mais associada a casos de fissura palatina, enquanto a segunda se relaciona com sindactilia mais grave. Outro aspecto observado é a correlação com idade paterna avançada, que aumenta a chance de mutações de novo.
Epidemiologia
A síndrome de Apert é considerada rara, com prevalência estimada entre 1 em 65.000 e 200.000 nascimentos vivos. Homens e mulheres são afetados em proporções semelhantes. Um aspecto relevante é a associação com idade paterna avançada, fator que aumenta a probabilidade de mutações espontâneas no gene FGFR2.
A doença apresenta penetrância completa, mas com expressividade variável, o que explica a diversidade de manifestações clínicas entre pacientes, mesmo dentro da mesma família. Estudos populacionais apontam diferenças étnicas, com maior frequência descrita em indivíduos de origem asiática quando comparados a outras populações.
Patogênese
A síndrome de Apert resulta de mutações no gene FGFR2, que codifica um receptor envolvido no crescimento e diferenciação celular durante o desenvolvimento ósseo. Essas mutações alteram a especificidade do receptor, permitindo que se ligue a fatores de crescimento diferentes dos habituais. O efeito é a ativação excessiva da via de sinalização, que estimula a proliferação e reduz a apoptose de osteoblastos.
Como consequência, ocorre fusão prematura das suturas cranianas (craniossinostose), com deformidades craniofaciais marcantes, e falha na separação dos dígitos durante a organogênese, resultando em sindactilia complexa. Além das alterações ósseas, essas mutações também estão implicadas em malformações viscerais e em anomalias neurológicas observadas em parte dos pacientes.
Avaliação clínica
Manifestações craniofaciais
A característica mais marcante da síndrome de Apert é a craniossinostose multissutural, especialmente a fusão precoce das suturas coronais, que leva a deformidades como acrocéfalo-turricefalia e braquicefalia anterior. A face mostra hipoplasia médio-facial, órbitas rasas com exorbitismo, além de hipertelorismo, fendas palpebrais inclinadas para baixo e nariz em formato de “bico”. Alterações do palato são frequentes, podendo incluir palato alto, úvula bífida ou fenda palatina.
Alterações nas mãos e pés
A sindactilia simétrica e complexa é outro achado característico, envolvendo principalmente os segundos, terceiros e quartos dedos. Essa fusão pode formar blocos digitais, descritos em padrões conhecidos como “luva”, “mitten” ou “rosebud”. Os dígitos tendem a ser curtos, e a fusão das unhas origina a sinoniquia.
Sistema nervoso
No sistema nervoso, parte dos pacientes apresenta atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ou déficit cognitivo, que pode variar de leve a moderado. Também são descritas anomalias estruturais, como ventriculomegalia, malformação de Chiari, agenesia do septo pelúcido e fusões vertebrais cervicais, sobretudo em C5-C6.
Comprometimento sensorial e respiratório
A perda auditiva é comum, em especial a condutiva, secundária à otite média de repetição e anomalias do ouvido médio. Problemas respiratórios decorrem da hipoplasia facial e de alterações traqueais, predispondo à apneia obstrutiva do sono.
Alterações viscerais
Embora menos frequentes, podem ocorrer malformações cardíacas (como comunicação interventricular), além de anomalias gastrointestinais (estenose esofágica, mal rotação) e geniturinárias, como criptorquidia e hidronefrose.
Diagnóstico
Avaliação clínica
O diagnóstico da síndrome de Apert é primeiramente clínico, baseado na combinação típica de craniossinostose multissutural, hipoplasia médio-facial e sindactilia simétrica das mãos e pés. A presença desses três achados permite diferenciar a síndrome de outras craniossinostoses sindrômicas. A história familiar deve ser investigada, embora muitos casos ocorram por mutação de novo.
Exames de imagem
A tomografia computadorizada (TC) com reconstrução 3D é o exame mais utilizado para confirmar a fusão precoce das suturas cranianas e avaliar alterações anatômicas associadas, como hipoplasia da base do crânio, aumento da pressão intracraniana e malformações da fossa posterior. A ressonância magnética (RM) auxilia na detecção de anomalias intracranianas, como ventriculomegalia e malformações de Chiari.
Exames genéticos
A confirmação diagnóstica pode ser feita por testes moleculares, que identificam mutações no gene FGFR2. Essa análise é especialmente útil em casos atípicos ou quando há dúvida com outras síndromes craniossinostóticas, como Crouzon, Pfeiffer ou Saethre-Chotzen.
Avaliação funcional
Exames complementares são importantes para identificar complicações:
- Oftalmológicos: rastreio de papiledema, estrabismo e alterações visuais associadas à hipertensão intracraniana.
- Otorrinolaringológicos: avaliação auditiva, já que a perda condutiva é frequente.
- Polissonografia: indicada nos casos de suspeita de apneia obstrutiva do sono.
Tratamento
Abordagem multidisciplinar
O tratamento da síndrome de Apert deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, envolvendo pediatras, neurocirurgiões, cirurgiões craniofaciais, otorrinolaringologistas, oftalmologistas, ortopedistas e geneticistas. Essa integração é necessária devido à variedade de manifestações craniofaciais, neurológicas, respiratórias e esqueléticas que os pacientes apresentam.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia craniana precoce é indicada para corrigir a craniossinostose, reduzir o risco de hipertensão intracraniana e permitir o crescimento adequado do encéfalo. Procedimentos como avanço fronto-orbitário e expansão da caixa craniana podem ser realizados nos primeiros anos de vida. Em casos de hipoplasia médio-facial acentuada, podem ser necessários procedimentos adicionais, como osteotomias do tipo Le Fort III ou distrações monobloco para reposicionamento facial.
A correção da sindactilia das mãos e pés, geralmente feita em etapas, busca melhorar a função e facilitar o uso das mãos, além de reduzir limitações motoras.
Tratamento de complicações
Complicações como hidrocefalia podem requerer derivação ventricular ou ventriculostomia endoscópica. Alterações respiratórias, como apneia obstrutiva do sono, podem demandar cirurgia de avanço facial ou intervenções otorrinolaringológicas. O acompanhamento oftalmológico e auditivo é contínuo para prevenir perda funcional significativa.
Prognóstico
O prognóstico dos pacientes com síndrome de Apert depende da precocidade das intervenções cirúrgicas, da presença de malformações associadas e do acompanhamento especializado. Quando o tratamento é iniciado cedo, muitos pacientes alcançam expectativa de vida próxima ao normal e podem apresentar bom desenvolvimento psicossocial.
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Referências Bibliográficas
- EBSCO Information Services. Craniosynostosis. DynaMed. 30 jun. 2025. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/craniosynostosis. Acesso em: 19 ago. 2025.
- KARSONOVICH, Torin; PATEL, Bhupendra C. Apert Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK518993/. Acesso em: 19 ago. 2025.