ResuMED de intoxicação exógena

ResuMED de intoxicação exógena

Um dos temas mais frequentes em sala de emergência é quando nos depararmos com pacientes em quadros de intoxicação exógena. Estudados tanto na psiquiatria quanto nas emergências clínicas, devemos saber manejar de forma adequada esses quadros, visto que cada vez mais há prevalência de distúrbios psiquiátricos e também de abuso de substâncias. Leia nosso resumo a seguir, no qual iremos destrinchar os pontos principais para você acertar todas as questões desse tema!

Manejo inicial na intoxicação exógena

A definição formal de intoxicação exógena é o conjunto de sinais e sintomas, sejam eles agudos ou crônicos, que se manifestam quando um paciente é exposto a um tóxico. Tal conjunto de características clínicas podem ser colocadas juntas como toxíndromes, quando substâncias diferentes agem de forma semelhante. 

A primeira medida a ser realizada é a descontaminação de superfícies. Diversos tóxicos podem ser absorvidos pelo contato com pele e mucosas. Nesses casos, devemos retirar as vestes dos pacientes e a pele deve ser lavada com água ou soro fisiológico. No caso de contato com os olhos, devemos lavá-los com água corrente. 

Outra medida de descontaminação possível é a descontaminação gástrica. Seu emprego é limitado a alguns casos específicos e iremos explorá-los a seguir: 

  • Indução de vômitos: em geral, proscrito e contraindicado na maioria dos cenários clínicos. Não devemos indicá-lo. 
  • Lavagem gástrica: procedimento reservado a intoxicações ocorridas há 1 hora pelo menos e não pode ser utilizado em caso de ingestão de agentes corrosivos ou presença de hemorragia digestiva alta. Cada vez menos empregada por estudos que demonstram eficácia baixa e altos riscos. 
  • Carvão ativado: método de adsorção e não deve ser utilizado no caso de ingestão de álcool ou metais pesados. Trata-se de medida bastante empregada quando da intoxicação por paracetamol em decorrência de sua ação prolongada. 

Síndromes da intoxicação exógena

Síndrome adrenérgica

A síndrome adrenérgica, dentre os quadros de intoxicação exógena, é desencadeada por um aumento do tônus simpático através da ação de catecolaminas. O quadro clínico é marcado por agitação psicomotora, hipertensão arterial, taquicardia, sudorese e midríase. Algo curioso é que muitas vezes o quadro clínico pode se apresentar como síndrome coronariana aguda. 

Os principais agentes associados são cocaína, crack e anfetaminas. 

O tratamento inclui medicamentos à base de benzodiazepínicos e não temos antídotos disponíveis. Importante ressaltar que NÃO devemos aplicar betabloqueadores nesse tipo de intoxicação, já que piora o quadro clínico por termos elevada vasoconstrição por ativação alfa adrenérgica. 

Síndrome anticolinérgica

A síndrome anticolinérgica é o resultado da intensa ação antimuscarínica em diversos sistemas orgânicos. O quadro clínico é caracterizado por temperatura elevada, constipação, agitação, arritmias, psicose, convulsões, pele seca e midríase. 

Os principais agentes associados são antidepressivos tricíclicos, antialérgicos e antipsicóticos. 

O tratamento inclui medidas de suporte e por vezes, em casos graves, usamos o antídoto fisostigmina. 

Síndrome colinérgica

A síndrome colinérgica é causada pela inibição da acetilcolinesterase, fazendo com que haja acúmulo de acetilcolina na fenda sináptica. O aumento do tônus colinérgico gera um quadro clínico de sudorese, sialorréia, diarréia, broncorreia, broncoespasmo, lacrimejamento e miose.

Os principais agentes associados são carbamatos e organofosforados. 

O tratamento inclui medidas de suporte e uso de medicações que irão inibir a ação colinérgica como atropina e pralidoxima. 

Síndrome narcótica

A síndrome narcótica é caracterizada pelo uso de opióides. Trata-se de uma das principais síndromes atualmente em decorrência do aumento expressivo de abuso desta substância principalmente no contexto estadunidense. O quadro clínico é de letargia, sonolência, bradicardia, hipotensão, náusea, depressão respiratória, pele seca e miose. 

O principal agente é a morfina, mas temos casos com intoxicação por heroína e fentanila. 

O tratamento consiste em suporte clínico e administração do antídoto naloxona. Não devemos sempre administrar o antídoto e reservar essa situação nos quadros em que há depressão respiratória importante. Nos casos leves ou moderados, o suporte clínico já é suficiente. 

Síndrome hipnossedativa

A síndrome hipnótica é caracterizada por sintomas de depressão das funções neurológicas. O quadro clínico se apresenta com sonolência, depressão respiratória e hipotensão. Diferentemente das outras síndromes, não temos comumente alteração pupilar presente. Entretanto, em casos mais graves é possível observar a presença de miose. 

Os principais agentes etiológicos associados são o uso de benzodiazepínicos, barbitúricos e drogas com ação gabaérgica. 

O tratamento inclui suporte clínico além da administração do antídoto flumazenil. Devemos citar que o uso irrestrito do antídoto é controverso, já que é bem difícil afirmar que a intoxicação do nosso paciente é apenas pelo uso de benzodiazepínico e o uso do flumazenil acaba por reduzir o limiar convulsivo. 

Intoxicação exógena por outras drogas

nesse trecho do texto iremos citar as principais intoxicações exógenas que não são contempladas pelas principais toxíndromes. 

  • Paracetamol: a intoxicação por paracetamol gera sinais e sintomas associados a náusea, vômitos e diarréia. Em casos mais graves, há a possibilidade de hepatite fulminante. O tratamento deve ser feito com suporte clínico, descontaminação gástrica com carvão ativado e uso de N-acetilcisteína.
  • Lítio: a intoxicação por lítio gera tremores, ataxia, rigidez muscular e distúrbios gastrointestinais. Em casos mais graves observa-se rebaixamento do nível de consciência, convulsões e insuficiência renal aguda grave. O tratamento em suma é de suporte clínico e em casos extremos recorremos a hemodiálise.
  • Betabloqueadores: quadro de hipotensão e bradicardia. O antídoto é o glucacon.
  • Ferro: quadro de vômitos, diarreia e sangramento gastrointestinal. Usamos como tratamento a deferoxamina, quelante de ferro.
  • Cianeto: quadro de insuficiência respiratória hipoxêmica. O tratamento é feito com hidroxicobalamina.
  • Metanol: álcool extremamente tóxico para nosso organismo, essa substância pode ser encontrada em solventes e removedores de tinta. O antídoto empregada é o fomepizol ou o etanol podem ser utilizados para saturar a álcool-desidrogenase, impedindo sua conversão. Em casos mais graves, podemos recorrer à hemodiálise.
  • Anticoagulantes: quadro de sangramento.
    – Warfarina: administração de vitamina K
    – Dabigatrana: hemodiálise
  • Hidrocarbonetos: a intoxicação pela ingestão de gasolina ou querosene marca esse tipo de intoxicação. Essas substâncias não são absorvidas pelo trato gastrointestinal, não devemos realizar carvão ativado ou lavagem gástrico. Em caso de inalar, o tratamento se resume a medidas de suporte. 

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Veja também:

Referências bibliográficas

Manual de Toxicologia Clínica

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