Olá, querido doutor e doutora! Os complexos ventriculares prematuros (PVCs) representam uma das arritmias mais frequentes na prática clínica, podendo ocorrer tanto em corações estruturalmente normais quanto em pacientes com cardiopatias. Na maioria das vezes, trata-se de achados benignos e assintomáticos, porém, em situações de alta carga, podem gerar sintomas relevantes e até induzir disfunção ventricular reversível.
A ablação por cateter é considerada opção terapêutica em casos de cardiomiopatia induzida por PVCs ou refratariedade ao tratamento medicamentoso.
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Conceito
Os complexos ventriculares prematuros (PVCs) correspondem a batimentos ectópicos originados nos ventrículos, que surgem antes da ativação esperada pelo nó sinusal. No eletrocardiograma, caracterizam-se por QRS alargado (geralmente >120 ms), sem onda P precedente e, na maioria das vezes, seguidos de uma pausa compensatória.
Fatores de risco
Em síntese, os PVCs podem refletir tanto um fenômeno benigno associado a estímulo adrenérgico transitório quanto manifestação de uma cardiopatia estrutural subjacente.
Categoria | Exemplos |
Cardíacas | Doença arterial coronariana; Infarto agudo do miocárdio; Miocardite; Contusão cardíaca; Cardiomiopatias (dilatada, hipertrófica, arritmogênica); Prolapso da valva mitral; Insuficiência cardíaca |
Não Cardíacas | Distúrbios eletrolíticos (hipocalemia, hipomagnesemia, hipercalcemia); Hipóxia; Hipercapnia; Anemia; Hipertireoidismo; Distúrbios adrenais; Apneia obstrutiva do sono; Hipertensão pulmonar; Estresse e privação de sono |
Fármacos/Substâncias | Cafeína; Nicotina; Álcool; Cocaína; Anfetaminas; Metanfetaminas; Digoxina; Antidepressivos tricíclicos; Simpatomiméticos; Broncodilatadores β-adrenérgicos |
Demográficos/Clínicos | Idade avançada; Sexo masculino; Hipertensão arterial sistêmica; Etnia negra; História familiar de arritmias ou morte súbita |
Epidemiologia
A ocorrência dos complexos ventriculares prematuros (PVCs) varia conforme a população estudada e o tempo de monitorização utilizado. Em registros de curta duração, como eletrocardiogramas de 10 segundos a 2 minutos, a prevalência fica em torno de 1,8% a 6,2%. Já em monitorização contínua de 24 horas por Holter, PVCs são observados em 40% a 100% dos indivíduos sem cardiopatia estrutural, aumentando quase universalmente em idosos.
Estudos demonstram maior frequência em homens, pessoas de idade avançada, hipertensos e indivíduos de etnia negra. Além disso, a presença de doença arterial coronariana, níveis baixos de potássio e magnésio e a associação com outras arritmias supraventriculares elevam ainda mais sua prevalência.
Portanto, embora muitas vezes sejam um achado incidental, os PVCs tornam-se mais comuns à medida que aumenta a idade e a carga de fatores de risco cardiovasculares.
Avaliação clínica
Pacientes assintomáticos
Grande parte dos indivíduos com complexos ventriculares prematuros (PVCs) não apresenta manifestações clínicas. Nesses casos, a arritmia costuma ser detectada de forma incidental em eletrocardiogramas de rotina ou durante monitorização cardíaca.
Sintomas comuns
Entre os sintomáticos, o relato mais frequente é de palpitações, descritas como batimentos “extras”, “falhados” ou de intensidade aumentada. Além disso, podem ocorrer tontura, fadiga e sensação de cabeça leve, especialmente em pacientes com elevada carga de ectopias.
Manifestações cardiovasculares
Em portadores de cardiopatia estrutural, os PVCs podem exacerbar sintomas já existentes, como dispneia, dor torácica e intolerância ao esforço. Em situações de alta frequência, há risco de desenvolver cardiomiopatia induzida por PVCs, caracterizada por dilatação ventricular e queda da fração de ejeção, geralmente reversível após tratamento.
Quadros graves
Casos mais raros podem evoluir com pré-síncope ou síncope, principalmente quando há episódios repetitivos ou taquicardias ventriculares não sustentadas. Situações em que os PVCs ocorrem sobre a onda T (fenômeno “R sobre T”) podem precipitar arritmias ventriculares malignas, incluindo fibrilação ventricular.
