Resumo de Arritmia em Atletas: causas, tratamento e mais!
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Resumo de Arritmia em Atletas: causas, tratamento e mais!

Olá, querido doutor e doutora! As arritmias em atletas representam um desafio clínico crescente, à medida que o número de praticantes de esportes competitivos e recreativos aumenta. O treinamento inatenso provoca adaptações cardíacas fisiológicas, mas também pode revelar ou desencadear distúrbios elétricos potencialmente graves

Em muitos atletas, as alterações eletrocardiográficas refletem adaptações benignas ao exercício e não doença cardíaca.

O que é Arritmia em atletas

As arritmias em atletas são alterações do ritmo cardíaco que podem ocorrer durante ou após o exercício físico intenso, afetando indivíduos com anormalidades cardíacas congênitas ou adquiridas, e também aqueles sem doença estrutural identificável. O treinamento vigoroso pode induzir modificações estruturais e funcionais no coração, resultando em respostas adaptativas que se refletem no eletrocardiograma (ECG) e, em muitos casos, não indicam patologia.

Fatores de risco e fisiopatologia

O desenvolvimento de arritmias em atletas resulta da interação entre predisposição individual, condições cardíacas estruturais e estímulos fisiológicos do exercício intenso e prolongado. Entre os principais fatores de risco destacam-se o sexo masculino, a idade intermediária, a prática de esportes de endurance, o treinamento de alta intensidade por períodos superiores a dez anos e a estatura elevada. Histórico familiar de morte súbita, canalopatias hereditárias e uso de substâncias anabolizantes também podem aumentar a vulnerabilidade.

Do ponto de vista fisiopatológico, o exercício intenso leva a adaptações cardíacas estruturais, elétricas e autonômicas. O aumento do tônus vagal e a redução da atividade simpática explicam a bradicardia sinusal e os bloqueios atrioventriculares de baixo grau observados em atletas. Além disso, o treinamento prolongado pode induzir dilatação atrial e fibrose miocárdica, criando um substrato para fibrilação atrial e outras arritmias.

Epidemiologia 

A ocorrência de alterações do ritmo cardíaco em atletas é relativamente comum, variando conforme o tipo, a intensidade e o tempo de exposição ao exercício. Estudos populacionais mostram que até 6% dos atletas apresentam anormalidades no ECG de repouso e cerca de 5% durante o exercício, sendo a maioria alterações benignas, como bradicardia sinusal e bloqueios de condução incompletos.

A bradicardia sinusal pode estar presente em 50% a 80% dos atletas, principalmente naqueles que praticam esportes de endurance, como corrida, ciclismo e natação. Em contraste, arritmias potencialmente patológicas, como fibrilação atrial, flutter atrial, taquicardias ventriculares e síndromes de QT longo, têm prevalência inferior a 1%, embora apresentem maior impacto clínico.

Estudos longitudinais indicam que a exposição prolongada ao exercício intenso pode aumentar o risco de bradiarritmias e fibrilação atrial, especialmente em homens de meia-idade com mais de dez anos de treinamento competitivo. 

Principais tipos de arritmias em atletas

Bradicardias e distúrbios de condução

A bradicardia sinusal é o achado mais frequente, presente em até 80% dos atletas, especialmente em modalidades de resistência. Ocorre por predomínio vagal e redução da frequência intrínseca do nó sinusal, sem implicar doença cardíaca. Bloqueios atrioventriculares de primeiro grau e de segundo grau tipo I (Mobitz I) também refletem adaptação funcional, desaparecendo com o esforço. Já os bloqueios de segundo grau tipo II e completos são anormais e indicam avaliação especializada.

Fibrilação atrial (FA)

Mais comum em atletas de meia-idade e homens, a FA está associada ao treinamento prolongado e intenso. Ocorre por remodelamento atrial com dilatação e fibrose, somado à instabilidade autonômica. Costuma ser paroxística e pode se manifestar apenas como queda de desempenho físico.

Flutter e taquicardias supraventriculares (TSV)

Incluem flutter atrial típico, taquicardia atrioventricular nodal reentrante (TAVN) e taquicardia por via acessória oculta (AVRT). Embora raras, podem causar palpitações súbitas, tontura e queda de performance. Na ausência de cardiopatia estrutural, geralmente têm prognóstico favorável, e a ablação por cateter é considerada tratamento de escolha.

Arritmias ventriculares

As extrassístoles ventriculares são comuns e geralmente benignas quando monomórficas e suprimidas durante o exercício. Entretanto, taquicardias ventriculares sustentadas ou associadas a cardiomiopatia representam risco elevado. O treinamento intenso pode gerar dilatação transitória do ventrículo direito, predispondo a arritmias complexas.

