Resumo de Retocolite ulcerativa: definição, diagnóstico e mais!

Resumo de Retocolite ulcerativa: definição, diagnóstico e mais!

Olá, meu Doutor e minha Doutora! Você sabia que os sintomas da retocolite ulcerativa (RCU) foram descritos no papiro de Ebers, um dos tratados médicos mais antigos descritos no Antigo Egito, há cerca de 1550 a.C.? Vem como o Estratégia MED conhecer um pouco mais sobre essa patologia!

O que é a Retocolite Ulcerativa 

A retocolite ulcerativa é um dos principais tipos de doença inflamatória intestinal (DII), juntamente com a doença de Crohn, sendo mais prevalente (90% dos casos de DII).

Permita-me explicar a etimologia (significado da palavra) da retocolite ulcerativa: 

  • Reto: vem do latim “rectum”, que significa “reta” ou “reto” e corresponde a parte final do intestino grosso.
  • Colite: vem do grego “kólon” que significa “intestino grosso”, e o sufixo “-ite” indica inflamação. Portanto, inflamação do intestino grosso. 
  • Ulcerativa: vem do latim “ulcus”, que significa “úlcera”, e o sufixo “-tiva” indica algo caracterizado por. Portanto, ulcerativa está associado a formação de úlceras.  

Agora ficou fácil entender que a retocolite ulcerativa é a inflamação do cólon e reto caracterizado por apresentar úlceras nessa regiões.

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Epidemiologia da Retocolite Ulcerativa 

A retocolite ulcerativa é mais prevalente em países desenvolvidos e industrializados como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e norte da Europa. As taxas de incidência são baixas na América Latina. Um estudo realizado no estado de São Paulo demonstrou que 3,8 a 6,7 por 100.000 habitantes/ano desenvolvem a retocolite ulcerativa.

A doença pode iniciar em qualquer idade, tendo um pico de incidência entre os 15 a 30 anos e outro pico entre os 55 a 80 anos. É mais comum no sexo masculino, embora alguns estudos demonstrem o oposto. Em relação à etnia, há uma maior ocorrência em judeus (principalmente judeus ashkenazi) e em caucasianos

Fisiopatologia da Retocolite Ulcerativa 

A fisiopatologia da retocolite ulcerativa ainda é incerta. Os estudos demonstram haver uma interação entre fatores genéticos, imunológicos, ambientais e microbiológicos.  

  1. Fatores genéticos: o risco de adquirir é maior quando há um membro da família acometido. As análises moleculares identificaram os genes NOD2/CARD15, sendo mais frequente na doença de Crohn em comparação a retocolite ulcerativa.
  1. Fatores imunológicos: este constitui, provavelmente, o mais importante aspecto na fisiopatologia da doença, induzidos pelas células apresentadoras de antígenos (p. ex; células dendríticas e macrófagos). A resposta imune patogênica envolve células Th2 que liberam substâncias inflamatórias como citocinas e interleucinas (p. ex; IL-13) causando danos ao tecido intestinal. 
  1. Fatores ambientais: os fatores ambientais podem variar, desde hábitos alimentares e estilo de vida a exposições ao estresse, infecções e medicamentos. 
  1. Fatores microbiológicos: a disbiose (alterações na microbiota intestinal) e a presença de bactérias patogênicas (p. ex; Clostridium difficile e Escherichia coli) favorecem o aparecimento da retocolite ulcerativa 

Manifestações Clínicas da Retocolite Ulcerativa 

A retocolite ulcerativa pode afetar o cólon e o reto. Portanto, o quadro clínico e a intensidade irá depender do local afetado e da extensão da doença. 

Anamnese

Pacientes com retocolite ulcerativa queixam-se de disenteria, hematoquezia e dor abdominal em cólica. O início dos sintomas é gradual e são progressivos ao longo dos meses. Sintomas associados como tenesmo, urgência evacuatória, febre, desidratação, perda ponderal e anemia podem estar presentes.  

10 a 35% dos pacientes apresentam manifestações extraintestinais. Vamos conhecer algumas delas: 

  1. Reumatológica: artropatia periférica e axial;
  1. Dermatológica: pioderma gangrenoso e eritema nodoso;
  1. Oftalmológicas: esclerite, conjuntivite e uveíte anterior;
  1. Hepatobiliares: colangite esclerosante primária (CEP), insuficiência hepática, esteatose hepática; e
  1. Osteometabólicas: baixa massa óssea, fraturas e osteonecrose.

Exame Físico   

Os achados no exame físico incluem sensibilidade e dor abdominal (geralmente no quadrante inferior esquerdo do abdômen), sinais de desidratação e presença de sangue ou muco ao toque retal. 

