Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de Mallory-Weiss é uma causa frequente de sangramento digestivo alto, caracterizada por lacerações longitudinais na mucosa da junção gastroesofágica. O diagnóstico é feito por endoscopia digestiva alta, que permite a visualização direta das lesões e, se necessário, a realização de tratamento hemostático. A maioria dos casos evolui favoravelmente, com resolução espontânea do sangramento e baixo risco de recorrência.
Mais de 90% dos casos apresentam resolução espontânea sem necessidade de intervenção invasiva.
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Conceito Geral
A Síndrome de Mallory-Weiss é uma condição caracterizada por lacerações longitudinais na mucosa da junção gastroesofágica, resultando em sangramento digestivo alto. Essas lesões são, em geral, superficiais e ocorrem devido a episódios intensos de vômito, tosse ou esforço abdominal súbito, levando ao aumento da pressão intragástrica. Embora tenha sido inicialmente associada ao consumo excessivo de álcool, a endoscopia revelou sua ocorrência em diversos contextos clínicos, incluindo gestação, doenças gastrointestinais e procedimentos iatrogênicos.
Como Ocorre a Síndrome de Mallory-Weiss
A Síndrome de Mallory-Weiss ocorre devido a um aumento abrupto da pressão intra-abdominal, resultando em lacerações longitudinais na mucosa da junção gastroesofágica. Esse mecanismo pode ser desencadeado por episódios de vômito vigoroso, tosse intensa, esforço defecatório, crises convulsivas, entre outros fatores que geram um súbito aumento da pressão intragástrica.
A laceração ocorre principalmente no lado esquerdo da mucosa gástrica, próximo à cárdia, estendendo-se para o esôfago distal. Essa predisposição anatômica está relacionada à conformação cilíndrica do esôfago e do estômago, que favorece o aparecimento de fissuras longitudinais em vez de circunferenciais.
Fatores de Risco para a Síndrome de Mallory-Weiss
A Síndrome de Mallory-Weiss é responsável por cerca de 1% a 15% dos casos de hemorragia digestiva alta em adultos e menos de 5% dos casos em crianças. A faixa etária mais acometida está entre 40 e 60 anos, e há uma discreta predominância no sexo masculino, especialmente devido à associação com o consumo excessivo de álcool.
A principal causa da síndrome é o aumento súbito da pressão intra-abdominal, geralmente desencadeado por vômito vigoroso e repetitivo. O alcoolismo é um fator de risco clássico, sendo relatado em até 50% a 70% dos casos. Outros fatores desencadeantes incluem:
- Distúrbios gastrointestinais: refluxo gastroesofágico, úlceras pépticas, hérnia de hiato, obstrução gástrica e gastroparesia.
- Condições neurológicas: crises convulsivas e aumento da pressão intracraniana.
- Situações clínicas: cetoacidose diabética, insuficiência renal e doenças hepáticas.
- Condições associadas ao vômito persistente: bulimia nervosa e hiperêmese gravídica, sendo uma das principais causas em mulheres jovens.
- Fatores iatrogênicos: manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), endoscopias e procedimentos cirúrgicos torácicos ou gastrointestinais.
- Traumas abdominais: golpes diretos no abdome ou esforço intenso, como levantamento de peso excessivo.
Diagnóstico da Síndrome de Mallory-Weiss
Sintomas
A Síndrome de Mallory-Weiss se manifesta principalmente por hematêmese, que ocorre em até 85% dos casos. A quantidade de sangue pode variar de pequenas estrias hemáticas no vômito até sangramento volumoso. Outros sintomas associados incluem:
- Melena: presente em aproximadamente 10% dos casos, indicando sangramento digestivo alto já digerido.
- Tontura, lipotimia e síncope: sintomas relacionados à perda sanguínea significativa, podendo evoluir para choque hipovolêmico nos casos mais graves.
- Dor epigástrica ou retroesternal: ocorre em cerca de 40% dos pacientes, sendo geralmente leve e associada à condição que levou ao vômito.
- Náuseas e vômitos prévios: na maioria dos casos, há relato de episódios anteriores de vômito não hemático antes do início do sangramento.
Endoscopia Digestiva Alta
A endoscopia digestiva alta (EDA) é o exame de escolha para a confirmação diagnóstica da Síndrome de Mallory-Weiss. Deve ser realizada preferencialmente nas primeiras 24 horas após a apresentação dos sintomas, especialmente em pacientes com sangramento ativo. Durante o exame, observa-se uma ou mais lacerações longitudinais na mucosa do esôfago distal ou da cárdia gástrica, podendo haver coágulos aderidos ou sangramento ativo. Além de confirmar o diagnóstico, a EDA permite a realização de medidas terapêuticas em casos de sangramento persistente.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial da Síndrome de Mallory-Weiss inclui úlcera péptica, varizes esofágicas, esofagite erosiva e síndrome de Boerhaave. A úlcera péptica geralmente causa hemorragia digestiva alta sem histórico de vômito vigoroso. Já as varizes esofágicas apresentam sangramento volumoso, enquanto a síndrome de Boerhaave envolve ruptura esofágica com dor torácica intensa e enfisema subcutâneo.
Tratamento da Síndrome de Mallory-Weiss
A abordagem inicial da Síndrome de Mallory-Weiss depende da gravidade do sangramento. A maioria dos casos tem resolução espontânea, exigindo apenas suporte clínico. O paciente deve ser mantido em jejum (NPO) nas primeiras horas e receber hidratação venosa para reposição volêmica.
Nos casos de sangramento ativo ou instabilidade hemodinâmica, a endoscopia digestiva alta deve ser realizada precocemente para medidas hemostáticas, como injeção de epinefrina, aplicação de hemoclipes ou coagulação térmica. Em situações raras, quando a endoscopia não é eficaz, pode ser necessária embolização angiográfica ou, em casos extremos, intervenção cirúrgica para sutura da laceração.
O uso de inibidores da bomba de prótons (IBPs) auxilia na cicatrização da mucosa gástrica e na prevenção de novos episódios. Antieméticos podem ser indicados para evitar vômitos recorrentes, reduzindo o risco de reativação do sangramento.
Evolução
A evolução da Síndrome de Mallory-Weiss costuma ser favorável, com taxa de resolução espontânea superior a 90%. A mortalidade é baixa, ocorrendo principalmente em pacientes com comorbidades graves, como cirrose hepática e coagulopatias. A recidiva do sangramento é incomum, especialmente em indivíduos sem fatores de risco adicionais.
Complicações
As principais complicações da Síndrome de Mallory-Weiss estão associadas à intensidade da hemorragia. Entre elas, destacam-se:
- Anemia aguda: ocorre em casos de sangramento volumoso, podendo requerer transfusão sanguínea.
- Choque hipovolêmico: presente em menos de 10% dos casos, especialmente em pacientes com distúrbios de coagulação.
- Perfuração esofágica (Síndrome de Boerhaave): rara, mas pode ocorrer se houver ruptura transmural do esôfago.
- Recorrência do sangramento: incomum, mas mais provável em pacientes com hipertensão portal ou uso de anticoagulantes.
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Referências Bibliográficas
- RAWLA, Prashanth; DEVASAHAYAM, Joe. Mallory-Weiss Syndrome – StatPearls – NCBI Bookshelf. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538190/. Acesso em: 18 fev. 2025.
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