Olá, querido doutor e doutora! O hiposfagma, também conhecido como hemorragia subconjuntival, é um achado oftalmológico comum e frequentemente assustador para o paciente, apesar de sua natureza benigna.
Na maioria dos casos, o hiposfagma regride espontaneamente sem necessidade de tratamento específico.
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Conceito
O hiposfagma, também denominado hemorragia subconjuntival, refere-se ao acúmulo de sangue no espaço entre a conjuntiva bulbar e a esclera, resultado da ruptura de vasos conjuntivais superficiais. Essa lesão apresenta-se como uma mancha vermelho-vivo, plana e bem delimitada, geralmente unilateral e localizada na região branca do olho, sem envolvimento da córnea.
Trata-se de um achado oftalmológico frequente, geralmente assintomático e sem impacto na acuidade visual, cuja principal característica é o aspecto dramático da coloração ocular, muitas vezes percebida pelo próprio paciente ao se olhar no espelho ou alertado por terceiros.
Etiologias
As causas do hiposfagma podem ser classificadas em traumáticas e não traumáticas (espontâneas), sendo que nem sempre a origem é identificada com precisão na prática clínica.
Causas traumáticas
- Fricção ocular intensa, como coçar os olhos com força;
- Uso inadequado ou prolongado de lentes de contato;
- Cirurgias oftalmológicas, especialmente catarata, refrativas e procedimentos com anestesia sub-Tenoniana;
- Corpo estranho ocular;
- Trauma direto na região periorbital (mesmo de baixa intensidade).
Causas espontâneas
Envolvem situações que aumentam subitamente a pressão venosa ou capilar nos vasos conjuntivais:
- Crise de tosse, espirros, vômitos ou esforço evacuatório;
- Levantamento de peso ou atividade física intensa;
- Crises de riso ou manobras de Valsalva;
- Picos hipertensivos;
- Menstruação, devido a alterações hemodinâmicas ou distúrbios discretos da coagulação;
- Síndromes febris, com aumento da fragilidade vascular;
- Conjuntivites agudas, especialmente hemorrágicas;
- Coagulopatias e discrasias sanguíneas;
- Uso de anticoagulantes, antiagregantes ou AINEs.
É importante destacar que em quase metade dos casos não há causa evidente, sendo classificados como idiopáticos.
Epidemiologia
O hiposfagma é uma condição frequentemente observada na prática clínica, especialmente em indivíduos acima dos 50 anos, faixa etária na qual a fragilidade vascular e comorbidades como hipertensão e diabetes se tornam mais prevalentes. Embora possa ocorrer em qualquer idade, os casos traumáticos predominam entre os mais jovens, enquanto os espontâneos são mais comuns em idosos e mulheres.
Há ainda registros em recém-nascidos após parto vaginal e relatos sazonais com maior incidência nos meses de verão. Apesar de seu aspecto marcante, é uma condição benigna, autolimitada e muitas vezes subnotificada.
Quadro clínico
O hiposfagma caracteriza-se por um início súbito de mancha vermelho-vivo no branco do olho, geralmente percebida de forma incidental. O paciente, na maioria das vezes, não relata sintomas oculares relevantes e procura atendimento motivado apenas pela alteração estética ou por preocupação após alerta de terceiros.
Características da apresentação clínica:
- Lesão unilateral, bem delimitada, plana, de coloração viva;
- Ausência de dor, prurido, fotofobia ou lacrimejamento;
- Sem impacto na acuidade visual;
- Pode haver leve sensação de corpo estranho (mais raro);
- O extravasamento de sangue costuma se concentrar na região temporal inferior, mas pode ocorrer em qualquer setor da conjuntiva bulbar.
A mancha pode se expandir discretamente nas primeiras 48 horas, devido à gravidade e à acomodação do sangue no tecido, mas não deve haver progressão dolorosa nem comprometimento funcional. Com o passar dos dias, a coloração sofre mudança gradual (avermelhado → arroxeado → amarelado), semelhante à evolução de um hematoma, até a completa resolução.
Diagnóstico e sinais de alerta
O diagnóstico do hiposfagma é essencialmente clínico, baseado na observação da mancha subconjuntival associada a uma história compatível. A lesão costuma ser facilmente reconhecida pelo exame oftalmológico simples, sem necessidade de recursos complementares na maioria dos casos.
Sinais de alerta (avaliar causas secundárias ou complicações):
- Trauma ocular recente, especialmente com corpo estranho ou suspeita de perfuração;
- Presença de dor ocular, fotofobia ou alteração visual;
- Edema de pálpebra, proptose ou oftalmoplegia;
- Sangramentos recorrentes ou outros sinais de discrasia sanguínea;
- Uso de anticoagulantes, com sangramento fora do intervalo terapêutico;
- Bilateralidade em crianças, o que pode indicar trauma não acidental.
Em casos atípicos ou associados a sinais de alarme, a avaliação complementar com biomicroscopia, exame de fundo de olho, coagulograma ou exames de imagem orbital pode ser indicada para afastar complicações ou condições mais graves.
Tratamento
Conduta expectante como regra
Na maioria dos casos, o hiposfagma é autolimitado e não requer intervenção medicamentosa. O manejo consiste basicamente em acompanhar a evolução da lesão, que tende a regredir espontaneamente em um período de duas a três semanas, sem impacto funcional ou risco visual. O foco da consulta médica deve estar na reafirmação da benignidade da condição, minimizando a ansiedade do paciente.
Alívio sintomático em casos selecionados
Embora geralmente indolor, alguns pacientes relatam discreto desconforto ou sensação de corpo estranho. Nesses casos, o uso de lágrimas artificiais pode proporcionar alívio, principalmente se houver ressecamento ocular associado. Uma opção comum é a carmelose sódica 0,5%, utilizada de 1 a 2 gotas no olho afetado, a cada 4 a 6 horas conforme necessidade.
Quando investigar além da lesão ocular
A presença de sangramentos recorrentes, história de coagulopatias, uso contínuo de anticoagulantes (como varfarina ou clopidogrel), ou episódios associados a picos hipertensivos exige avaliação clínica mais aprofundada. Nestes contextos, exames laboratoriais como coagulograma e hemograma podem ser indicados, além do ajuste da medicação anticoagulante, se necessário.
Casos que exigem conduta especializada
Quando o hiposfagma está associado a trauma ocular direto, dor intensa, proptose, alteração visual ou outros sinais de alarme, é prudente realizar avaliação oftalmológica completa para excluir perfuração, hifema ou hemorragias internas. A presença de fatores atípicos, como lesões bilaterais em crianças pequenas, também deve levantar suspeita de trauma não acidental, exigindo abordagem multidisciplinar.
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Referências Bibliográficas
- DOSHI, Ricky; NOOHANI, Tariq. Subconjunctival Hemorrhage. StatPearls Publishing, 2025.