Resumo de Hepatite Autoimune: causas, diagnóstico e mais!
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Resumo de Hepatite Autoimune: causas, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A hepatite autoimune (HAI) é uma inflamação hepática crônica de origem imunomediada, podendo evoluir para cirrose e insuficiência hepática se não tratada. Seu diagnóstico envolve a exclusão de outras hepatopatias e a detecção de autoanticorpos, enquanto o tratamento baseia-se no uso de imunossupressores. 

Sem terapia adequada, a mortalidade em casos graves pode atingir 40% nos primeiros seis meses.

Conceito de Hepatite Autoimune 

A hepatite autoimune (HAI) é uma inflamação hepática crônica de origem imune, caracterizada por um processo inflamatório persistente que pode evoluir para fibrose e cirrose hepática. A condição resulta de uma desregulação do sistema imunológico, onde os hepatócitos são atacados por linfócitos T, desencadeando um processo de necroinflamação. Embora a etiologia não seja totalmente compreendida, acredita-se que fatores genéticos e ambientais estejam envolvidos. A doença é classificada em dois principais subtipos: 

  • HAI tipo 1: mais comum, associada à presença de anticorpos antinucleares (FAN) e antimúsculo liso (AML), podendo ocorrer em qualquer idade. 
  • HAI tipo 2: menos frequente e geralmente diagnosticada em crianças e adultos jovens, sendo caracterizada pela presença de anticorpos anti-LKM1 (anticorpos contra microssomos hepato-renais).

Fisiopatologia da Hepatite Autoimune 

A hepatite autoimune (HAI) resulta de uma falha no mecanismo de tolerância imunológica, levando à ativação descontrolada do sistema imune contra os hepatócitos. A fisiopatologia da doença envolve uma combinação de predisposição genética, fatores ambientais e desregulação imunológica

Predisposição Genética 

Certos alelos do complexo HLA (antígenos leucocitários humanos) estão associados a um maior risco de desenvolvimento da HAI. Os alelos HLA-DR3 e HLA-DR4 são frequentemente identificados em pacientes com a doença, particularmente na HAI tipo 1. Já a HAI tipo 2 está mais relacionada ao HLA-DR7 e HLA-DR3. Essas variantes genéticas podem predispor a uma resposta imunológica desregulada, aumentando a reatividade contra os próprios hepatócitos.

Gatilhos Ambientais 

Embora a causa exata da doença não seja conhecida, acredita-se que infecções virais, exposição a medicamentos e toxinas possam atuar como gatilhos para a resposta autoimune. Esses fatores externos podem desencadear um processo inflamatório inicial, ativando linfócitos T autorreativos em indivíduos geneticamente suscetíveis. 

Mecanismos Imunológicos 

O principal evento na HAI é a ativação de linfócitos T CD4+ e CD8+, que atacam os hepatócitos e promovem um processo inflamatório persistente. Esse ataque é mediado por diferentes componentes do sistema imunológico:

  • Autoanticorpos: os mais frequentemente detectados são o FAN (fator antinuclear), AML (anticorpo antimúsculo liso) e anti-LKM1 (anticorpo contra microssomos hepato-renais tipo 1). Esses anticorpos não são diretamente citotóxicos, mas refletem a ativação anormal da resposta imune. 
  • Células T citotóxicas: promovem a destruição dos hepatócitos ao reconhecer proteínas do próprio fígado como estranhas. 
  • Citocinas pró-inflamatórias: interferon-gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucinas contribuem para o recrutamento de mais células inflamatórias e a progressão da lesão hepática.

Epidemiologia e Fatores de Risco   

Epidemiologia 

A hepatite autoimune (HAI) é uma doença rara, com incidência estimada entre 0,9 a 2 casos por 100.000 habitantes por ano e prevalência de 11 a 25 casos por 100.000 habitantes. No Brasil, estudos em centros especializados indicam que a HAI representa 5 a 19% das hepatopatias crônicas. A real frequência pode estar subestimada devido à variabilidade dos critérios diagnósticos e à ausência de sintomas em alguns pacientes.

A HAI é mais frequente em mulheres, com uma razão de 3,6:1 em relação aos homens. A HAI tipo 1 corresponde a 80% dos casos, sendo mais comum em mulheres jovens e de meia-idade. Já a HAI tipo 2 ocorre predominantemente em crianças e adultos jovens, apresentando uma evolução mais agressiva.

Fatores de Risco 

Embora a causa exata da HAI ainda não esteja completamente elucidada, diversos fatores estão associados ao desenvolvimento da doença: 

  1. Predisposição genética: a presença de alelos HLA-DR3, HLA-DR4 e HLA-DR13 aumenta o risco de HAI, sugerindo um componente hereditário importante. 
  1. Sexo feminino: a predominância em mulheres sugere que fatores hormonais possam influenciar a resposta imune e a susceptibilidade à doença. 
  1. Infecções virais: alguns vírus, como hepatite A, B, C, Epstein-Barr e citomegalovírus, podem atuar como gatilhos para a ativação do sistema imunológico contra os hepatócitos. 
  1. Uso de medicamentos e exposição a toxinas: drogas como nitrofurantoína, minociclina e inibidores do TNF-α têm sido associadas a quadros de hepatite autoimune induzida por fármacos. 
  1. Doenças autoimunes associadas: a HAI frequentemente ocorre em pacientes com outras condições autoimunes, como tireoidite de Hashimoto, artrite reumatoide, diabetes tipo 1, doença celíaca e lúpus eritematoso sistêmico.

