Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome Miastênica de Lambert-Eaton (LEMS) é uma condição autoimune rara que afeta a junção neuromuscular, provocando fraqueza muscular progressiva, arreflexia e sintomas autonômicos. Sua apresentação clínica pode ser sutil e se confundir com outras miopatias, o que exige atenção especial do médico. Cerca de 60% dos casos estão associados a neoplasias, especialmente o carcinoma de pequenas células do pulmão.
Em mais de 90% dos casos de LEMS paraneoplásica, o diagnóstico neurológico antecede a detecção do tumor pulmonar.
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Conceito
A Síndrome Miastênica de Lambert-Eaton (LEMS) é uma desordem autoimune rara da junção neuromuscular, caracterizada por fraqueza muscular progressiva, arreflexia e sinais de disfunção autonômica. O processo imunológico envolve a produção de autoanticorpos contra canais de cálcio voltagem-dependentes (VGCCs) do tipo P/Q, localizados nos terminais pré-sinápticos das fibras motoras. Esse bloqueio reduz a entrada de cálcio durante o potencial de ação, comprometendo a liberação de acetilcolina e, consequentemente, a transmissão neuromuscular.
Classificação
LEMS Paraneoplásica
Corresponde à forma mais prevalente da síndrome, especialmente em indivíduos acima dos 60 anos. Está frequentemente associada ao carcinoma de pequenas células do pulmão (SCLC), tumor neuroendócrino que expressa antígenos similares aos canais de cálcio voltagem-dependentes. Estima-se que até 60% dos pacientes com LEMS tenham neoplasia associada, sendo o SCLC o mais comum, embora casos também tenham sido descritos em tumores de próstata, timoma e linfomas.
- Pontos-chave dessa forma:
- Forte associação com tabagismo.
- Curso clínico mais agressivo.
- A presença de autoanticorpos anti-SOX1 pode sugerir vínculo com SCLC.
- O diagnóstico de LEMS pode preceder em meses ou até anos o diagnóstico tumoral.
LEMS Idiopática (Não Paraneoplásica)
Ocorre sem evidência de malignidade e geralmente afeta adultos mais jovens, com predomínio feminino. Sua origem parece estar relacionada a mecanismos autoimunes primários, possivelmente influenciados por predisposição genética, como a presença do haplótipo HLA-B8-DR3. Nessa forma, há maior associação com outras doenças autoimunes, como tireoidite de Hashimoto, anemia perniciosa e diabetes tipo 1.
- Características clínicas:
- Curso mais lento e estável.
- Melhor resposta a terapias imunomoduladoras.
- Prognóstico mais favorável, com sobrevida semelhante à da população geral.
Epidemiologia e fatores de risco
A Síndrome Miastênica de Lambert-Eaton (LEMS) é uma doença rara, com prevalência estimada entre 3 a 4 casos por milhão, sendo significativamente menos comum que a miastenia gravis. A forma paraneoplásica afeta majoritariamente homens acima dos 60 anos, com histórico de tabagismo e forte associação ao carcinoma de pequenas células do pulmão (SCLC).
Já a forma idiopática tende a acometer mulheres jovens, com picos de incidência aos 35 e 60 anos, e está frequentemente ligada ao haplótipo HLA-B8-DR3, também presente em outras doenças autoimunes.
Além do SCLC, a síndrome pode surgir em associação a timoma, linfomas e câncer de próstata, enquanto doenças autoimunes concomitantes como hipotireoidismo e diabetes tipo 1 são comuns na forma não tumoral. Casos pediátricos são raríssimos, mas já foram descritos a partir dos 9 anos.
Avaliação clínica
Fraqueza muscular proximal
A manifestação predominante da LEMS é a fraqueza muscular progressiva, com início típico nos músculos proximais dos membros inferiores. Os pacientes relatam dificuldade para atividades como subir escadas, levantar-se de cadeiras ou caminhar por longos períodos. Essa fraqueza costuma ser simétrica e progride no sentido caudo-cranial, podendo atingir os membros superiores e, em casos avançados, a musculatura bulbar e respiratória.
Facilitação pós-ativação e reflexos
Um achado marcante é a facilitação pós-ativação, caracterizada por melhora transitória da força muscular após breve esforço. Os reflexos tendíneos profundos estão geralmente ausentes ou diminuídos, mas podem retornar temporariamente após contrações voluntárias breves — um sinal clínico útil na diferenciação com outras miopatias.
Disfunção autonômica
A disfunção do sistema nervoso autônomo é altamente prevalente e pode se manifestar como boca seca, constipação intestinal, disfunção erétil, alterações na sudorese, hipotensão postural e distúrbios urinários. Esses sintomas frequentemente precedem ou acompanham a fraqueza muscular e podem ser determinantes para a suspeita diagnóstica.
