Resumo de Neuroglioma: riscos, tratamento e mais!
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Resumo de Neuroglioma: riscos, tratamento e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O neuroglioma é uma neoplasia primária do sistema nervoso central, derivada das células da neuroglia, responsáveis pelo suporte estrutural e metabólico dos neurônios. Seu comportamento clínico é variável, podendo apresentar evolução lenta ou curso agressivo conforme o grau histológico e as características moleculares

Pacientes com Ki-67 baixo, idade inferior a 60 anos e KPS acima de 70 apresentam melhor sobrevida e resposta terapêutica.

Conceito 

O neuroglioma é uma neoplasia primária do sistema nervoso central, originada das células da neuroglia, responsáveis pelo suporte e pela integridade funcional dos neurônios. Historicamente, foi descrito como um tumor distinto das formações mesenquimais, por derivar de tecido epiblástico e não conjuntivo, representando assim um crescimento anômalo de origem puramente glial.

Epidemiologia e classificação atual

Os neurogliomas representam uma parcela expressiva dos tumores primários intracranianos, observados em adultos de forma predominante entre a quarta e sexta décadas de vida. De acordo com séries clínicas recentes, os homens são mais afetados do que as mulheres, correspondendo a aproximadamente 70% dos casos. A incidência em pacientes acima de 60 anos, embora menor, associa-se a prognóstico menos favorável, refletindo a maior agressividade biológica dos tumores nessa faixa etária.

Quanto à classificação, os neurogliomas são categorizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) conforme o grau histológico de malignidade, que reflete o padrão de crescimento, atipias celulares, mitoses, necrose e proliferação endotelial. Assim, agrupam-se em:

  • Grau I e II – considerados gliomas de baixo grau (Low-Grade Gliomas – LGG), de evolução mais lenta e maior tempo de sobrevida média (em torno de 3 anos);
  • Grau III e IV – classificados como gliomas de alto grau (High-Grade Gliomas – HGG), associados a maior índice mitótico e necrose tumoral, com sobrevida média inferior a 1 ano na ausência de tratamento adequado.

Estudos demonstram que cerca de 60% dos tumores intracranianos pertencem ao espectro dos gliomas, com significativa variabilidade prognóstica entre os subtipos. A classificação moderna incorpora ainda marcadores moleculares, como Ki-67, IDH1/2 e metilação do promotor MGMT, que complementam a avaliação histológica ao indicar o potencial proliferativo e a resposta à quimioterapia.

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Fisiopatologia e mecanismos celulares 

O neuroglioma origina-se da proliferação descontrolada das células da neuroglia, especialmente astrócitos e oligodendrócitos, que compõem o tecido de sustentação do sistema nervoso central. A transformação neoplásica resulta de alterações genéticas e epigenéticas que comprometem os mecanismos de diferenciação e apoptose, levando à formação de um tecido tumoral com alta variabilidade morfológica e comportamento biológico imprevisível.

A fisiopatologia envolve um desequilíbrio entre os processos de proliferação celular, angiogênese e invasão tecidual. As células tumorais perdem a arquitetura típica da glia normal, adquirindo formas fusiformes ou gigantes multinucleadas, com prolongamentos que infiltram o parênquima cerebral adjacente. Essa capacidade infiltrativa explica a dificuldade de delimitação cirúrgica e a alta taxa de recidiva.

Entre os principais mecanismos celulares, destacam-se:

  • Atividade do marcador Ki-67: indica o índice proliferativo tumoral; níveis elevados correlacionam-se a maior agressividade e menor sobrevida.
  • Alterações do gene IDH1/2: associadas à melhor resposta terapêutica e prognóstico mais favorável, especialmente nos gliomas de baixo grau.
  • Metilação do promotor MGMT: reduz a reparação do DNA e aumenta a sensibilidade à temozolomida, sendo um marcador importante de resposta quimioterápica.
  • Angiogênese tumoral: mediada por fatores como o VEGF, que promovem aumento da permeabilidade vascular e sustentam o crescimento do tumor.

O comportamento infiltrativo e a heterogeneidade celular refletem uma origem em células progenitoras neurais ou gliais imaturas, capazes de múltiplas diferenciações. A progressão do neuroglioma está, portanto, relacionada à instabilidade genômica, à resistência apoptótica e à interação entre o microambiente tumoral e a neovascularização, fatores que sustentam o crescimento e dificultam o controle terapêutico.

Avaliação clínica

As manifestações clínicas do neuroglioma variam conforme o local anatômico, o tamanho do tumor e o grau de infiltração no tecido cerebral. Como ocorre de forma predominante nos hemisférios cerebrais, especialmente nas regiões frontal e parietal, os sintomas geralmente refletem efeitos de massa e disfunções corticais locais.

Os sintomas mais frequentes incluem:

  • Cefaleia progressiva, frequentemente matinal e associada a náuseas e vômitos, decorrente do aumento da pressão intracraniana;
  • Crises convulsivas, presentes em cerca de 30% dos casos, mais comuns em tumores de baixo grau e relacionadas à irritação cortical;
  • Déficits motores ou sensoriais, como hemiparesia, parestesias ou perda de coordenação, conforme o território cerebral comprometido;
  • Alterações cognitivas e de comportamento, observadas em lesões frontais, com lentificação do raciocínio, apatia ou desinibição;
  • Sinais de hipertensão intracraniana, como papiledema e sonolência em fases mais avançadas.

