Olá, querido doutor e doutora! A Chlamydia trachomatis é uma bactéria responsável por uma das infecções sexualmente transmissíveis (IST) mais prevalentes no mundo, com impacto significativo na saúde pública global. Além de sua alta transmissibilidade, muitas vezes assintomática, a infecção está associada a complicações graves, como infertilidade, gravidez ectópica e doença inflamatória pélvica em mulheres, além de uretrite e epididimite em homens. No texto abaixo trouxemos os principais aspectos relacionados à Chlamydia trachomatis, incluindo sua epidemiologia, diagnóstico e manejo, destacando a importância de uma abordagem clínica eficaz para a prevenção de complicações e redução da disseminação.
A Chlamydia trachomatis é uma bactéria intracelular obrigatória, capaz de causar uma ampla variedade de infecções em diferentes sistemas do corpo humano.
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Conceito de Chlamydia
A Chlamydia trachomatis é uma bactéria intracelular obrigatória e gram-negativa que causa infecções sexualmente transmissíveis (IST) amplamente prevalentes no mundo. Além de doenças genitais, essa bactéria está associada a infecções oculares como o tracoma, uma das principais causas infecciosas de cegueira globalmente.
Estrutura da Chlamydia
A Chlamydia trachomatis é uma bactéria intracelular obrigatória, pertencente ao grupo das gram-negativas. Apresenta uma estrutura única e um ciclo de vida diferenciado, fundamentais para sua sobrevivência e capacidade de infecção. Do ponto de vista estrutural, a C. trachomatis possui:
- Membrana externa: composta por lipopolissacarídeos, característicos de bactérias gram-negativas, e proteínas específicas que facilitam a adesão às células hospedeiras.
- Tamanho reduzido: com dimensões que variam entre 0,2 a 0,4 micrômetros, é uma das menores bactérias conhecidas.
- DNA e RNA: consegue sintetizar seu próprio material genético e proteínas, embora dependa da célula hospedeira para obtenção de energia e nutrientes.
A característica mais marcante de sua biologia é o ciclo de vida bifásico, que alterna entre:
- Corpo elementar: forma infecciosa, metabolicamente inativa e altamente resistente a condições adversas. É responsável pela transmissão e adesão às células hospedeiras.
- Corpo reticulado: forma replicativa, metabolicamente ativa, que utiliza os recursos da célula hospedeira para multiplicar-se. Na célula, os corpos elementares se diferenciam em corpos reticulados, que se multiplicam e posteriormente se convertem novamente em corpos elementares para reiniciar o ciclo infeccioso.
Epidemiologia da Chlamydia
A Chlamydia trachomatis é a causa mais frequente de infecções sexualmente transmissíveis bacterianas no mundo. Apresenta uma prevalência duas vezes maior em mulheres do que em homens, sendo mais comum em jovens de 15 a 24 anos. Globalmente, a infecção é altamente disseminada, afetando milhões de pessoas anualmente, com taxas especialmente elevadas em populações com acesso limitado a cuidados de saúde e programas de rastreamento. Os principais fatores associados ao risco de infecção incluem:
- Idade jovem: adolescentes e adultos jovens apresentam as maiores taxas de infecção, devido a comportamentos de maior exposição, como múltiplos parceiros sexuais.
- Práticas sexuais: relações sexuais desprotegidas, múltiplos parceiros e histórico de infecções sexualmente transmissíveis aumentam significativamente o risco.
- Sexo biológico: mulheres são mais frequentemente diagnosticadas, possivelmente devido a programas de rastreamento focados no sexo feminino e maior suscetibilidade anatômica.
- Falta de rastreamento: indivíduos que não participam de programas de triagem rotineira correm maior risco de infecções não detectadas.
- Condições socioculturais: acesso limitado a preservativos, informações educacionais e cuidados de saúde aumenta a vulnerabilidade, especialmente em regiões de baixa renda.
