Olá, querido doutor e doutora! A meibomite é uma das alterações mais comuns da superfície ocular, frequentemente associada ao olho seco evaporativo. Caracteriza-se por uma disfunção nas glândulas de Meibomius, levando à instabilidade do filme lacrimal e inflamação crônica das pálpebras. Seu diagnóstico é clínico, e o tratamento envolve desde cuidados locais até uso de antibióticos e anti-inflamatórios.
A obstrução glandular leva à menor secreção lipídica, o que favorece a evaporação excessiva da lágrima.
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Conceito
A meibomite é uma condição inflamatória crônica que acomete as glândulas de Meibomius, estruturas localizadas nas pálpebras superiores e inferiores responsáveis pela produção da camada lipídica do filme lacrimal. Essa camada é essencial para reduzir a evaporação da lágrima e manter a estabilidade da superfície ocular.
Na meibomite, ocorre obstrução dos ductos glandulares e/ou alterações na composição do meibum, levando à instabilidade lacrimal, sintomas de irritação e sinais clínicos que podem ser confundidos com outras disfunções oculares. É uma condição comum e frequentemente associada ao olho seco evaporativo, podendo também coexistir com blefarite e outras dermatoses perioculares.
Fisiopatologia
A meibomite resulta de alterações estruturais e funcionais nas glândulas de Meibomius, que levam à interrupção da secreção lipídica adequada para o filme lacrimal. O processo geralmente se inicia com hiperqueratinização do epitélio dos ductos glandulares e aumento da viscosidade do meibum, dificultando sua liberação para a superfície ocular.
Com o tempo, essa obstrução pode causar dilatação cística das glândulas, atrofia dos meibócitos e redução progressiva da secreção lipídica. Como consequência, ocorre aumento da evaporação lacrimal, levando à hiperosmolaridade do filme lacrimal e à instabilidade da lágrima. Esses fatores desencadeiam um ciclo inflamatório que compromete a superfície ocular, podendo agravar os sintomas e favorecer a proliferação bacteriana na margem palpebral.
Epidemiologia e fatores de risco
A meibomite é uma das principais causas de olho seco em todo o mundo, com prevalência variável conforme a população estudada. Estima-se que mais de 60% da população asiática apresente sinais da disfunção, enquanto entre caucasianos os índices variam de 3,5% a 19,9%.
Diversos fatores podem influenciar o surgimento ou agravamento da meibomite, incluindo características individuais, condições oftálmicas e doenças sistêmicas. Entre os principais fatores de risco, destacam-se:
- Idade avançada e menopausa, com redução hormonal associada à menor secreção lipídica.
- Uso prolongado de lentes de contato, que pode prejudicar a função da camada lipídica do filme lacrimal.
- Doenças dermatológicas, como rosácea, psoríase e dermatite seborreica.
- Infestação por Demodex folliculorum, frequentemente associada a blefarite crônica.
- Uso de certos medicamentos, como anti-histamínicos, retinoides, antidepressivos e antiandrogênicos.
- Síndrome de Sjögren, dislipidemias, hipertensão e hiperplasia prostática benigna, que podem coexistir ou contribuir para a disfunção glandular.
Além disso, fatores ambientais como baixa umidade, exposição à fumaça e uso excessivo de maquiagem também podem influenciar negativamente a saúde das glândulas meibomianas.
Avaliação clínica
A apresentação clínica da meibomite é frequentemente insidiosa e crônica, com sintomas que variam de leves a intensos, dependendo do grau de disfunção das glândulas e da presença de inflamação associada. Os pacientes costumam relatar:
- Irritação ocular persistente;
- Sensação de areia ou corpo estranho;
- Olhos vermelhos e pesados;
- Visão turva que melhora após o piscar;
- Prurido e ardência nas pálpebras;
- Intolerância ao uso de lentes de contato;
- Secreções ou crostas na base dos cílios, especialmente ao acordar.
Ao exame físico, pode-se observar alterações na margem palpebral, como espessamento, vascularização aumentada, orifícios glandulares obstruídos e secreção espessa ao pressionar a pálpebra. Em casos mais avançados, a meibomite pode evoluir com formação recorrente de hordéolos e calázios, agravando o desconforto ocular e comprometendo a qualidade de vida do paciente.
Diagnóstico
O diagnóstico da meibomite é clínico e baseado na avaliação da função e da anatomia das glândulas de Meibomius, sendo essencial a associação com os sintomas relatados pelo paciente. A abordagem diagnóstica inclui:
- Anamnese detalhada, focando em sintomas como ardência, visão turva, olho seco e desconforto palpebral.
- Avaliação da margem palpebral, observando sinais como orifícios glandulares obstruídos, vascularização anormal e presença de secreção espessa.
- Expressão digital das glândulas, para analisar a quantidade e qualidade do meibum, avaliando sua fluidez, cor e consistência.
- Testes de estabilidade do filme lacrimal, como o tempo de ruptura do filme lacrimal (BUT) e a medição da osmolaridade.
- Meibografia, exame de imagem que permite visualizar diretamente as glândulas meibomianas e identificar atrofia ou perda estrutural.
Quando há suspeita de associação com outras condições, como olho seco evaporativo, rosácea ou blefarite por Demodex, exames complementares específicos podem ser indicados para confirmação diagnóstica e melhor condução terapêutica.
Tratamento
O tratamento da meibomite deve ser individualizado conforme a gravidade dos sintomas e o estágio da disfunção glandular, sempre com foco no alívio dos sintomas, restauração da função glandular e estabilização do filme lacrimal. A abordagem é geralmente escalonada:
Medidas iniciais (para todos os estágios)
- Higiene palpebral regular, com limpeza das margens das pálpebras utilizando compressas ou loções específicas.
- Compressas mornas, que ajudam a fluidificar o meibum e facilitar sua drenagem.
- Massagem palpebral suave, após as compressas, para favorecer a expressão do conteúdo glandular.
Estágio leve a moderado
- Lubrificantes oculares com componentes lipídicos, para melhorar a estabilidade do filme lacrimal.
- Suplementação com ômega-3, com potencial efeito anti-inflamatório e benefício na qualidade do meibum.
- Antibióticos tópicos, como azitromicina ou eritromicina, especialmente em casos com sinais inflamatórios ou blefarite associada.
- Tetraciclinas orais, como doxiciclina ou minociclina, em casos refratários ou com componente inflamatório mais intenso.
Estágio avançado ou refratário
- Corticosteroides tópicos de baixa potência, por curto período, em surtos de inflamação.
- Lentes de contato terapêuticas, quando há ceratinização ou exposição da superfície ocular.
- Tratamentos específicos para condições associadas, como blefarite anterior ou infestação por Demodex (uso de tea tree oil, por exemplo).
O seguimento regular é importante para monitorar a resposta terapêutica, ajustar o plano de manejo e reforçar a adesão ao cuidado domiciliar contínuo, que é a base do controle da meibomite a longo prazo.
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Referências Bibliográficas
- KAUR, Kirandeep; STOKKERMANS, Thomas J. Meibomian Gland Disease. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.
- GOMES, José Álvaro Pereira et al. Workshop sobre disfunção das glândulas de Meibomius. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, São Paulo, v. 74, n. 3, p. 157–160, 2011.