A intensidade dos sintomas não se correlaciona diretamente com o tamanho tumoral, já que a infiltração difusa e a acomodação cerebral podem mascarar o quadro inicial. O impacto funcional é comumente avaliado pelo Karnofsky Performance Status (KPS), que reflete o grau de autonomia do paciente e serve como indicador prognóstico pré e pós-operatório.

De forma geral, o neuroglioma apresenta um curso clínico insidioso e progressivo, podendo evoluir para deterioração neurológica gradual, principalmente quando há transformação para formas de alto grau (HGG).

Diagnóstico 

O diagnóstico do neuroglioma exige uma abordagem integrada entre neuroimagem, avaliação clínica e análise histopatológica. A suspeita clínica geralmente surge diante de sintomas neurológicos progressivos, como cefaleia, convulsões ou déficits focais, e é confirmada por exames de imagem que demonstram lesão expansiva intracraniana.

A ressonância magnética (RM) é o método de escolha para avaliação inicial e acompanhamento. Nas sequências ponderadas em T1 e T2, o neuroglioma costuma apresentar sinais heterogêneos, com áreas de hiperintensidade associadas a edema peritumoral. A utilização de contraste paramagnético evidencia regiões de quebra da barreira hematoencefálica, especialmente nos tumores de alto grau.

A ressonância magnética com contraste dinâmico (DCE-MRI) tem adquirido destaque por fornecer dados hemodinâmicos e de permeabilidade microvascular, refletindo a angiogênese tumoral e a agressividade celular. Parâmetros como o volume de transferência capilar (Ktrans) e o volume extracelular extravascular (Ve) auxiliam na diferenciação entre gliomas de baixo e alto grau e na avaliação da resposta terapêutica.

O diagnóstico definitivo depende da biópsia estereotáxica ou da análise anatomopatológica do material cirúrgico, que identifica as características celulares e define o grau histológico conforme a OMS. A complementação com imuno-histoquímica e testes moleculares — como Ki-67, IDH1/2 e MGMT — é fundamental para determinar o potencial proliferativo, a sensibilidade à temozolomida e o prognóstico individualizado.

Tratamento

O tratamento do neuroglioma baseia-se em uma estratégia multimodal, combinando cirurgia, radioterapia e quimioterapia, visando remover o máximo possível do tumor, controlar a progressão e preservar a função neurológica.

A ressecção cirúrgica é a etapa inicial e mais importante do manejo. Busca-se a remoção completa da lesão visível, sem comprometer áreas eloquentes do cérebro. A ressecção total está associada a melhor sobrevida global, enquanto a ressecção parcial é indicada quando a localização ou o grau de infiltração impede a retirada segura. O uso de neuronavegação, monitorização intraoperatória e fluorescência com 5-ALA aumenta a precisão cirúrgica.

A radioterapia adjuvante é recomendada principalmente para os gliomas de alto grau (HGG), mas também pode ser indicada em casos de baixo grau com recidiva ou crescimento rápido. Em protocolos modernos, são utilizadas doses entre 40 e 60 Gy, fracionadas ao longo de 5 a 7 semanas. Evidências mostram que a radioterapia pós-operatória prolonga a sobrevida e reduz a recorrência tumoral.

A quimioterapia com temozolomida (TMZ) é o pilar farmacológico atual. O esquema mais empregado é o padrão de Stupp, com TMZ administrada durante e após a radioterapia. Pacientes com metilação do promotor MGMT apresentam melhor resposta e maior tempo de sobrevida. Estudos apontam que quatro ou mais ciclos de TMZ proporcionam resultados superiores em comparação a esquemas mais curtos.

Em casos de resistência à TMZ, têm sido testadas combinações com agentes como O6-benzilguanina, que bloqueia a reparação do DNA tumoral, e bevacizumabe, que inibe o fator de crescimento endotelial (VEGF) e reduz a angiogênese. O uso de imunoterapias e terapias-alvo está em fase de investigação, especialmente em tumores com mutações genéticas específicas.

Prognóstico 

O prognóstico do neuroglioma depende principalmente da idade do paciente, do grau histológico, do índice proliferativo (Ki-67), do Karnofsky Performance Status (KPS) e da adequação do tratamento adjuvante. Pacientes com menos de 60 anos, tumores de baixo grau (LGG), KPS ≥70 e baixa expressão de Ki-67 apresentam melhor sobrevida, enquanto aqueles com tumores de alto grau (HGG) e Ki-67 elevado evoluem de forma mais agressiva. 

A radioterapia pós-operatória e o uso de temozolomida em ciclos completos estão associados a aumento significativo da sobrevida, conforme demonstrado em estudos recentes. Em média, os gliomas de baixo grau apresentam sobrevida em torno de 3 anos, ao passo que nos de alto grau a média é de 12 a 18 meses, podendo ser maior com terapias combinadas e seguimento intensivo.

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Referências Bibliográficas 

  1. THOMAS, H. M.; HAMILTON, A.; TAYLOR, E. W. The Human Neuroglia-Glioma and Neuroglioma. Journal of the American Medical Association, v. 28, n. 24, p. 1367-1372, 1897.
  1. LI, F.; ZHANG, Y.; WANG, N. et al. Evaluation of the Prognosis of Neuroglioma Based on Dynamic Magnetic Resonance Enhancement. World Neurosurgery, v. 138, p. 663–671, 2020. DOI: 10.1016/j.wneu.2020.01.087.

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