Resumo de Intoxicação por Fumaça: medidas preventivas e mais!

Resumo de Intoxicação por Fumaça: medidas preventivas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Nas últimas semanas, o Brasil enfrenta um aumento significativo das temperaturas e da intensificação das queimadas em diversas regiões do país, exacerbadas pela falta de chuvas e condições climáticas adversas. Esses eventos resultam em uma maior exposição da população à fumaça tóxica liberada pela combustão de grandes áreas de vegetação. A inalação dessa fumaça, rica em partículas finas e gases nocivos, pode causar sérios danos à saúde respiratória e sistêmica. 

Esse resumo visa abordar os riscos da intoxicação por fumaça, seus mecanismos fisiopatológicos, quadro clínico e as medidas de prevenção, especialmente para proteger grupos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas.

Conceito de Intoxicação por Fumaça

A intoxicação por inalação de fumaça ocorre quando uma pessoa respira gases, partículas, e substâncias químicas liberadas durante a combustão de materiais, principalmente em incêndios. A inalação desses componentes pode levar a uma série de lesões pulmonares e sistêmicas, que variam de irritação leve das vias aéreas até falência respiratória aguda e morte. Os principais elementos nocivos envolvidos são o monóxido de carbono (CO), cianeto e outras substâncias tóxicas. A gravidade da intoxicação depende da natureza dos materiais em combustão, da duração da exposição e das condições pré-existentes de saúde da vítima. Além das lesões diretas, a inalação de fumaça também pode causar comprometimento da oxigenação tecidual e lesão inflamatória das vias respiratórias.

Fisiopatologia de Intoxicação por Fumaça

A fisiopatologia da intoxicação por inalação de fumaça envolve uma combinação complexa de lesões diretas e indiretas nas vias aéreas e nos tecidos corporais. Ela pode ser dividida em três mecanismos principais: 

  1. Lesão térmica: o calor gerado pela fumaça pode causar queimaduras diretas nas vias aéreas superiores, principalmente na orofaringe e na laringe. Embora o ar quente normalmente não atinja os pulmões devido à alta capacidade de resfriamento das vias aéreas superiores, lesões térmicas significativas podem resultar em edema da via aérea superior, obstrução e risco de asfixia. 
  1. Lesão por produtos da combustão: a combustão de materiais libera substâncias tóxicas, como o monóxido de carbono (CO), cianeto e outros gases irritantes, como dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio. O CO se liga à hemoglobina com uma afinidade muito maior que o oxigênio, formando carboxi-hemoglobina, reduzindo o transporte de oxigênio e resulta em hipóxia celular. Já o cianeto interfere diretamente na cadeia de transporte de elétrons, inibindo a produção de ATP e provocando hipóxia tecidual, mesmo em níveis normais de oxigenação sanguínea. 
  1. Lesão inflamatória e química das vias aéreas: os produtos da combustão podem irritar e inflamar as vias respiratórias. Partículas tóxicas e gases promovem uma resposta inflamatória resultando em broncoconstrição, aumento da permeabilidade vascular e produção de muco. Isso pode levar ao desenvolvimento de lesão pulmonar aguda (LPA) ou síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), caracterizadas por edema alveolar, diminuição da troca gasosa e hipoxemia severa.

Quadro Clínico de Intoxicação por Fumaça

O quadro clínico da intoxicação por inalação de fumaça é variável, dependendo da gravidade da exposição, da duração, dos produtos inalados e das condições de saúde do paciente. Os sintomas podem se manifestar de forma imediata ou após algumas horas, e envolvem tanto o sistema respiratório quanto outras funções orgânicas devido à absorção sistêmica de toxinas. Os sintomas respiratórios incluem:

  • Tosse;
  • Dispneia;
  • Estridor;
  • Sibilos e roncos;
  • Taquipneia; 
  • Dor torácica; e
  • Hemoptise.

A intoxicação por monóxido de carbono pode causar cefaleia latejante e dificuldades de memória, alterações cognitivas e, em casos graves, coma. Já a intoxicação por cianeto pode causar hipotensão e choque e acidose metabólica grave.

Diagnóstico de Intoxicação por Fumaça

O diagnóstico de intoxicação por inalação de fumaça começa pela história clínica, especialmente em casos de exposição a incêndios, onde o paciente pode relatar tosse, dispneia, rouquidão e sinais de irritação respiratória. No exame físico, é comum observar sinais de queimaduras nas vias aéreas superiores, fuligem em narinas e boca, além de alterações respiratórias como sibilos e crepitações. Alterações neurológicas, como confusão e perda de consciência, sugerem intoxicação sistêmica por monóxido de carbono ou cianeto, sendo frequentemente liberados durante incêndios.

