Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de Mondor é uma condição vascular rara, caracterizada pela formação de cordões subcutâneos decorrentes de tromboflebite superficial. Apesar da aparência que pode gerar preocupação, trata-se de uma doença benigna e autolimitada, geralmente resolvendo-se em poucas semanas. As manifestações variam conforme a localização, sendo mais descritas na parede torácica, no pênis e na axila após cirurgias mamárias.
Na maioria dos casos, a regressão clínica ocorre espontaneamente em 4 a 8 semanas.
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Conceito e classificação
A Síndrome de Mondor é caracterizada por uma tromboflebite superficial esclerosante, que se apresenta como um cordão palpável sob a pele, podendo gerar dor leve ou apenas desconforto. Foi descrita pela primeira vez em 1939 por Henri Mondor, a partir de casos envolvendo veias superficiais da parede torácica.
Com o tempo, a definição foi ampliada, passando a incluir três apresentações principais:
- Parede torácica e abdominal superior (forma clássica): envolve as veias toracoepigástrica, torácica lateral e epigástrica superior. Clinicamente, observa-se cordão endurecido, às vezes doloroso, acompanhado de retração da pele.
- Síndrome de Mondor peniana: afeta a veia dorsal do pênis, formando induração linear palpável, relacionada a trauma, atividade sexual vigorosa ou períodos de abstinência. Pode causar desconforto durante a ereção.
- Síndrome da Rede Axilar: variante observada após cirurgias de mama ou axila, como linfadenectomia ou biópsia do linfonodo sentinela. Caracteriza-se por cordões fibróticos que se estendem da axila para o braço, restringindo a mobilidade do ombro.
Apesar das diferenças anatômicas e clínicas, todas as formas refletem um mesmo processo: alteração em vasos superficiais, que resulta na formação de cordões subcutâneos palpáveis e visíveis.
Etiologia e fatores de risco
A Síndrome de Mondor pode ser idiopática ou associada a condições predisponentes. Em cerca de 40% a 50% dos casos, não se identifica uma causa evidente. Nos demais, os fatores mais frequentemente descritos incluem:
- Trauma local: microtraumas repetitivos (exercícios intensos, movimentação brusca, uso de roupas apertadas, sutiãs justos) e lesões diretas sobre a região acometida.
- Iatrogenia: procedimentos médicos ou cirúrgicos, como biópsias, mastectomia, cirurgia estética mamária, implantes ou radioterapia.
- Neoplasias: alguns relatos associam a síndrome a câncer de mama, tanto em mulheres quanto em homens, reforçando a necessidade de investigação em casos suspeitos.
- Estados de hipercoagulabilidade: trombofilias hereditárias (deficiência de proteína C, proteína S, antitrombina III, mutação do fator V Leiden) ou adquiridas, além de condições hematológicas como síndromes mieloproliferativas.
- Vasculites e doenças sistêmicas: doenças como poliarterite nodosa, doença de Behçet e arterite de células gigantes já foram relacionadas.
- Fatores específicos na forma peniana: atividade sexual vigorosa, abstinência prolongada, uso de dispositivos de vácuo, trauma peniano ou infecções urogenitais.
- Cirurgia axilar e mamária (AWS): linfadenectomia, biópsia do linfonodo sentinela e reconstruções mamárias são fatores diretamente associados ao aparecimento da Síndrome da Rede Axilar.
Esses elementos evidenciam que a doença pode resultar da combinação de três mecanismos principais descritos na tríade de Virchow: lesão da parede vascular, estase sanguínea e alterações da coagulação.
Epidemiologia
A Síndrome de Mondor é considerada uma condição rara, e sua incidência real é subestimada, já que muitos casos não chegam a atendimento médico devido ao caráter autolimitado. Estima-se que menos de 500 casos tenham sido descritos formalmente na literatura internacional.
Na forma clássica da parede torácica, o acometimento é mais frequente em mulheres entre 30 e 60 anos, com uma proporção que varia de 3:1 até 14:1 em relação aos homens. Na maioria das vezes, o quadro é unilateral e localizado na região torácica ou abdominal superior.
A síndrome de Mondor peniana é ainda mais incomum, mas tende a surgir em homens jovens de 20 a 40 anos, geralmente após atividade sexual intensa ou trauma local.
Já a Síndrome da Rede Axilar (AWS) é mais prevalente em pacientes submetidos a cirurgias da mama, sobretudo naquelas em estágios mais avançados da doença, que exigem linfadenectomia extensa. Estudos mostram incidência variável entre 6% e 20% após biópsia de linfonodo sentinela e até 70% a 90% nos casos de dissecção axilar completa.
Assim, embora rara na população geral, a síndrome pode ser observada em diferentes contextos clínicos, dependendo da forma de apresentação.