- Gravidez: mulheres grávidas não tratadas podem transmitir a infecção ao bebê durante o parto, causando conjuntivite ou pneumonia neonatal.
Patologias Associadas a Chlamydia
- Nas mulheres: cervicite, uretrite, doença inflamatória pélvica (DIP) e perihepatite (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis). Em casos não tratados, pode resultar em infertilidade e gravidez ectópica.
- Nos homens: uretrite, epididimite, prostatite e artrite reativa.
- Infecções neonatais: recém-nascidos expostos durante o parto podem desenvolver conjuntivite ou pneumonia.
- Manifestações extragenitais: conjuntivite, faringite, proctite e linfogranuloma venéreo (LGV). Este último é caracterizado por úlceras genitais e linfadenopatia inguinal.
Diagnóstico da Chlamydia
Testes de Amplificação de Ácidos Nucleicos (NAAT)
Os testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT) são o padrão-ouro para a detecção dessa infecção, oferecendo alta sensibilidade e especificidade. Esses testes podem ser realizados em amostras de swab vaginal ou endocervical em mulheres e em urina de primeira coleta ou swab uretral em homens.
Outros Testes
Em casos de suspeita de infecções extragenitais, como proctite ou faringite, podem ser usados swabs retais ou faríngeos. Apesar de menos comuns, testes rápidos de antígeno e imunofluorescência direta podem ser usados em locais com recursos limitados, enquanto a cultura bacteriana é reservada para contextos específicos devido ao custo e à complexidade do processo.
Rastreamento
O rastreamento é altamente recomendado para mulheres sexualmente ativas com menos de 25 anos, indivíduos com múltiplos parceiros sexuais ou histórico de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), homens que fazem sexo com homens e gestantes, especialmente no primeiro trimestre. É essencial também avaliar e tratar os parceiros sexuais de indivíduos diagnosticados, mesmo que estejam assintomáticos, para interromper a cadeia de transmissão.
Tratamento da Chlamydia
O tratamento de primeira linha para infecções genitais não complicadas é a administração de azitromicina 1 g em dose única oral devido à sua eficácia e conveniência posológica. Outra opção eficaz é a doxiciclina 100 mg duas vezes ao dia por 7 dias. Alternativas incluem eritromicina, levofloxacino e ofloxacino, que podem ser usados em casos de intolerância ou contraindicação aos medicamentos de primeira escolha.
Em casos de linfogranuloma venéreo (LGV), a doxiciclina é a droga preferida, sendo administrada na dose de 100 mg duas vezes ao dia por 21 dias. Quando a doxiciclina é contraindicada, como durante a gravidez, a azitromicina pode ser usada como alternativa. Infecções anoretais causadas por C. trachomatis também respondem bem à doxiciclina, mas o regime terapêutico deve ser ajustado conforme a gravidade e o contexto clínico.
Após o início do tratamento, os pacientes devem ser orientados a evitar atividade sexual por pelo menos 7 dias para reduzir o risco de reinfecção ou transmissão. É recomendável também notificar e tratar os parceiros sexuais, além de realizar reteste após três meses para verificar a cura e prevenir infecções recorrentes.
Gestantes
Para mulheres grávidas, a azitromicina 1 g em dose única oral é a opção recomendada, por ser segura durante a gestação. Outras opções incluem amoxicilina 500 mg três vezes ao dia por 7 dias ou eritromicina, embora esta última esteja associada a maiores efeitos colaterais.
Neonatos
Neonatos com conjuntivite ou pneumonia causada por C. trachomatis devem ser tratados com eritromicina 50 mg/kg/dia, divididos em quatro doses diárias por 14 dias. A azitromicina é uma alternativa viável, administrada em uma dose de 20 mg/kg/dia por três dias. É importante monitorar neonatos tratados com eritromicina, ao haver risco de estenose hipertrófica do piloro.
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Referências Bibliográficas
- MOHSENI, Michael; SUNG, Sharon; TAKOV, Veronica. Chlamydia. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK537286/. Acesso em: 18 nov. 2024.