Diagnóstico da Hepatite Autoimune

História clínica

A manifestação da HAI pode ser insidiosa ou aguda. Em aproximadamente 50% dos casos, os sintomas se desenvolvem lentamente, com fadiga, náusea, anorexia, perda de peso e dor abdominal inespecífica. Outros sintomas incluem icterícia, rash cutâneo, artralgias e mialgias, refletindo o caráter autoimune da doença. Já em 30% dos casos, a doença se apresenta de forma aguda, com icterícia intensa e sintomas sugestivos de hepatite viral, exigindo diagnóstico diferencial. O restante dos pacientes pode ser assintomático, sendo diagnosticado incidentalmente por alteração nos exames hepáticos de rotina.

Exame físico

Nos casos mais avançados, sinais típicos de doença hepática podem estar presentes. Os achados incluem hepatoesplenomegalia, ascite, eritema palmar, aranhas vasculares, edema periférico e encefalopatia hepática. Em fases iniciais, o exame pode ser inespecífico, com apenas um aumento discreto do fígado à palpação. A presença desses sinais deve levantar suspeita de HAI em pacientes com histórico sugestivo e exames laboratoriais alterados.

Exames Laboratoriais 

O perfil laboratorial da HAI mostra elevação das aminotransferases (AST/TGO e ALT/TGP), com níveis mais altos do que a fosfatase alcalina. A hipergamaglobulinemia, especialmente aumento da imunoglobulina G (IgG), é um achado característico. Autoanticorpos são frequentemente positivos, sendo os principais: FAN (fator antinuclear), AML (anticorpo antimúsculo liso) e anti-LKM1 (anticorpo contra microssomos hepato-renais tipo 1). A presença desses autoanticorpos auxilia no diagnóstico e na diferenciação entre os subtipos da doença.

Biópsia Hepática 

A biópsia hepática é fundamental para confirmar o diagnóstico e avaliar a extensão do dano hepático. O achado histológico mais característico da HAI é a hepatite de interface, um infiltrado inflamatório linfoplasmocitário que destrói a placa limitante. Outras alterações incluem necrose hepatocelular e fibrose progressiva, que podem indicar evolução para cirrose.

Critérios Diagnósticos 

Para padronizar o diagnóstico, são utilizados dois sistemas de pontuação: o Escore Revisado para Diagnóstico de Hepatite Autoimune (ERDHAI) e os Critérios Simplificados. O ERDHAI é útil para casos com achados atípicos, enquanto os critérios simplificados são mais práticos para o diagnóstico clínico. A exclusão de hepatites virais, doenças metabólicas e hepatopatias induzidas por fármacos é essencial antes de confirmar a HAI.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial da hepatite autoimune inclui hepatites virais (A, B, C, E), doença hepática gordurosa não alcoólica, hepatite alcoólica e hepatopatias induzidas por fármacos. Além disso, deve-se considerar doenças colestáticas, como colangite biliar primária e colangite esclerosante primária, bem como doenças metabólicas, como a doença de Wilson e a deficiência de alfa-1 antitripsina.

Tratamento da Hepatite Autoimune 

O objetivo do tratamento da hepatite autoimune (HAI) é reduzir a inflamação hepática, prevenir a progressão para cirrose e melhorar a sobrevida. A base da terapia é o uso de corticosteroides, isolados ou em associação com imunossupressores, dependendo da gravidade do quadro e do perfil do paciente. 

Terapia de Indução

  • Prednisona (inicialmente 30 a 60 mg/dia, com redução progressiva) isolada ou em combinação com azatioprina (50 mg/dia). 
  • A associação é preferida para reduzir os efeitos colaterais dos corticosteroides. 
  • Budesonida pode ser usada como alternativa em casos selecionados para minimizar efeitos sistêmicos.

Terapia de Manutenção

  • Após a remissão, mantém-se prednisona em doses baixas (5-10 mg/dia) ou azatioprina isolada (1-2 mg/kg/dia). 
  • O tratamento deve ser contínuo por pelo menos 3 anos, com possibilidade de suspensão em pacientes com remissão sustentada. 
  • Em casos de falha ou intolerância, pode-se considerar micofenolato mofetil, ciclosporina ou tacrolimus.

Evolução

Com o tratamento adequado, a taxa de sobrevida em 10 anos supera 80%. Pacientes que respondem bem ao tratamento têm evolução favorável, enquanto aqueles com resposta incompleta ou recidivas frequentes apresentam maior risco de progressão para cirrose. Cerca de 50% dos pacientes têm recaída dentro de 6 meses após a suspensão do tratamento, necessitando reintrodução da terapia imunossupressora. Em pacientes com cirrose já estabelecida, a sobrevida em 5 anos pode ser inferior a 50%, especialmente se houver descompensação hepática.

Complicações

A HAI pode evoluir para fibrose hepática, cirrose e insuficiência hepática, aumentando o risco de necessidade de transplante hepático. 

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Referências Bibliográficas 

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Hepatite Autoimune. Portaria Conjunta nº 14, de 9 de maio de 2018. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/portaria-conjunta-14_pcdt-hai_final1_sctie-1.pdf. 
  1. LINZAY, C. D.; SHARMA, B.; PANDIT, S. Autoimmune Hepatitis. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459186/. 
  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEPATOLOGIA. Definição e aspectos clínicos: hepatite autoimune. Fascículo de Educação Médica Continuada em Gastroenterologia e Hepatologia, 2024.
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