Olá, querido doutor e doutora! O transtorno neurológico funcional representa um desafio diagnóstico e terapêutico frequente na prática médica, caracterizado por sintomas neurológicos genuínos sem base estrutural identificável.
O reconhecimento precoce e a explicação adequada do diagnóstico estão entre os fatores mais associados à recuperação funcional e à melhora do prognóstico.
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O que é Trastorno neurológico funcional
O Transtorno Neurológico Funcional, também denominado Transtorno de Conversão ou Transtorno de Sintomas Neurológicos Funcionais, é caracterizado pela presença de um ou mais sintomas motores, ou sensoriais alterados, sem correspondência com doenças neurológicas ou médicas reconhecidas.
Conforme o DSM-5, o diagnóstico requer que os achados clínicos demonstrem incompatibilidade entre os sintomas e as condições neurológicas conhecidas, e que o quadro provoque sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional.
Epidemiologia
O transtorno neurológico funcional apresenta variação expressiva de frequência conforme a população e os critérios utilizados para diagnóstico. A prevalência anual estimada situa-se entre 2 e 22 casos por 100.000 pessoas, sendo observado em até um quinto dos pacientes atendidos em contextos neurológicos ou psiquiátricos.
Em hospitais gerais, cerca de 5% dos pacientes podem preencher critérios diagnósticos completos, enquanto até 25% apresentam sintomas compatíveis, mas sem confirmação definitiva. Em consultórios neurológicos ambulatoriais, um terço dos indivíduos manifesta sintomas inexplicáveis por causas médicas conhecidas.
O distúrbio pode ocorrer em qualquer faixa etária, embora seja mais frequente em mulheres jovens e em pessoas com transtornos psiquiátricos associados ou histórico de eventos traumáticos e estressores emocionais.
Etiologia e fisiopatologia
A etiologia do transtorno neurológico funcional é multifatorial, envolvendo interações entre fatores psicológicos, neurobiológicos e sociais. Embora o mecanismo exato permaneça incerto, sabe-se que estressores emocionais e experiências traumáticas podem desencadear ou perpetuar os sintomas.
Do ponto de vista neurobiológico, estudos sugerem alterações em circuitos corticais e subcorticais, especialmente nas regiões pré-motora, sensorial e temporoparietal, responsáveis pela integração entre intenção, percepção e controle motor. Há evidências de hipoatividade em áreas motoras e hiperconectividade entre estruturas límbicas e córtex motor suplementar, o que favorece a manifestação de sintomas motores e sensoriais sem lesão estrutural.
Sob a perspectiva psicológica, o quadro pode representar uma forma inconsciente de expressão de conflitos emocionais, nas quais afetos intoleráveis são convertidos em sintomas físicos. Modelos cognitivos modernos também propõem que falhas na atenção, processamento sensorial e controle executivo resultam em interpretações incorretas de estímulos internos, levando à ativação de padrões neurológicos disfuncionais.
Avaliação clínica
Sintomas motores
Os sintomas motores são os mais frequentes e incluem fraqueza ou paralisia, tremores, movimentos anormais, distúrbios da marcha e dificuldade para engolir. A fraqueza pode ser localizada ou generalizada e, muitas vezes, alterna de intensidade. Tremores e distonias costumam apresentar inconsistência durante o exame neurológico, como variação com distração ou mudança de ritmo.
Sintomas sensoriais
Manifesta-se por anestesia, parestesias, perda visual ou auditiva e alterações na fala, como disfonia ou fala arrastada. Esses sintomas não seguem padrões neurológicos típicos, podendo, por exemplo, apresentar perda de sensibilidade em áreas não compatíveis com a anatomia nervosa.
Convulsões não epilépticas
As chamadas crises psicogênicas não epilépticas simulam convulsões, mas não apresentam atividade elétrica cerebral anormal. O paciente pode exibir movimentos tônicos, perda de consciência aparente ou queda súbita, geralmente sem achados compatíveis com epilepsia.
Sintomas associados
Podem ocorrer fadiga, dor crônica, distúrbios do sono, dificuldades cognitivas e alterações de memória ou concentração. É comum coexistirem transtornos de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático e outras condições psiquiátricas.
Diagnóstico
Critérios diagnósticos
Segundo o DSM-5, o diagnóstico requer:
- Presença de sintoma(s) de função motora ou sensorial alterada;
- Evidência clínica de incompatibilidade entre sintomas e condições neurológicas ou médicas conhecidas;
- Sofrimento significativo ou prejuízo funcional decorrente dos sintomas;
- Ausência de explicação por outro transtorno médico ou mental.
Avaliação clínica
A avaliação deve incluir anamnese detalhada, com investigação de fatores estressores, traumas prévios e comorbidades psiquiátricas. O exame neurológico minucioso é indispensável, devendo buscar sinais positivos de funcionalidade, como:
- Sinal de Hoover: melhora da força na perna “fraca” quando o paciente é instruído a levantar a perna contralateral;
- Variação da fraqueza com distração;
- Tremor com frequência variável ou que muda durante tarefas simultâneas.
Exames complementares
Os exames laboratoriais e de imagem são úteis para excluir outras doenças, não para confirmar o transtorno. Ressonância magnética, EEG (especialmente para diferenciar crises psicogênicas de epilépticas) e testes neuropsicológicos padronizados podem ser empregados. Em geral, os resultados são normais ou inespecíficos.
Diagnóstico diferencial
É importante distinguir o transtorno neurológico funcional de condições como epilepsia, doenças desmielinizantes, distúrbios do movimento orgânicos, transtorno somático, transtorno factício e malingering, que envolvem motivação consciente para simulação de sintomas.
Tratamento
Abordagem geral
A primeira etapa é comunicar o diagnóstico de forma clara e acolhedora, explicando que os sintomas são reais e resultam de disfunções reversíveis na comunicação entre cérebro e corpo. Essa explicação pode, por si só, aliviar a ansiedade e melhorar a adesão terapêutica.
Intervenções psicológicas
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é o método mais estudado e pode reduzir significativamente a frequência e a intensidade dos sintomas, especialmente em pacientes com crises psicogênicas não epilépticas. A TCC foca no reconhecimento de gatilhos emocionais, no reprocessamento de respostas fisiológicas ao estresse e no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento mais adaptativas.
Outras abordagens possíveis incluem psicoterapia psicodinâmica, hipnoterapia, mindfulness e intervenções psicoeducacionais.
Fisioterapia e reabilitação
Para sintomas motores, recomenda-se fisioterapia especializada, que deve incluir reeducação do movimento, treino funcional, reforço positivo e estratégias de autocontrole em ambiente não punitivo e colaborativo. O trabalho conjunto com terapia ocupacional favorece a recuperação da autonomia e previne a cronificação.
Tratamento de comorbidades
O tratamento deve incluir a abordagem de transtornos psiquiátricos associados, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Antidepressivos e ansiolíticos podem ser indicados quando há sintomas emocionais significativos, sempre de acordo com avaliação clínica individual.
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Referências Bibliográficas
- EBSCO Information Services. Conversion Disorder (Functional Neurological Symptom Disorder). DynaMed, atualizado em 10 set. 2025.