Síndromes genéticas e canalopatias

Incluem síndrome do QT longo, síndrome do QT curto, síndrome de Brugada e taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (CPVT). São causas raras, porém potencialmente letais, especialmente em atletas jovens. Exigem avaliação especializada, rastreamento familiar e restrição temporária de atividades competitivas.

Manifestações clínicas e diagnóstico

As manifestações clínicas das arritmias em atletas variam amplamente, desde achados assintomáticos em exames de rotina até episódios de síncope ou palpitações durante o exercício. Geralmente, as bradiarritmias fisiológicas são assintomáticas e desaparecem com a atividade física. Entretanto, fadiga, tontura, intolerância ao esforço, palpitações rápidas e perda transitória de consciência podem indicar arritmias de relevância clínica, como fibrilação atrial, taquicardias supraventriculares ou ventriculares.

Durante o repouso, o predomínio parassimpático pode acentuar a bradicardia e o bloqueio atrioventricular de baixo grau, que tendem a normalizar durante o esforço ou sob estímulos simpáticos. Já taquiarritmias e arritmias ventriculares complexas frequentemente se manifestam durante ou logo após o exercício, quando há maior descarga adrenérgica.

O diagnóstico inicia-se com anamnese detalhada, incluindo história familiar de morte súbita e uso de suplementos ou estimulantes, seguida de exame físico e eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações. O ECG de repouso é essencial para diferenciar padrões fisiológicos do “coração de atleta” de achados sugestivos de patologia.

A monitorização Holter de 24 horas, o teste ergométrico e, em casos selecionados, o registro contínuo por dispositivos implantáveis são úteis para documentar arritmias intermitentes. A ecocardiografia e a ressonância magnética cardíaca auxiliam na exclusão de cardiomiopatias estruturais, enquanto exames laboratoriais devem investigar distúrbios eletrolíticos ou alterações hormonais.

Tratamento

Manejo das bradiarritmias

Em bradicardias fisiológicas, como bradicardia sinusal, bloqueio atrioventricular de primeiro grau e Mobitz I, a conduta é expectante, com redução da carga de treino apenas se houver sintomas. Quando há bloqueios de alto grau ou sintomas persistentes, recomenda-se investigação completa e, se indicado, implante de marcapasso, com avaliação individual para retorno às competições.

Fibrilação atrial em atletas

O manejo segue as diretrizes gerais, mas deve ser adaptado ao contexto esportivo. A estratégia de controle do ritmo costuma ser preferida, e os antiarrítmicos de classe Ic podem ser usados com bloqueadores nodais associados para evitar flutter com resposta rápida. Betabloqueadores e verapamil apresentam baixa tolerância e eficácia limitada durante o esforço. A anticoagulação segue o risco tromboembólico, considerando o perigo de sangramento em esportes de contato. A ablação por isolamento das veias pulmonares é altamente eficaz, e o retorno ao treino é indicado após 7 a 14 dias de repouso, com avaliação da recorrência e decisão compartilhada.

Flutter e taquicardias supraventriculares

Nas taquiarritmias supraventriculares, como flutter típico, taquicardia atrioventricular nodal reentrante (TAVN) e taquicardia por via acessória (AVRT), a ablação por cateter é considerada o tratamento de escolha. Essa abordagem elimina a necessidade de fármacos que reduzem desempenho. Em casos de pré-excitação ventricular (síndrome de Wolff-Parkinson-White), a ablação é mandatória em sintomáticos e recomendada em assintomáticos com vias de alto risco. Após o procedimento, o atleta pode retornar ao esporte competitivo em cerca de um mês, se estiver assintomático e sem recorrência.

Arritmias ventriculares

O foco inicial deve ser excluir cardiomiopatia estrutural. Extrassístoles ventriculares monomórficas, suprimidas pelo exercício e sem alterações estruturais, têm prognóstico benigno e permitem continuidade esportiva. Já taquicardias ventriculares sustentadas ou complexas requerem estratificação de risco, ablação quando indicada e redução temporária da carga de treino. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de cardiodesfibrilador implantável (ICD). Pacientes com ICD ou histórico de parada cardíaca podem retornar ao esporte após avaliação multiprofissional, teste de esforço máximo específico da modalidade e monitorização contínua.

Síndromes genéticas e canalopatias

Síndromes como QT longo, Brugada e taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (CPVT) exigem acompanhamento especializado, rastreamento familiar e otimização terapêutica antes de definir elegibilidade esportiva. Nos casos de CPVT, o teste de esforço máximo avalia a presença de ectopia ventricular induzida, e o retorno às competições depende da normalização do exame sob tratamento adequado.

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Referências Bibliográficas 

  1. EBSCO Information Services. Arrhythmias in Athletes. DynaMed. Updated Aug 26, 2025. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/arrhythmias-in-athletes

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