O Staphylococcus aureus é um importante patógeno na prática médica, responsável por uma ampla gama de manifestações clínicas, desde infecções cutâneas relativamente benignas, como impetigo e abscesso cutâneo, até condições potencialmente fatais, como endocardite e osteomielite.
Confira agora uma visão geral sobre esta bactéria, as principais repercussões clínicas, abordagem diagnóstica e opções de tratamento para casos leves até casos multirresistentes.
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Definição
O Staphylococcus aureus é uma bactéria gram-positiva que causa uma grande variedade de doenças clínicas, tanto adquiridas na comunidade quanto em ambiente hospitalar. O surgimento de cepas multirresistentes, como meticilina-resistentes (MRSA) torna o manejo dessas infecções um desafio na prática médica.
Epidemiologia e microbiologia do Staphylococcus aureus
Até 30% da população humana está colonizada por S. aureus, demonstrando que esta bactéria é comensal da pele. Algumas populações especiais tendem a ter taxas mais altas de colonização, como profissionais de saúde, pessoas que usam agulhas regularmente como diabéticos e usuários de drogas intravenosas, pacientes hospitalizados e indivíduos imunocomprometidos.
S. aureus é o patógeno mais comum isolado de celulite purulenta, abscessos cutâneos e infecções de sítio cirúrgico. No mundo industrializado, a incidência populacional de bacteremia por S. aureus varia de 10 a 30 por 100.000 pessoas ao ano.
Microbiologia
O Staphylococcus aureus é uma bactéria Gram-positiva com formato de coco e tende a se organizar em aglomerados descritos como “cachos de uvas”. Esses organismos podem crescer aeróbia ou anaerobicamente (facultativa) e em temperaturas entre 18 C e 40 C.
Assim como todas as cepas patogênicas de Staphylococcus é catalase positiva. No entanto, diferente da maioria das outras espécies, é coagulase positiva. As cepas MRSA carregam um gene mec, que codifica a proteína PBP-2a (proteína de ligação à penicilina 2a), conferindo resistência a vários antibióticos.
Os mecanismos de patogenicidade do S. aureus podem ser decorrentes da invasão direta dos tecidos, de bacteremia primária ou, exclusivamente, ser devidas às toxinas que ele produz.
Manifestações das infecções por Staphylococcus Aureus
Essas infecções podem se localizar em um ou em múltiplos sítios recebem diferentes designações. As infecções superficiais da pele e dos tecidos moles causadas por S. aureus geralmente se apresentam com purulência ou abscesso:
- Impetigo: infecção da epiderme.
- Foliculite: infecção da derme superficial
- Furúnculos, carbúnculos e abscessos: infecção da derme profunda
- Hidradenite supurativa: infecção folicular de áreas intertriginosas
- Celulite, erisipela e fasciite: infecção dos tecidos subcutâneos
- Piomiosite: infecção do músculo esquelético
- Mastite
- Infecções de sítio cirúrgico
Essas infecções de sítios primários podem ocasionar bacteremia, que representa hemoculturas positivas para S. aureus. A bacteremia pode gerar uma ampla gama de complicações que podem ser difíceis de reconhecer inicialmente e podem aumentar a morbidade e a mortalidade. As complicações comumentes associadas a bacteremia são:
- Endocardite infecciosa (a causa mais comum de EI no mundo industrializado)
- Infecção de cateter intravascular (Pacientes hemodialisados via cateter intravascular são fontes comuns de infecção com S. aureus MRSA fora do ambiente hospitalar)
- Artrite séptica (a maioria ocorre por disseminação hematogênica)
- Osteomielite
- Síndrome do choque tóxico estafilocócico
- Abscesso esplênico
- Infecção pulmonar por S. aureus (incluindo pneumonia, pneumonia necrotizante, abscesso, derrame pleural)
- Meningite bacteriana
- É uma causa rara de infecção do trato urinário (ITU) na comunidade, cerca de 0,5 a 1% das culturas de urina positivas.
Diagnóstico de Staphylococcus aureus
A avaliação inicial em pacientes com suspeita de infecção S. aureus consiste na coleta adequada de anamnese e exames físicos e identificação de fatores de risco, como história lesões de pele purulentas, história de valva protética ou endocardite prévia, pacientes críticos em uso de ventilação mecânica, hemodialisados, uso de drogas injetáveis, entre outros.
Em muitos casos, as culturas de rotina, como sangue, escarros ou ponta de catéter, irão identificar a bacteremia. Nestes casos, é de extrema importância realizar o antibiograma associado para avaliar o perfil de resistência da cepa identificada e guiar o tratamento. Outra forma de diagnóstico é através de métodos indiretos, como RT-PCR para genes 16S rRNA e auxilia no diagnóstico em alguns casos.
#Ponto importante: Pacientes com bacteremia identificada sem foco aparente devem ser submetidos a ecocardiografia, preferencialmente transtorácica, para avaliar a presença de endocardite.
Tratamento de Staphylococcus aureus
Infecções com focos primários, como o impetigo, podem ser tratados com terapia tópica, como mupirocina ou retapamulina. Não está claro se a terapia com antibióticos é necessária para infecções de pele não complicadas.
O antibiótico selecionado deve ser eficaz para o tratamento de infecções por S. aureus e estreptococos, a dicloxacilina ou cefalexina por sete dias são tratamentos adequados. No caso de suspeita de CA-MRSA, as opções apropriadas incluem sulfametoxazol-trimetoprima, clindamicina ou doxiciclina também pode ser usada.
- Algumas características da infecção de pele e tecidos moles são indicativos de tratamento parenteral:
- Envolvimento extenso dos tecidos moles
- Sinais de toxicidade sistêmica
- Progressão rápida das manifestações clínicas
- Persistência ou progressão dos sintomas após 48 a 72 horas de terapia oral
- Imunocomprometidos
- Proximidade de infecção de tecidos moles a um dispositivo residente, como uma prótese articular ou um enxerto vascular
Em geral, os derivados da penicilina, como a Oxacilina, e as cefalosporinas, como Cefazolina e Cefalotina, continuam sendo a droga de escolha se os isolados forem de S. aureus sensíveis à meticilina e a vancomicina para cepas de MRSA. No Brasil, a taxa de S. aureus resistentes ainda é baixa, principalmente fora dos grandes centros.
Desde antes do início do século, cepas resistentes à vancomicina foram identificadas, inclusive com casos relatados em hospitais brasileiros. Nestes casos, é extremamente importante que o tratamento seja guiado por antibiograma. Outras opções de antibióticos incluem tigeciclina, linezolida, daptomicina e ceftarolina para pacientes hospitalizados.
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Referências bibliográficas:
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