Avaliação clínica
Parede torácica e abdominal superior (forma clássica)
O paciente geralmente apresenta um cordão subcutâneo endurecido e palpável, linear, localizado na região torácica ou abdominal superior. Pode haver dor leve ou apenas sensação de desconforto. Em alguns casos observa-se retração da pele sobre o cordão, mas sem sinais inflamatórios intensos. A lesão costuma ser unilateral e tem resolução espontânea em semanas.
Síndrome de Mondor peniana
Na variante peniana, o quadro típico é uma induração linear no dorso do pênis, que pode ser dolorosa ou assintomática. Os pacientes relatam desconforto durante ereções, e a ansiedade é frequente devido ao aspecto clínico incomum. A evolução é benigna, com regressão espontânea após abstinência sexual temporária.
Síndrome da rede axilar
Caracteriza-se pela formação de cordões fibróticos na axila, que podem se estender ao braço e, em alguns casos, até ao antebraço. O paciente pode relatar dor, sensação de repuxamento e limitação da amplitude de movimento do ombro, principalmente para abdução. É uma manifestação mais comum após cirurgias para tratamento do câncer de mama.
Manifestações gerais
Em todas as variantes, a lesão se apresenta como uma estrutura linear, rígida e palpável, que desperta atenção pela aparência, mas na maioria dos casos não vem acompanhada de sinais sistêmicos. Em raras situações, podem ocorrer eritema, dor mais intensa, febre ou mal-estar, principalmente quando há processo inflamatório associado.
Diagnóstico
Avaliação clínica
O diagnóstico da Síndrome de Mondor é primariamente clínico. A história de surgimento súbito de um cordão subcutâneo endurecido, acompanhado ou não de dor e retração da pele, é característica. O exame físico revela essa estrutura linear, firme, pouco móvel, geralmente sem sinais inflamatórios exuberantes.
Ultrassonografia
A ultrassonografia com Doppler é o exame de escolha para confirmação. Mostra uma veia superficial não compressível, tubular, com conteúdo hipoecoico ou ecogênico, e ausência de fluxo ao Doppler colorido. Além de confirmar a trombose, o método auxilia no acompanhamento, pois a recanalização venosa pode ser observada em semanas.
Mamografia
Em casos de comprometimento da parede torácica, a mamografia pode revelar uma densidade linear subcutânea. Sua principal utilidade é na investigação de associação com câncer de mama, já que a síndrome pode, raramente, estar vinculada a neoplasia.
Outros métodos
Raramente, exames adicionais como ressonância magnética ou biópsia são necessários. A biópsia deve ser considerada apenas quando há suspeita de malignidade, vasculite ou quando o cordão persiste além de 8 semanas.
Diagnóstico diferencial
É importante distinguir a síndrome de outras condições que cursam com induração subcutânea, como mastite, abscesso mamário, câncer de mama inflamatório, doença de Peyronie (no pênis) e vasculites sistêmicas. A diferenciação se faz pelo padrão clínico, evolução benigna e achados de imagem.
Tratamento
Conduta expectante
Na maioria dos casos, a Síndrome de Mondor é autolimitada, com resolução espontânea em 4 a 8 semanas. Por isso, a conduta mais adotada é o acompanhamento clínico, associado a medidas de conforto, sem necessidade de intervenções agressivas.
Medidas conservadoras
O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) pode ser indicado para alívio da dor. Compressas mornas e a redução de fatores mecânicos desencadeantes, como roupas apertadas ou atividade física intensa, também contribuem para a melhora dos sintomas.
Síndrome de Mondor peniana
Na forma peniana, recomenda-se abstinência sexual temporária até a regressão do quadro. Em situações de dor acentuada, podem ser utilizados AINEs ou pomadas de heparina tópica, embora os resultados sejam variáveis.
Síndrome da Rede Axilar
Nessa variante, o manejo é diferente: exercícios de fisioterapia e alongamento auxiliam na recuperação da mobilidade do ombro. Alguns relatos sugerem o uso de técnicas manuais para rompimento do cordão fibrótico, proporcionando alívio imediato, embora não seja prática rotineira.
Anticoagulação e outras terapias
O uso de anticoagulantes sistêmicos é controverso e reservado para casos selecionados, principalmente quando há fatores de risco trombótico associados. Em situações persistentes ou de recorrência, pode-se considerar investigação de estados de hipercoagulabilidade ou doenças sistêmicas.
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Referências Bibliográficas
- LAROCHE, J. P. et al. Mondor’s disease: what’s new since 1939? Thrombosis Research, v. 130, p. S56–S58, 2012. DOI: https://doi.org/10.1016/j.thromres.2012.08.276
- AMANO, M.; SHIMIZU, T. Mondor’s Disease: A Review of the Literature. Internal Medicine, v. 57, n. 18, p. 2607–2612, 2018. DOI: https://doi.org/10.2169/internalmedicine.0495-17
- ROUNTREE, K. M.; BARAZI, H.; AULICK, N. F. Mondor Disease. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538282/