Olá, querido doutor e doutora! A carúncula uretral é uma condição benigna do meato uretral distal que pode gerar desconforto físico e preocupação clínica, especialmente em mulheres pós-menopausa. Embora seja encontrada com relativa frequência, na prática, ainda há pouca padronização nas condutas e grande variação na apresentação clínica e na resposta terapêutica.
Apesar de descrita há mais de dois séculos, permanece uma condição pouco compreendida e com literatura limitada para orientar o manejo clínico.
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O que é Carúncula uretral
A carúncula uretral é um crescimento benigno, de aspecto carnoso e pequeno volume, localizado no lábio posterior do meato uretral. Trata-se de uma protrusão focal da mucosa distal, geralmente com formato polipoide, podendo ser sésil ou pediculada.
Acomete principalmente mulheres após a menopausa e apresenta histologicamente epitélio hiperplásico, infiltrado inflamatório e vasos proeminentes no estroma. Apesar de frequentemente citada junto a outras alterações periuretrais, corresponde a uma condição distinta por envolver apenas parte da mucosa e não todo o contorno do meato.
Etiologia e fisiopatologia
A etiologia da carúncula uretral permanece incerta, e diferentes teorias foram propostas ao longo do tempo. Entre os fatores associados, destaca-se a deficiência estrogênica, especialmente após a menopausa, que favorece atrofia urogenital, redução do suporte mucoso e maior exposição da mucosa uretral distal. Esse ambiente propicia microtraumas cotidianos e irritação local, favorecendo o desenvolvimento da lesão.
A inflamação crônica é outro componente frequentemente descrito, sustentado por achados histológicos com infiltrado inflamatório e aumento da vascularização. Alguns autores sugerem que processos infecciosos ou irritativos poderiam contribuir para o estímulo hiperplásico da mucosa. Também foram propostas hipóteses relacionadas à ruptura de ductos periuretrais, embora sem comprovação consistente. Assim, a carúncula uretral parece resultar de um conjunto de alterações inflamatórias e atróficas da mucosa distal em indivíduos predispostos.
Epidemiologia
A carúncula uretral ocorre predominantemente em mulheres pós-menopausa, sendo um achado relativamente frequente na prática clínica. Os estudos disponíveis são limitados e compostos em sua maioria por séries retrospectivas, o que dificulta mensurar sua real prevalência. Há registros ocasionais em mulheres pré-menopausa e em crianças, mas essas apresentações são incomuns. Em parte das pacientes, a lesão é identificada como achado incidental durante o exame pélvico, já que muitas permanecem assintomáticas.
Avaliação clínica
A carúncula uretral pode permanecer assintomática, sendo identificada como achado durante o exame ginecológico de rotina. Quando produz sintomas, estes variam conforme o tamanho da lesão, o grau de exposição da mucosa e a presença de inflamação.
Sintomas locais
Os sinais mais comuns incluem sangramento, presença de mancha de sangue na roupa íntima, dor localizada e sensação de ardor. Algumas pacientes relatam soreness periuretral ou incômodo à palpação. Lesões maiores podem gerar dificuldade ao sentar ou atrito local.
Sintomas urinários
Podem surgir disúria, hematúria ou percepção de nódulo no meato. Apesar disso, a carúncula uretral raramente causa sintomas de armazenamento ou esvaziamento vesical. Há relatos isolados de retenção urinária aguda, geralmente relacionada a lesões volumosas ou ulceradas.
Achados ao exame
A lesão costuma apresentar coloração vermelho-vivo ou arroxeada, superfície friável e formato polipoide. Seu aspecto pode gerar apreensão por parte da paciente, principalmente quando há sangramento espontâneo.

Diagnóstico
O diagnóstico da carúncula uretral é clínico, baseado na inspeção direta do meato uretral. A lesão geralmente aparece como um nódulo carnoso, de coloração vermelho intensa ou arroxeada, localizado no lábio posterior do meato. A avaliação deve incluir exame ginecológico completo para identificar condições associadas, como atrofia urogenital.
A diferenciação de outras alterações periuretrais é importante. Entre os diagnósticos diferenciais estão divertículos uretral, uretroceles, varicosidades uretrais, abscessos periuretrais, condilomas, cistos de glândulas parauretrais e tumores primários da uretra. Em casos de dúvida diagnóstica, lesões atípicas ou sangramento persistente, pode ser necessária biópsia para excluir neoplasias, já que raros casos de melanoma, carcinoma e linfoma foram descritos na região.
A cistouretroscopia pode ser indicada quando há hematúria de causa incerta ou suspeita de alterações intraluminais, permitindo descartar divertículos, massas uretrais ou condições vesicais associadas.
Tratamento
Tratamento conservador
Representa a primeira abordagem para casos sintomáticos leves. Inclui banhos de assento mornos, aplicações de estrogênio tópico e uso de anti-inflamatórios locais. O estrogênio vaginal pode ser administrado diariamente nas primeiras semanas, seguido por manutenção intermitente, favorecendo melhora da atrofia urogenital. Embora amplamente utilizado, o benefício dessas medidas ainda carece de estudos sistemáticos, e parte das pacientes evolui sem resposta satisfatória.
Tratamento cirúrgico
Indicado para lesões volumosas, sintomáticas, de diagnóstico incerto ou quando o tratamento conservador não oferece melhora. A técnica mais adotada é a excisão completa, que apresenta bons resultados e baixa taxa de recorrência na maioria das séries. O procedimento pode ser associado a sutura cuidadosa da mucosa para evitar estenose meatal. Em alguns serviços, a cistouretroscopia é realizada previamente para excluir patologias uretrais ou vesicais concomitantes.
Outras abordagens relatadas incluem cauterização, eletrocoagulação, ligadura da base da lesão e técnicas minimamente invasivas como ressecção plasmacinética, estas últimas com recuperação mais rápida, embora disponíveis apenas em séries pequenas. Em situações selecionadas, o uso de ligadura simples permite queda espontânea da lesão sem necessidade de anestesia.
Complicações e recorrência
As complicações da carúncula uretral relacionam-se principalmente ao método de tratamento, em especial às técnicas cirúrgicas. Após excisão, podem ocorrer estenose uretral, desconforto miccional transitório e, raramente, disfunção miccional persistente. A ocorrência de estenose está ligada a ressecção extensa e à cicatrização com retração da mucosa, motivo pelo qual se recomenda suturas delicadas e tecido previamente bem estrogenizado.
A recorrência em geral é pouco frequente nas séries em que se realiza excisão completa, mas pode ocorrer especialmente em casos com inflamação crônica persistente ou quando há lesão de tipo pseudo granulomatoso associado a infecção. Alguns relatos descrevem taxas mais altas de recidiva nesse subtipo, sugerindo que o controle adequado de processos infecciosos e irritativos é importante na redução de novos episódios. Em técnicas destrutivas que não proporcionam material para biópsia, além da possibilidade de recidiva, permanece o risco de diagnóstico perdido de neoplasias raras da região periuretral.
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Referências Bibliográficas
- VERMA, Vandna; PRADHAN, Ashish. Management of urethral caruncle: A systematic review of the current literature. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, v. 248, p. 5–8, 2020.



