A chikungunya é uma arbovirose comum, principalmente nos períodos chuvosos no Brasil. Como médicos, com certeza iremos nos deparar com casos e períodos de epidemia da doença, sendo importante conhecer como manejar esta condição.
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Dicas do Estratégia para provas
Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à chikungunya:
- A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica. A fase aguda é marcada por síndrome febril e dores articulares intensas.
- As complicações graves são mais raras que na dengue e incluem meningoencefalite, descompensação cardiopulmonar e insuficiência renal aguda.
- O diagnóstico laboratorial pode ser feito de maneira direta, através do RNA viral ou através de testes sorológicos indiretos.
- O tratamento é de suporte com hidratação e observação dos sinais de alarme, não existindo terapia antiviral específica.
- Por mais que haja divergência da literatura internacional, o tratamento da dor na fase aguda é feito com analgésico simples, evitando-se os AINHs. O manejo da fase subaguda ou crônica pode ser feito com corticoide oral.
Definição da doença
A chikungunya é uma arbovirose marcada pela presença de síndrome febril e dores articulares intensas.
Epidemiologia e fisiopatologia da chikungunya
O vírus Chikungunya é endêmico em partes da África Ocidental. Surtos da doença chikungunya ocorreram na África, Ásia, Europa, ilhas nos oceanos Índico e Pacífico e, posteriormente, nas Américas. A maioria dos surtos ocorre durante a estação tropical chuvosa e diminui durante a estação seca.
O vírus foi introduzido no continente americano em 2013, sendo pela primeira vez diagnosticado por exame sorológicos no Brasil em 2014, nos estados do Amapá e Bahia. Atualmente, todos os estados brasileiros apresentam casos da doença.
O vírus da Chikungunya faz parte da família Togaviridae e do gênero Alphavirus. É transmitida pelos mosquitos vetores Aedes aegypti (Brasil) e Aedes albopictus. Esses mosquitos vetores também são capazes de transmitir o vírus Zika e o vírus da dengue.
Manifestações clínicas de chikungunya
A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica. Após o período de incubação que dura em média 3 a 7 dias, inicia-se a fase aguda ou febril, que dura até o décimo dia. A fase aguda ou febril da doença é caracterizada principalmente por febre de início súbito e surgimento de intensa poliartralgia, geralmente acompanhada de dores nas costas, cefaleia e fadiga, com duração média de sete dias.
#Ponto importante: A queda de temperatura não é associada à piora dos sintomas como na dengue.
A dor articular é o sintoma mais incômodo, ocorrendo em até 90% dos pacientes na fase aguda, normalmente é poliarticular e simétrica, mas pode haver assimetria.
Quando a duração dos sintomas persistem até 3 meses atingem a fase crônica. Nestas fases, algumas manifestações clínicas podem variar de acordo com o sexo e a idade. Exantema, vômitos, sangramento e úlceras orais parecem estar mais associados ao sexo feminino. Dor articular, edema e maior duração da febre são prevalentes quanto maior a idade do paciente.
Na região das Américas, até o momento, a letalidade por chikungunya é menor do que a observada por dengue. Os casos graves e óbitos ocorrem com maior frequência em pacientes com comorbidades e em extremos de idade.
As complicações mais graves da doença podem ser ocasionadas por efeitos diretos do vírus, pela resposta imunológica ou pela toxicidade a medicamentos. Alguma delas são descritas na tabela abaixo:
Diagnóstico de chikungunya
O diagnóstico de infecção pelo vírus chikungunya deve ser pensado nos pacientes com início agudo de febre e poliartralgia e exposição epidemiológica relevante. O diagnóstico laboratorial da infecção pode ser realizado de forma direta, por meio do isolamento viral e da pesquisa do RNA viral em diferentes amostras clínicas, ou de forma indireta por intermédio da pesquisa de anticorpos específicos.
#Ponto importante: Enquanto a pesquisa de RNA é melhor acurada do primeiro ao quinto dia de sintomas, os testes sorológicos que permitem a detecção de anticorpos específicos do tipo IgM são mais indicados a partir do quinto dia e do tipo IgG, a partir do sexto dia.
Sinais de gravidade devem ser pesquisados em todo paciente com chikungunya e podem surgir nas fases aguda e subaguda, incluindo:
- Sinais de choque, instabilidade hemodinâmica;
- Sintomas neurológicos, incluindo irritabilidade, sonolência, dor de cabeça intensa e persistente, crises convulsivas e déficit de força;
- Dor torácica, palpitações e arritmias (taquicardia, bradicardia ou outras arritmias);
- Dispneia, que pode significar acometimento cardíaco ou pulmonar por pneumonite ou decorrente de embolia secundária a trombose venosa profunda em pacientes com artralgia, edema e imobilidade significativa;
- Redução do débito urinário;
- Vômitos persistentes;
- Sangramento de mucosas; e
- Descompensação de doenças de base.
Conforme a presença de sinais de alarme e presença de comorbidades, a conduta irá mudar conforme é descrito no algoritmo do Manual de Manejo Clínico da Chikungunya do Ministério da Saúde:
Tratamento de chikungunya
Para o tratamento da chikungunya não há terapia antiviral específica e o manejo durante a fase aguda é de suporte, incluindo repouso, fluidos e analgésicos para controle da dor.
Segundo o Manual de Manejo Clínico do Ministério da Saúde, é contraindicado o uso de anti-inflamatórios não hormonais (AINH), não devendo ser prescritos como drogas de primeira linha devido ao risco de sangramento aumentado desses pacientes.
Desta forma, recomenda que a dor de leve intensidade pode ser tratada com dipirona ou paracetamol. Nos casos de dor intensa, além dos dois analgésicos já descritos, pode ser associado um opioide, como codeína e tramadol.
As recomendações internacionais, como a descrita no Uptodate, em pacientes nos quais a dengue foi excluída, os AINEs são primeira escolha devido ao componente inflamatório das dores articulares, como ibuprofeno ou cetoprofeno. Os glicocorticoides são contraindicados na fase aguda.
Com medidas não farmacológicas, recomenda-se a utilização de compressas frias como medida analgésica nas articulações acometidas de 4 em 4 horas por 20 minutos.
Na sua fase subaguda ou crônica, o uso de corticoide é indicado para a doença, quando há dor moderada a intensa, com dose de 0,5 mg/kg de peso/dia, em dose única pela manhã.
Pacientes com dor persistente mesmo em uso de corticoides, o encaminhamento para o reumatologista se torna a melhor conduta, pois drogas reumatológicas podem auxiliar no manejo da dor, incluindo hidroxicloroquina e metotrexato.
Veja também:
- Resumo sobre a dengue hemorrágica: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo sobre ELISA: indicações, farmacologia e mais!
- Resumo de epidemiologia das doenças infecciosas: principais tópicos
Referências bibliográficas:
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Chikungunya : manejo clínico. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
- Deborah J Lenschow, MD, PhDMary Elizabeth Wilson, MD. Chikungunya fever: Treatment and prevention. Uptodate, 2023.
- Ojeda Rodriguez JA, Haftel A, Walker, III JR. Chikungunya Fever. [Updated 2023 Jan 10]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534224/
- Crédito da imagem em destaque: Pexels