Classificação da Retocolite Ulcerativa

A depender da extensão da doença, a retocolite ulcerativa pode ser classificada em: 

  • proctite distal;
  • proctite total;
  • retossigmoidite distal;
  • colite esquerda;
  • pancolite sem ileíte; e
  • pancolite com ileíte de refluxo.
Locais de acometimento da RCU. Estratégia MED

Também utilizamos o Escore de Mayo para classificar a atividade da retocolite ulcerativa. A pontuação varia de 0 a 12 e quanto maior a pontuação, maior a atividade da doença:  

Número de evacuações diárias: 

  • 0: Nenhuma evacuação adicional em relação ao normal. 
  • 1: 1-2 evacuações adicionais em relação ao normal. 
  • 2: 3-4 evacuações adicionais em relação ao normal. 
  • 3: 5 ou mais evacuações adicionais em relação ao normal. 

Sangramento retal

  • 0: Nenhum sangramento. 
  • 1: Sangramento visível apenas durante a sigmoidoscopia. 
  • 2: Sangramento visível sem sigmoidoscopia. 

Avaliação endoscópica

  • 0: Mucosa normal ou apenas eritema leve. 
  • 1: Eritema e friabilidade moderados. 
  • 2: Ulcerações na mucosa, sem sangramento ativo. 
  • 3: Ulcerações intensas com sangramento ativo. 

Avaliação global do médico

  • 0: Doença inativa ou em remissão. 
  • 1: Doença leve. 
  • 2: Doença moderada. 
  • 3: Doença grave.
Achados endoscópicos na RCU. Estratégia MED

Diagnóstico da Retocolite Ulcerativa 

O diagnóstico é feito pela história clínica, exame físico, exames laboratoriais, exame endoscópico e achados histopatológicos. 

Exames laboratoriais

O paciente com retocolite ulcerativa apresenta um aumento da proteína C reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS) e plaquetose. A perda de sangue pode levar a uma diminuição dos níveis de hemoglobina e níveis elevados de calprotectina fecal e lactoferrina fecal podem ser encontrados na retocolite ulcerativa em atividade. 

Marcadores sorológicos também podem estar aumentados, como a ASCA (anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae) e p-ANCA (anticorpo anticitoplasma de neutrófilo perinuclear).

Exames endoscópicos

Os exames endoscópicos mais utilizados são retossigmoidoscopia e ileocolonoscopia. Eles permitem que o médico examine a mucosa intestinal, identificando inflamação, úlceras e outras características da doença e realize a biopsia para análise histológica. 

Achados histopatológicos

Algum dos principais achados histopatológicos da retocolite ulcerativa são: 

  • Inflamação que acomete a camada Mucosa; 
  • Abscessos das criptas;
  • Perda no formato das criptas;
  • Presença de plasmócitos e múltiplos agregados linfoides basais.
Achados histopatológicos do paciente com RCU. Estratégia MED

Tratamento da Retocolite Ulcerativa 

O objetivo principal do tratamento é controlar a inflamação, aliviar os sintomas e prevenir recorrências. Para isso, usamos uma combinação de medicamentos, mudanças na dieta e, em casos graves, recorremos à cirurgia. 

  1. Medicamentos: os aminossalicilatos (5-ASA) são anti-inflamatórios usados para tratar a retocolite ulcerativa leve a moderada. Em casos de retocolite ulcerativa moderada a grave podemos utilizar corticoides e imunossupressores.  
  1. Dieta: é importante evitar alimentos que agravem os sintomas, como alimentos picantes, gordurosos ou ricos em fibras. Uma dieta com baixo teor de resíduos pode ser recomendada para reduzir a irritação do cólon.
  1. Cirurgia: A cirurgia pode ser necessária em casos graves de retocolite ulcerativa que não respondem ao tratamento médico ou quando há complicações como perfuração do cólon, sangramento severo ou desenvolvimento de megacólon tóxico. A cirurgia mais comum é a colectomia, que envolve a remoção total ou parcial do cólon.

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Veja também: 

Referências Bibliográficas 

  1. Marc D Basson, MD. ULCERATIVE COLITIS. Medscape. 2023 
  1. Minsitério da Saúde. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS DA RETOCOLITE ULCERATIVA. 2020
  1. Professora Isabella Parente. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL. Estratégia MED. 2023  
  1. Victoria, C. R., Sassak, L. Y., & Nunes, H. R. (2009). Incidence and prevalence rates of inflammatory bowel diseases, in midwestern of São Paulo State, Brazil. Arquivos de gastroenterologia, 46(1), 20–25. https://doi.org/10.1590/s0004-28032009000100009
  1. Mark A Peppercorn, MD. Clinical manifestations, diagnosis, and prognosis of ulcerative colitis in adults. Uptodate. 2022
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