Resumo de atualização da assistência ao recém-nascido de parturiente com infecção pelo vírus Monkeypox (MPXV)

Resumo de atualização da assistência ao recém-nascido de parturiente com infecção pelo vírus Monkeypox (MPXV)

No dia 26 de agosto de 2022, a sociedade brasileira de pediatria emitiu uma nota de alerta com recomendações para a assistência na sala de parto ao recém-nascido de parturiente com infecção suspeita ou comprovada pelo vírus Monkeypox (MPXV). 

É um tema atual, com poucas evidências acerca do tema, visto que o surgimento dessa doença no cenário mundial é recente. Somente em 21 de maio de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a existência de um surto global emergente de infecção pelo vírus. 

O Monkeypox 

O MPXV é um Orthopoxvírus que causa doença com sintomas semelhantes, porém mais amenizados do que a varíola. Até 25 de agosto de 2022, a OMS contabilizou  45.355 casos confirmados laboratorialmente, com 15 mortes até o momento. Espera-se que tenha muito mais casos, visto que nem todos são testados. 

A transmissão comunitária ocorre principalmente por contato direto com indivíduos que apresentam lesões em pele e mucosas. Diferente da varíola, que transmitia apenas na fase ativa das lesões, o MPXV é disseminado também na forma de crostas.  

Gotículas e aerossóis são formas menos comuns de transmissão. O vírus pode persistir em superfícies e fômites por dezenas de dias, favorecendo sua disseminação. 

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Monkeypox na gestação e recém-nascido

Os dados sobre a infecção por MPXV durante a gestação são escassos. Ainda não se sabe se as grávidas são mais suscetíveis ao MPXV ou se a infecção é mais grave na gestação.  

Quais as chances de transmissão e consequências na gestação? 

Dados fornecidos a partir relato de caso e estudos observacionais do continente africano, alguns anteriores ao surto global de 2022, que demonstrou possível transmissão vertical durante período pré-natal com possíveis desfechos desfavoráveis como a perda fetal (abortamento ou óbito fetal) e o parto prematuro. A frequência e fatores de risco para transmissão são desconhecidas. 

No intraparto, a transmissão pode ocorrer através de contato pele a pele ou com mucosas. Após o nascimento o risco de transmissão parece ser semelhante a população geral, através principalmente de contato direto, gotículas e aerossóis.

Mesmo com dados limitados, a OMS reconhece a possibilidade de transmissão materno-fetal do MPXV a partir da passagem transplacentária, originando a doença congênita, e/ou através do contágio no contato entre a parturiente e o RN durante e após o parto.

Manejo na sala de parto na suspeita de Monkeypox 

Organização do ambiente 

É importante contato prévio com a família para esclarecimentos e orientações quanto às rotinas específicas relacionadas à infecção pelo MPXV visando a proteção de todos. 

A primeira recomendação é a realização do parto em salas com pressão negativa. No entanto, devido a indisponibilidade na maioria das regiões brasileiras deste tipo de sala, sempre que possível deve-se usar salas pré-determinadas para o parto e para o atendimento ao RN, com fluxo de entrada de pessoal, entrada de equipamentos, limpeza e descontaminação previamente estabelecidos. 

Se até mesmo esta sala estiver indisponível, manter distância mínima de 1,80 metros entre a parturiente e a mesa de reanimação neonatal. A mãe deve usar máscara cirúrgica durante o parto. 

A presença de uma acompanhante continua sendo garantida, enfatizando-se a importância também para este do uso de equipamentos de proteção individual. 

Avaliação do recém-nascido

Aqui é importante avaliar a vitalidade do neonato, pois isso vai implicar maior ou menor necessidade de exposição do bebê, além de definir a celeridade em clampear o cordão umbilical. 

#Ponto importante: Lembra os dados que são importantes para avaliar a vitalidade do RN? Idade gestacional, respiração, choro e tônus. Idade gestacional ≥34 semanas, respirando ou chorando adequadamente e tônus muscular em flexão ao nascimento são sinais de boa vitalidade. 

Nestes casos, não há pressa em clampear o cordão umbilical, devendo ser feito no mínimo 60 segundos depois da sua extração completa da cavidade uterina. 

Se a circulação placentária não estiver intacta, por exemplo, no descolamento prematuro de placenta e outras causas de hemorragia pós parto, ou se o RN não inicia a respiração ou não mostra tônus muscular em flexão, recomenda-se o clampeamento imediato do cordão umbilical, após estímulo tátil delicado no dorso do RN. 

Apesar de não haver qualquer evidência científica, a nota da SBP recomenda não realizar estímulo tátil se o concepto apresentar lesões cutâneas ao nascer

Contato com mãe 

#Ponto importante: O contato pele a pele entre RN e a mãe é contraindicado nos casos de MPXV suspeito ou confirmado. 

A orientação é manter mãe e bebês em quartos separados, mas se isso for inviável, medidas de precaução devem ser tomadas, como uso de roupas até o pescoço, máscara cirúrgica e luvas durante o contato com o RN. Além disso, o RN deve ter sua roupa trocada após contato com a mãe com suspeita ou confirmação de infecção. 

Aleitamento materno 

Mesmo com poucas evidências acerca do tema, a nota recomenda pelo não aleitamento materno em sala de parto, uma vez que há contato pele-a-pele durante o aleitamento e não se sabe se há passagem do MPXV pelo leite materno. 

No entanto, tanto a nota atualizada da SBP, quanto às orientações do Ministério da Saúde não se posicionam sobre o aleitamento materno fora da sala do parto, o que deixa os médicos na dúvida sobre quais orientações fornecem para as mães. O mais adequado parece ser indicar aleitamento apenas em casos de RN e mães com lesões cicatrizadas. 

Banho ao nascer 

A nota da SBP segue orientações trazidas pelo Centers for Disease Control and Prevention, onde recomenda que o banho pode ser realizado com lenços umedecidos ou água e sabão no RN saudável. O banho deve ser dado antes da realização de testes diagnósticos, vacinas ou procedimentos que leve à perfuração da pele. Essa medida visa proteger o RN da possibilidade de infecção por contato com pele e/ou mucosas contaminadas durante o parto. 

E os RNs que necessitam de reanimação neonatal? 

Não há modificações do fluxograma da reanimação neonatal para o RN de parturiente com infecção suspeita ou confirmada pelo MPXV, independentemente da sua idade gestacional e seguem as Diretrizes do Programa de Reanimação Neonatal da SBP de 2022. 

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Veja também:

Referências bibliográficas: 

  • Grupo Executivo do Programa de Reanimação Neonatal (2022-2024). Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Recomendações para a assistência na sala de parto ao recém-nascido de parturiente com infecção suspeita ou comprovada pelo vírus Monkeypox. Ago, 2022. 
  • Crédito capa: Pixabay
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