Resumo de Diabetes Tipo 5: definição, epidemiologia e mais!
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Resumo de Diabetes Tipo 5: definição, epidemiologia e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Nos últimos anos, o avanço no conhecimento sobre formas atípicas de diabetes tem ampliado a necessidade de novas classificações. O diabetes tipo 5, recentemente reconhecido pela IDF, destaca-se por sua associação com desnutrição em populações jovens e vulneráveis. O entendimento dessa condição permite uma abordagem mais precisa, tanto no diagnóstico quanto no manejo clínico. Este texto apresenta uma visão atualizada e estruturada sobre o tema, voltada à prática médica.

A ausência de cetose, mesmo com hiperglicemia importante, é um dos achados clínicos que ajuda a diferenciar o tipo 5 do tipo 1.

Conceito 

O diabetes tipo 5 corresponde a uma forma distinta de diabetes associada à desnutrição calórico-proteica severa, especialmente durante a vida fetal ou na infância precoce. Essa condição compromete o desenvolvimento das células beta pancreáticas, resultando em uma produção insuficiente de insulina — embora ainda presente em níveis que impedem a ocorrência de cetoacidose. Os pacientes são, em geral, jovens, magros e provenientes de regiões com alta vulnerabilidade social e insegurança alimentar

Em abril de 2025, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) oficializou essa categoria diagnóstica, anteriormente conhecida como diabetes relacionado à desnutrição, durante o Congresso Mundial de Diabetes em Bangkok. A medida visa diferenciar essa apresentação clínica das demais formas já conhecidas, como os tipos 1 e 2, e estimular o desenvolvimento de diretrizes específicas para diagnóstico e tratamento.

Histórico e reconhecimento internacional  

A descrição do que hoje chamamos de diabetes tipo 5 remonta a mais de sete décadas. O primeiro relato clínico foi feito na Jamaica, em 1955, o que levou à denominação inicial de diabetes tipo J. Na época, também era chamado de diabetes tropical, pela sua ocorrência frequente em regiões de clima quente e de baixa renda. Em 1985, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a reconhecer a condição como uma forma distinta de diabetes, denominada diabetes relacionado à desnutrição. No entanto, essa categoria foi removida da classificação oficial em 1999, sob a justificativa de que as evidências eram insuficientes para estabelecer uma relação causal direta entre desnutrição e diabetes.

Essa ausência de reconhecimento formal perdurou até abril de 2025, quando a Federação Internacional de Diabetes (IDF), após reunião com especialistas e sociedades científicas internacionais, reconheceu oficialmente a doença como diabetes tipo 5. O anúncio foi feito durante o Congresso Mundial de Diabetes, realizado em Bangkok, e marcou o início de um movimento global para desenvolver critérios diagnósticos padronizados e orientações terapêuticas nos próximos dois anos. A decisão foi impulsionada por estudos recentes que demonstraram características clínicas e metabólicas únicas da doença, além da sua expressiva prevalência em países da Ásia, África e América Latina.

Fisiopatologia 

O diabetes tipo 5 decorre de uma deficiência funcional adquirida nas células beta pancreáticas, associada à desnutrição calórico-proteica grave durante períodos críticos do desenvolvimento, especialmente na vida intrauterina e na infância. Ao contrário do diabetes tipo 1, que envolve um processo autoimune com destruição completa das células produtoras de insulina, no tipo 5 há uma redução quantitativa e qualitativa dessas células, sem evidência de autoanticorpos. Como resultado, esses pacientes apresentam produção insuficiente, porém residual, de insulina.

Estudos metabólicos recentes evidenciaram que indivíduos com diabetes tipo 5 têm uma capacidade significativamente reduzida de secreção de insulina, mesmo quando comparados a indivíduos magros sem diabetes e a pacientes com DM2. Além disso, observou-se baixa produção hepática de glicose, maior captação periférica de glicose e níveis marcadamente reduzidos de gordura visceral e lipídios hepáticos — características que afastam o quadro da resistência insulínica clássica observada no DM2. Essa fisiopatologia singular explica por que esses pacientes não desenvolvem cetoacidose, mesmo com hiperglicemias acentuadas, e também justifica o risco de hipoglicemia grave quando se utiliza insulinoterapia em doses elevadas.

Epidemiologia 

O diabetes tipo 5 afeta predominantemente indivíduos que vivem em contextos de baixa renda e insegurança alimentar, sendo mais prevalente em países da Ásia, África Subsaariana e América Latina. Estima-se que essa forma de diabetes acometa entre 20 a 25 milhões de pessoas no mundo, embora os dados ainda sejam imprecisos devido à subnotificação e ao diagnóstico equivocado como DM1.

Os pacientes costumam ser homens jovens, com menos de 30 anos, e IMC inferior a 19, muitas vezes residentes de áreas rurais e com histórico de desnutrição durante fases precoces da vida. Essa apresentação clínica contribui para o subdiagnóstico, já que o fenótipo magro e a idade jovem frequentemente levam à classificação como diabetes tipo 1. No entanto, ao contrário do DM1, esses pacientes não apresentam autoanticorpos nem evoluem com cetoacidose, o que levanta suspeitas clínicas quando bem investigado.

A situação é particularmente grave em regiões onde o acesso à saúde é limitado, dificultando o diagnóstico correto e comprometendo o seguimento clínico. Isso contribui para uma alta taxa de complicações crônicas e mortalidade precoce, especialmente quando há ausência de suporte nutricional e farmacológico adequado.

Avaliação clínica e Diagnóstico 

O quadro clínico do diabetes tipo 5 é marcado por hiperglicemia persistente em indivíduos jovens e magros, geralmente sem sinais de cetoacidose, mesmo diante de glicemias elevadas. Os sintomas clássicos do diabetes, como poliúria, polidipsia, perda de peso e fraqueza, estão presentes, mas muitas vezes se instalam de forma insidiosa e progressiva. Uma característica importante é a resposta limitada à insulinoterapia tradicional, que pode resultar em episódios de hipoglicemia grave quando aplicada em doses semelhantes às utilizadas no DM1.

Do ponto de vista laboratorial, os pacientes apresentam:

  • Ausência de autoanticorpos pancreáticos, como anti-GAD e anti-IA2;
  • Presença de peptídeo C detectável, indicando produção residual de insulina;
  • Glicemia de jejum elevada e hemoglobina glicada compatível com diabetes;
  • IMC geralmente abaixo de 19 kg/m².

No diagnóstico diferencial, o maior desafio é distinguir o tipo 5 do diabetes tipo 1, devido à sobreposição de idade e fenótipo. No entanto, a ausência de cetose, a presença de insulina endógena e o risco de hipoglicemia com doses usuais de insulina são elementos que apontam para o diagnóstico correto. O diabetes tipo 2 costuma ser afastado pela ausência de obesidade e de resistência insulínica clássica, além do início mais tardio.

É esperado que, com o reconhecimento oficial da condição pela IDF, surjam em breve diretrizes clínicas específicas, que auxiliarão na padronização do tratamento e no acesso a recursos terapêuticos mais apropriados às populações afetadas.

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Referências Bibliográficas 

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. IDF reconhece nova classificação para o diabetes tipo 5.
  2. TUCKER, Miriam E. Malnutrition-Related Diabetes Officially Named ‘Type 5’. Medscape Medical News, 11 abr. 2025.
  3. APM – ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. Diabetes tipo 5: saiba o que é nova classificação e se você pode ter a doença
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