Resumo de filariose linfática (elefantíase): diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de filariose linfática (elefantíase): diagnóstico, tratamento e mais!

A filariose linfática, conhecida popularmente com elefantíase, é uma doença parasitária potencialmente erradicável, devido a suas características epidemiológicas. Por este motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs estratégias em 1997, para sua erradicação até 2020.  

Confira os principais aspectos referentes a esta parasitose, que aparecem nos atendimentos e como são cobrados nas provas de residência médica!

Dicas do Estratégia para provas

Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à filariose linfática.

  • É causada pelo verme nematóide Wuchereria bancrofti  e transmitida por mosquitos da espécie Culex quinquefasciatus. 
  • Os quadros agudos tendem a ocorrer em áreas endêmicas, com linfangite filarial aguda (LFA)
  • A hidrocele e o linfedema agudos ocorrem após um episódio de LFA. 
  • O diagnóstico envolve esfregaço de sangue periférico, teste antígeno e a identificação do verme na USG, principalmente de escroto. 
  • O tratamento de escolha é a dietilcarbamazina. 

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Definição da doença

A filariose linfática (FL), é uma doença parasitária crônica causada principalmente pelo verme nematóide Wuchereria bancrofti e transmitidas por mosquitos vetores, uma das maiores causas mundiais de incapacidades permanentes ou de longo prazo em áreas endêmicas.  

Epidemiologia e fisiopatologia da filariose

Estimava-se até final da década de 90 que cerca de 120 milhões de pessoas estavam infectadas com Wuchereria bancrofti.  No entanto, com a implementação do programa global de administração em massa de medicamentos para eliminar a transmissão e erradicar a filariose, houve uma diminuição substancial nos casos de  entre 2000 e 2018 , de uma estimativa de 199 milhões para aproximadamente 50 milhões.  

No entanto, as taxas de infecção permanecem altas em áreas endêmicas que ainda não implementaram o programa global. Atualmente, no Brasil, a parasitose apresenta distribuição urbana e nitidamente focal, sendo detectada transmissão ativa somente em Recife e cidades de sua região metropolitana, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista. 

Agente etiológico 

Mais de 90% dos casos de filariose linfática são devidos ao W. bancrofti , enquanto o restante se deve em grande parte ao B. malayi. Nas Américas, apenas a espécie W. bancrofti causa filariose linfática, sendo, portanto, a espécie que particularmente nos interessa, pois é responsável pelos casos que ocorrem no Brasil. 

O ciclo de vida da filariose começa com a introdução de larvas na pele humana por um mosquito enquanto ele se alimenta com o sangue do indivíduo. No Brasil a FL é transmitida por mosquitos da espécie Culex quinquefasciatus (conhecido popularmente como pernilongo ou muriçoca) e apenas as fêmeas são vetores do parasito, porque somente estas são hematófagas.  

Mosquito Culex quinquefasciatus. Crédito: Wikipedia 

O único reservatório do parasito é o ser humano que apresenta microfilárias no sangue, após o parasito penetrar a pele e entrar nos vasos linfáticos locais. Neste local, as larvas se desenvolvem em vermes adultos maduros (fêmea mede de 7 a 10cm e macho 3,5 a 4cm), que acasalam e produzem microfilárias com bainha de revestimento durante o período noturno. 

Verme adulto. Crédito: MS, Guia de vigilância epidemiológica e eliminação da filariose linfática, 2009. 

O Culex ingere as microfilárias durante uma refeição de sangue em indivíduos infectados, que se desenvolvem em larvas no mosquito e que podem infectar outro ser humano, completando o ciclo de vida. 

#Ponto importante: A pessoa infectada pode transmitir microfilárias por longos períodos, devido à longevidade dos vermes adultos, em geral 4 a 8 anos, podendo ser mais. 

Crédito: MS, Guia de vigilância epidemiológica e eliminação da filariose linfática, 2009. 

Fisiopatologia

A maioria dos indivíduos portadores de vermes adultos vivos é clinicamente assintomática, embora eles possam ser responsáveis ​​pela linfangiectasia subclínica e dilatação linfática, ambas as quais podem ser observadas no início da infecção. Vermes adultos vivos nos vasos linfáticos podem causar obstrução mecânica, mas normalmente não induzem uma resposta inflamatória. 

Já a presença de aglomerado de filárias nos vasos linfáticos de pequeno calibre pode levar a uma obstrução parcial intermitente da circulação ou perda permanente de sua competência, que poderá permanecer mesmo após a eliminação dos parasitos, e como consequência haverá estase ou congestão da linfa na área drenada pelo vaso afetado. 

Manifestações clínicas da filariose linfática

As manifestações clínicas mais frequentes ocorrem em órgãos genitais e membros inferiores. As manifestações clínicas podem ser agudas ou crônicas, e em áreas endêmicas, pela possibilidade de reinfecção, podem ocorrer simultaneamente no mesmo indivíduo. 

