Olá, querido doutor e doutora! A melanoquia é uma alteração ungueal comum, especialmente em indivíduos de pele mais escura, que pode gerar apreensão tanto por motivos estéticos quanto pelo risco de malignidade. Embora a maioria dos casos seja benigna, é essencial diferenciar padrões suspeitos de lesões que exigem investigação imediata.
Em indivíduos de pele clara, a presença de melanoquia em apenas uma unha deve ser considerada um sinal de alerta.
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Conceito
Melanoníquia é o termo utilizado para descrever a pigmentação acastanhada ou enegrecida da lâmina ungueal, decorrente da presença de melanina no leito ou na matriz da unha. A forma mais frequente é a melanoníquia longitudinal (também chamada de melanoníquia estriada), na qual o pigmento se distribui como uma faixa paralela ao eixo longitudinal da unha, estendendo-se da prega ungueal proximal até a borda livre.
Essa condição pode envolver uma ou várias unhas, das mãos ou dos pés, e está relacionada a diferentes mecanismos fisiopatológicos, como a ativação de melanócitos já presentes na matriz ungueal ou a proliferação anormal dessas células. Embora, na maioria dos casos, tenha origem benigna, a melanoníquia pode ser o primeiro sinal clínico de lesões malignas, como o melanoma subungueal, exigindo avaliação criteriosa.
Classificação morfológica da melanoníquia
A melanoníquia pode ser classificada morfologicamente com base no padrão de distribuição da pigmentação na lâmina ungueal. Essa distinção auxilia na suspeita clínica quanto à etiologia subjacente e direciona o raciocínio diagnóstico. As principais formas são:
- Melanoníquia longitudinal (ou estriada): caracteriza-se por uma faixa pigmentada de coloração marrom, preta ou acinzentada que se estende no sentido longitudinal da unha — da matriz ou eponíquio até a borda distal. É o padrão mais comum e está associado a lentigos, nevos, melanoma, pigmentação étnica, entre outras causas.
- Melanoníquia difusa (ou total): envolve toda a lâmina ungueal, resultando em uma coloração uniforme e escurecida. É observada em pigmentações constitucionais, uso de certos medicamentos, infecções fúngicas e doenças sistêmicas como a doença de Addison.
- Melanoníquia transversa: apresenta-se como uma banda pigmentada que atravessa a unha na direção horizontal, geralmente relacionada a quimioterápicos, intoxicação por metais pesados ou tratamentos com radiação. É a forma menos frequente e frequentemente associada a causas iatrogênicas.
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Epidemiologia e fatores de risco
A melanoníquia apresenta distribuição variável conforme a faixa etária, fototipo cutâneo e características genéticas da população. Sua prevalência é significativamente maior em indivíduos de pele mais escura (fototipos IV, V e VI), sendo considerada uma manifestação fisiológica comum nesses grupos. Em contraste, é considerada atípica e merece maior investigação em pacientes de pele clara, especialmente quando envolve apenas uma unha.
Estudos populacionais demonstram as seguintes prevalências:
- Até 77–100% dos afrodescendentes podem apresentar melanoníquia, geralmente em múltiplas unhas.
- Entre japoneses e asiáticos, a prevalência varia de 10% a 23%.
- Em brancos, a condição é rara, afetando cerca de 1%.
A idade também influencia a ocorrência:
- Em crianças, a melanoníquia é incomum, mesmo em populações com maior predisposição étnica.
- A partir da terceira década de vida, a frequência tende a aumentar progressivamente.
Fatores de risco associados incluem:
- Fototipo cutâneo elevado (melanoníquia étnica);
- Histórico familiar de pigmentação ungueal;
- Trauma crônico ou fricção repetitiva (ex: onicofagia, sapatos apertados);
- Uso de medicações pigmentantes, como quimioterápicos, antimaláricos e antirretrovirais;
- Infecções fúngicas ou bacterianas na unidade ungueal;
- Doenças dermatológicas (liquen plano, psoríase, lúpus).
Etiologias possíveis
Ativação melanocítica
Ocorre quando há aumento da produção de melanina por melanócitos normais, sem proliferação. É comum em indivíduos de pele escura (melanoníquia étnica), durante a gestação, e após traumas repetitivos como onicofagia ou uso de calçados apertados. Também pode surgir por infecções fúngicas (Trichophyton rubrum, Aspergillus niger) ou bacterianas (Pseudomonas, Klebsiella), além de pacientes com HIV.