Comprometimento ocular, bulbar e respiratório
Embora o envolvimento ocular e bulbar seja menos pronunciado do que na miastenia gravis, ptose palpebral, diplopia, disartria e disfagia podem ocorrer em cerca de metade dos pacientes. Já a fraqueza respiratória é menos comum, mas pode surgir em formas mais severas da doença ou como consequência de outras complicações clínicas.
Diagnóstico
Avaliação clínica inicial
O diagnóstico da Síndrome Miastênica de Lambert-Eaton (LEMS) começa com a identificação de sintomas compatíveis, como fraqueza muscular proximal, arreflexia e sinais de disfunção autonômica. A presença do fenômeno de facilitação pós-ativação — melhora da força muscular e dos reflexos após esforço breve — deve levantar forte suspeita clínica.
Estudos eletrofisiológicos
A eletromiografia com estimulação repetitiva (EMG-RNS) é o principal exame para confirmação diagnóstica. Os achados típicos incluem:
- Baixa amplitude inicial do potencial de ação muscular (CMAP);
- Queda progressiva da amplitude com estímulo de baixa frequência;
- Aumento superior a 60% da amplitude após estímulo de alta frequência ou após contração voluntária de 10 a 30 segundos (facilitação).
Esse padrão é característico e ajuda a diferenciar LEMS de outras doenças da junção neuromuscular, como a miastenia gravis.
Pesquisa de autoanticorpos
A maioria dos pacientes apresenta anticorpos contra canais de cálcio voltagem-dependentes do tipo P/Q (anti-VGCC), encontrados em 85% a 90% dos casos. Em situações de suspeita de neoplasia, a presença de anticorpos anti-SOX1 pode reforçar a associação com carcinoma de pequenas células do pulmão. Já os anticorpos anti-AChR e anti-MuSK, quando positivos, apontam mais para miastenia gravis do que LEMS.
Rastreamento oncológico
Todos os pacientes diagnosticados com LEMS devem ser submetidos a avaliação para neoplasias ocultas, especialmente carcinoma de pequenas células do pulmão (SCLC). A tomografia de tórax (TC) é o exame inicial de escolha, podendo ser complementada com PET-CT quando necessário. O escore DELTA-P pode ser utilizado para estratificar o risco tumoral e definir o intervalo de reavaliação por imagem, caso o rastreio inicial seja negativo.
Tratamento
Abordagem da causa de base
Nos casos de LEMS paraneoplásica, o foco inicial deve ser o tratamento da neoplasia associada, geralmente o carcinoma de pequenas células do pulmão (SCLC). A resecção cirúrgica, quimioterapia e/ou radioterapia podem induzir melhora clínica significativa ao reduzir o estímulo imunológico tumoral. Em alguns pacientes, o controle do câncer leva à estabilização ou até à remissão dos sintomas neuromusculares.
Tratamento sintomático
A primeira linha para alívio dos sintomas motores é a amifampridina (3,4-diaminopiridina), um bloqueador de canais de potássio que prolonga o potencial de ação nervoso e aumenta a liberação de acetilcolina. A dose inicial recomendada em adultos é de 15 a 30 mg/dia, dividida em 3 ou 4 tomadas, podendo ser titulada até 80 mg/dia. Em pacientes pediátricos com menos de 45 kg, o ajuste da dose deve seguir protocolos específicos. Em casos de boa resposta, pode-se tentar reduzir ou suspender a medicação.
Adjuvantes farmacológicos
O uso de piridostigmina, um inibidor da acetilcolinesterase, pode ser considerado como adjuvante ao tratamento com amifampridina, especialmente quando há resíduo de fraqueza leve. Já a guanidina, apesar de também estimular a liberação de acetilcolina, possui maior toxicidade e é raramente utilizada atualmente.
Imunossupressão em casos refratários
Quando os sintomas persistem ou evoluem apesar da terapia sintomática, é indicado iniciar tratamento imunossupressor. As opções incluem:
- Prednisona em doses de até 60 mg/dia;
- Azatioprina como agente poupador de corticoide;
- Em casos graves ou agudos, imunoglobulina intravenosa (IVIg) ou plasmaférese podem ser utilizadas em combinação com imunossupressores.
Evitar medicamentos prejudiciais
Deve-se evitar drogas que possam piorar a transmissão neuromuscular, como bloqueadores dos canais de cálcio do tipo L, betabloqueadores, aminoglicosídeos e relaxantes neuromusculares usados em anestesia.
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Referências Bibliográficas
- DynaMed. Lambert-Eaton Myasthenic Syndrome. EBSCO Information Services, atualizado em 13 de jun. de 2025.
- JAYARANGAIAH, Apoorva; LUI, Forshing; KARIYANNA, Pramod Theetha. Lambert-Eaton Myasthenic Syndrome. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025.