Boa parte dos indivíduos portadores de vermes adultos vivos possuem linfangiectasia com dilatação de vasos linfáticos de maneira assintomática. No sistema linfático, a morte desses vermes adultos, espontânea ou devida ao tratamento terapêutico, pode resultar apenas na formação subclínica de nódulos granulomatosos. 

Os quadros agudos tendem a ocorrer em áreas endêmicas, com linfangite filarial aguda (LFA), uma reação localizada caracterizada pelo aumento do linfonodo ou pelo aparecimento de nódulo no trajeto do vaso linfático, associando-se ocasionalmente a sinais inflamatórios e sintomas gerais como febre, cefaléia, fraqueza e dor muscular. 

Linfangite filarial aguda (LFA). Em destaque o sentido descendente da linfangite. Crédito: MS, Guia de vigilância epidemiológica e eliminação da filariose linfática, 2009.

As manifestações crônicas da filariose linfática incluem linfedema, hidrocele e envolvimento renal. A hidrocele e o linfedema agudos que ocorre após um episódio de LFA, provavelmente resultam de uma obstrução parcial e temporária do vaso linfático, causada pela reação inflamatória desencadeada pela desintegração dos vermes adultos. 

Os locais mais comuns de linfedema são os membros inferiores, mas podem acometer os membros superiores. A inflamação crônica leva a edema forte e não depressível e endurecimento dos tecidos, resultando em hiperpigmentação e hiperqueratose. O linfedema grave é algumas vezes referido como elefantíase.

O desenvolvimento de hidrocele pode ser uni ou bilateral, são geralmente indolores,  podendo alcançar 30 cm de diâmetro ou mais. A hidrocele pode complicar com infecção bacteriana e ocasionar dor intensa. 

Perna com filariose. Crédito: Uptodate
Hidrocele. Crédito: MS, Guia de vigilância epidemiológica e eliminação da filariose linfática, 2009. 

Lista de manifestações:

  • Linfangiectasia assintomática
  • Linfadenite aguda 
  • Linfedema
  • Hidrocele

Diagnóstico da filariose linfática

O diagnóstico é baseado nas manifestações clínicas descritas, associado a epidemiologia e testes laboratoriais para identificação do parasito. A melhor ferramenta laboratorial para o diagnóstico da infecção por W. bancrofti é o teste de antígeno, com pesquisas de antígeno circulante filarial utilizando testes rápidos (qualitativos) ICT/FTS ou Og4C3-ELISA (quantitativo), embora possa haver falsos positivos. 

O exame de esfregaços de sangue é uma alternativa menos sensível, mas aceitável em locais onde o teste de antígeno não está disponível.O pico da parasitemia periférica coincide, na maioria das regiões, com o horário preferencial de repasto do vetor (entre 23h e 1h da manhã). 

Microfilária de Wuchereria bancrofti em gota espessa de sangue, corada pelo Giemsa. Crédito: MS, Guia de vigilância epidemiológica e eliminação da filariose linfática, 2009. 

O exame de ultrassonografia possui a potencialidade de detectar indivíduos infectados com formas adultas vivas da filária no vaso linfático, particularmente em vasos intra escrotais do cordão espermático. Os movimentos ativos denominados “dança da filária”, podem sugerir o diagnóstico mesmo que os testes laboratoriais sejam negativos.

Crédito: Uptodate. 

Tratamento da filariose 

O medicamento de escolha no Brasil, disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a dietilcarbamazina (DEC), cuja ação elimina as microfilárias da circulação sanguínea. Ele está indicado independentemente da presença de sintomas clínicos ou microfilaremia. 

A DEC é um derivado da piperazina com rápida absorção e baixa toxicidade, utilizada na forma de comprimidos de 50mg do princípio ativo. Deve ser administrada via oral na dose de 6 mg/kg/dia por 1 ou 12 dias (14 a 21 dias em pacientes com eosinofilia pulmonar tropical), podendo ser administrada em dose única ou em 3 doses divididas. 

#Ponto importante: deve-se evitar sua administração em crianças com menos de 2 anos de idade, gestantes, mulheres no período de lactação e portadores de cardiopatia ou doença renal crônica. 

Para o linfedema, medidas importantes incluem fisioterapia para promover o fluxo linfático e o membro afetado deve ser elevado à noite. Deve ser instituídos hábitos de higiene e cuidados com a epiderme das áreas afetadas, para evitar infecções microbianas oportunistas. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Amy D. Klion, MD. Lymphatic filariasis: Epidemiology, clinical manifestations, and diagnosis. Disponível em Uptodate
  • Brasil. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica e eliminação da filariose linfática. Brasília : Ministério da Saúde, 2009. Disponível em saude.gov.br 
  • Ministério da Saúde. Guia de vigilância. Filariose linfática. Brasília, 2017. Disponível em: Filariose linfática
  • Crédito da imagem em destaque: Pixabay
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