Diagnóstico
O diagnóstico dos complexos ventriculares prematuros (PVCs) baseia-se na combinação entre avaliação clínica, exames eletrocardiográficos e investigação de cardiopatia estrutural.
Eletrocardiograma de 12 derivações (ECG)
É o principal método inicial. O PVC aparece como QRS largo e bizarro (>120 ms), sem onda P precedente, geralmente seguido de pausa compensatória completa. A morfologia do QRS auxilia na identificação da origem: padrão de bloqueio de ramo esquerdo sugere foco no ventrículo direito, enquanto padrão de bloqueio de ramo direito aponta para origem no ventrículo esquerdo.
Monitorização ambulatorial (Holter ou registradores prolongados)
Indicada para pacientes com sintomas esporádicos ou suspeita de alta carga de ectopias. O Holter de 24 a 48 horas quantifica a frequência dos PVCs, sua variabilidade e correlação com sintomas. Em casos de queixa persistente sem correlação, podem ser utilizados registradores de eventos ou loop recorders.
Exames de imagem
- Ecocardiograma transtorácico: avalia fração de ejeção e presença de cardiopatia estrutural.
- Ressonância magnética cardíaca: útil em investigação de miocardite, fibrose ou cardiomiopatia arritmogênica.
- Tomografia e PET: podem ser utilizados em casos de doença infiltrativa ou suspeita de sarcoidose cardíaca.
Testes funcionais
- Teste ergométrico: identifica PVCs induzidos pelo exercício e diferencia aqueles que surgem apenas na fase de recuperação, de pior prognóstico.
- Estudo eletrofisiológico: reservado para casos refratários ou de difícil diagnóstico, especialmente quando há suspeita de taquiarritmia sustentada ou indicação de ablação.
Exames laboratoriais complementares
Devem incluir investigação de distúrbios eletrolíticos (potássio, magnésio, cálcio), função tireoidiana, marcadores de isquemia e rastreio de drogas ou toxinas.
Tratamento
Medidas gerais
Nos pacientes assintomáticos e sem doença estrutural cardíaca, muitas vezes a conduta é apenas de observação e acompanhamento clínico. Orientações incluem a redução de cafeína, álcool, nicotina e outras substâncias estimulantes, além da correção de distúrbios eletrolíticos e do tratamento de apneia obstrutiva do sono quando presente.
Tratamento farmacológico
- Betabloqueadores: são considerados a primeira escolha, principalmente em PVCs relacionados a estresse adrenérgico ou esforço.
- Bloqueadores de canal de cálcio não diidropiridínicos (verapamil, diltiazem): indicados para pacientes intolerantes aos betabloqueadores ou com PVCs de origem idiopática.
- Antiarrítmicos classe Ic (flecainida, propafenona): podem ser usados em pacientes sintomáticos sem cardiopatia estrutural, sempre com cautela devido ao risco de pró-arritmia.
- Amiodarona: opção em pacientes com cardiopatia estrutural relevante ou insuficiência cardíaca, quando outras terapias falharam; deve ser usada sob vigilância por seus efeitos adversos.
Ablação por cateter
A ablação por radiofrequência está indicada em casos de:
- Cardiomiopatia induzida por PVCs (carga geralmente >10-15% dos batimentos).
- Sintomas refratários apesar de tratamento medicamentoso.
- PVCs frequentes que prejudicam terapia de ressincronização cardíaca.
O procedimento apresenta elevadas taxas de sucesso, com melhora significativa da fração de ejeção nos casos de disfunção ventricular associada.
Conduta expectante
Pacientes assintomáticos, com fração de ejeção preservada e sem cardiopatia estrutural podem ser apenas acompanhados clinicamente, com reavaliações periódicas por Holter e ecocardiograma.
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Referências Bibliográficas
- SATTAR, Yasar; HASHMI, Muhammad F. Premature Ventricular Complex. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK547713/. Acesso em: 28 set. 2025.
- PAPAGEORGIOU, Panagiotis; OETTGEN, Peter. Premature Ventricular Contractions (PVCs). DynaMed. Ipswich (MA): EBSCO Information Services, 2024. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/premature-ventricular-contractions-pvcs. Acesso em: 28 set. 2025.