Medicamentos e doenças sistêmicas
Diversos fármacos, como quimioterápicos, antimaláricos e antirretrovirais, podem induzir melanoníquia, geralmente em múltiplas unhas. Doenças como Addison, acromegalia, psoríase e lúpus também estão associadas, assim como deficiência de vitamina B12 e porfirias.
Pigmentação exógena
Substâncias como henna, tabaco, nitrato de prata e tintas podem pigmentar a unha de forma superficial. A coloração é removível e não afeta a matriz ungueal.
Proliferação melanocítica benigna
Inclui nevos e lentigos da matriz ungueal. São comuns em crianças e adultos, respectivamente, e se manifestam como faixas longitudinais estáveis, de coloração homogênea.
Melanoma subungueal
Forma rara e grave de melanoníquia, geralmente em adultos de pele clara. Caracteriza-se por faixa escura, irregular, com alargamento proximal, distrofia da lâmina e possível sinal de Hutchinson.
Síndromes genéticas
Síndromes como Peutz-Jeghers e Laugier-Hunziker podem cursar com melanoníquia em múltiplas unhas, acompanhada de pigmentação em mucosas. A primeira possui risco associado de neoplasias gastrointestinais.
Manifestações clínicas da melanoníquia
- Faixa pigmentada longitudinal: a apresentação mais comum é a melanoníquia longitudinal, caracterizada por uma faixa marrom, preta ou cinza que se estende da base até a borda distal da unha. A coloração pode variar em intensidade, e a largura da faixa pode permanecer estável ou aumentar com o tempo.
- Distribuição ungueal: unhas das mãos são mais acometidas, especialmente o polegar, seguido por indicador e médio. Em pés, o hálux é o mais envolvido, frequentemente devido ao trauma. O envolvimento de múltiplas unhas sugere causas benignas, enquanto lesões únicas, especialmente em adultos de pele clara, merecem atenção.
- Padrões suspeitos: sinais de alarme incluem escurecimento progressivo, alargamento proximal (padrão triangular), bordas irregulares, variação de cor dentro da faixa, distrofia ungueal associada e presença de pigmento nas dobras periungueais (sinal de Hutchinson). Tais achados devem levantar suspeita para melanoma do aparelho ungueal.
- Formas atípicas: além da forma longitudinal, há casos de melanoquia difusa, com escurecimento total da unha, e melanoníquia transversa, geralmente induzida por drogas. Lesões assimétricas, com crescimento rápido e sinais acompanhando a pele ao redor da unha, também são considerados atípicos.
Diagnóstico Diferencial da Melanoníquia
- Hematoma subungueal;
- Pigmentação exógena;
- Onicomicose pigmentada;
- Hemorragias em estilhaço (splinter hemorrhages);
- Eritroníquia longitudinal;
- Onicomatricoma pigmentado.
Manejo clínico
O manejo da melanoníquia depende da causa e do perfil clínico do paciente. Na maioria dos casos benignos, especialmente em crianças e indivíduos com múltiplas unhas acometidas, adota-se uma conduta expectante com acompanhamento clínico e dermatoscópico regular. A regressão pode ocorrer espontaneamente, especialmente quando associada à gestação, trauma ou medicações. O tratamento das causas secundárias — como infecções fúngicas, doenças sistêmicas ou deficiência nutricional — pode levar à melhora gradual com o crescimento da lâmina ungueal.
Por outro lado, lesões suspeitas devem ser avaliadas com maior rigor, e a biópsia da matriz ungueal é indicada na presença de sinais de alerta: faixa única, escurecimento progressivo, alargamento proximal, bordas irregulares ou sinal de Hutchinson. Nos casos confirmados de melanoma, a abordagem inclui excisão cirúrgica com margens adequadas ou, em situações mais invasivas, amputação da falange distal. A escolha da técnica deve considerar o estadiamento, a preservação funcional e o controle oncológico.
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Referências Bibliográficas
- LEUNG, Alexander K. C. et al. Melanonychia striata: clarifying behind the Black Curtain. International Journal of Dermatology, v. 58, n. 6, p. 601–609, 2019.
- SINGAL, Archana; BISHERWAL, Kavita. Melanonychia: Etiology, Diagnosis, and Treatment. Indian Dermatology Online Journal, v. 11, n. 1, p. 1–11, 2020.