Exames complementares incluem gasometria arterial, que pode revelar hipoxemia e acidose metabólica. Níveis elevados de carboxi-hemoglobina (>10-15%) indicam intoxicação por monóxido de carbono, enquanto níveis elevados de lactato (>10 mmol/L) sugerem intoxicação por cianeto. Radiografias ou tomografia de tórax podem mostrar lesões pulmonares, como edema ou pneumonia. A broncoscopia também pode ser útil para avaliar lesões térmicas nas vias aéreas. 

Tratamento de Intoxicação por Fumaça

Tratamento Pré-Hospitalar 

No ambiente pré-hospitalar, o foco do tratamento da intoxicação por inalação de fumaça é garantir a rápida remoção do paciente da fonte de exposição e iniciar o suporte as vias aéreas e à ventilação. As principais medidas incluem: 

  1. Remoção do paciente do local do incêndio;
  1. Administração de oxigênio a 100%;
  1. Monitoramento e estabilização das vias aéreas: avaliar a necessidade de intubação precoce em pacientes com sinais de obstrução das vias aéreas superiores, como estridor ou edema facial, além de dificuldade respiratória grave; e
  1. Suporte ventilatório e controle de sintomas: manter monitorização dos sinais vitais e suporte ventilatório conforme necessário. Cuidados para prevenir broncoespasmo e insuficiência respiratória também devem ser instituídos prontamente.

Tratamento Hospitalar 

No ambiente hospitalar, o tratamento continua com a estabilização respiratória e tratamento específico para intoxicações: 

  1. Oxigenoterapia: a administração contínua de oxigênio a 100% é essencial para tratar a intoxicação por monóxido de carbono, reduzindo os níveis de carboxi-hemoglobina no sangue. Em casos graves, oxigenoterapia hiperbárica pode ser indicada, especialmente se houver alterações neurológicas, arritmias ou níveis de carboxi-hemoglobina superiores a 25%. 
  1. Intubação e ventilação mecânica: em casos de insuficiência respiratória ou comprometimento significativo das vias aéreas, é indicada a intubação precoce e suporte ventilatório. A ventilação protetora é fundamental para prevenir lesões adicionais nas vias aéreas inferiores, especialmente em pacientes com síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). 
  1. Tratamento da intoxicação por cianeto: em suspeita ou confirmação de intoxicação por cianeto, o uso de antídotos como o hidroxicobalamina (vitamina B12a) ou o tiossulfato de sódio é essencial. Esses agentes ajudam a neutralizar os efeitos do cianeto, restaurando a capacidade celular de utilizar oxigênio. 
  1. Monitoramento e manejo de complicações: pacientes com exposição prolongada à fumaça podem desenvolver lesões pulmonares graves, como SDRA e pneumonia. O monitoramento rigoroso com exames de imagem, gasometria arterial e acompanhamento dos sinais vitais é necessário para detectar e tratar precocemente essas complicações.

Recomendações à População para Reduzir a Exposição à Fumaça

O Ministério da Saúde recomenda várias medidas para minimizar os efeitos da exposição à fumaça de queimadas, especialmente em épocas de maior risco. A principal orientação é aumentar a ingestão de água para manter as vias respiratórias úmidas e protegidas. Permanecer em ambientes fechados e bem vedados, preferencialmente com ar condicionado ou filtros de ar, também é essencial para reduzir a exposição a partículas nocivas. Durante os períodos de maior concentração de poluentes, manter portas e janelas fechadas, e evitar atividades ao ar livre são atitudes cruciais para diminuir a inalação de fumaça.

Quando for necessário sair, recomenda-se o uso de máscaras N95, PFF2 ou P100, eficazes na filtragem de partículas finas presentes na fumaça. No entanto, o ideal é sempre priorizar a permanência em locais fechados. Além disso, é importante não consumir alimentos ou medicamentos expostos a cinzas, ou detritos de queima.

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Referências Bibliográficas 

  1. PURSER, David A. Toxicity Assessment of Combustion Products. SFPE Handbook of Fire Protection Engineering, [s.l.], p. 2308-2428, 2008. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2722076/. Acesso em: 18 set. 2024.
  1. KEELEY, Ellen C.; MATTU, Ashish; HOLLAND, Nidhi. Smoke Inhalation Injury. StatPearls Publishing, 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513261/. Acesso em: 18 set. 2024.
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