Olá, querido doutor e doutora! A tricomicose, também conhecida como tricobacteriose, é uma infecção superficial que acomete preferencialmente os pelos da região axilar, causada por bactérias do gênero Corynebacterium. Apesar de apresentar sinais clínicos característicos, é frequentemente subdiagnosticada na prática médica.
O diagnóstico costuma ser clínico, mas a lâmpada de Wood pode ajudar na identificação da fluorescência característica das concreções.
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Conceito
A tricomicose, termo tradicionalmente utilizado, refere-se a uma infecção superficial dos pelos, geralmente da região axilar, causada por bactérias do gênero Corynebacterium. Apesar do nome sugerir origem fúngica, trata-se de uma infecção bacteriana, motivo pelo qual muitos autores propõem o uso do termo tricobacteriose como mais apropriado.
A infecção se caracteriza pela formação de concreções aderidas à haste pilosa, geralmente de coloração amarela, mas podendo apresentar tons avermelhados ou enegrecidos em variantes menos frequentes. Essas concreções resultam da produção de biofilme bacteriano, sem penetração no interior do fio, limitando-se à camada superficial de queratina. A condição afeta preferencialmente regiões com glândulas apócrinas ativas, como axilas, púbis e, mais raramente, couro cabeludo.
Agente etiológico e transmissão
O principal agente associado à tricobacteriose é o Corynebacterium flavescens, anteriormente identificado como C. tenuis. Trata-se de uma bactéria Gram-positiva, aeróbia, de formato bacilar ou difteroide, pertencente à microbiota cutânea. Outras espécies relatadas incluem C. propinquum, C. rubrum, Dermabacter hominis e, raramente, bacilos pigmentados como Serratia marcescens, especialmente em variantes de coloração rubra.
Essas bactérias possuem a capacidade de aderir à haste pilosa por meio de uma substância cimentante insolúvel, produzida tanto pelo microrganismo quanto pelas glândulas apócrinas do hospedeiro. Esse biofilme gera concreções cerosas que envolvem o pelo e contribuem para sua coloração alterada.
A transmissão direta entre pessoas é incomum, mas pode ocorrer em ambientes de convívio muito próximo, como quartéis, academias ou alojamentos. A aderência firme da bactéria ao pelo limita sua disseminação, tornando a contaminação mais relacionada a fatores locais — como umidade, calor e higiene inadequada — do que a contato interpessoal.
Epidemiologia e fatores de risco
A tricobacteriose apresenta maior ocorrência em homens adultos entre 20 e 50 anos, faixa etária responsável por mais de 90% dos casos relatados. Estima-se uma proporção de 9 homens para cada mulher acometida. Essa disparidade se deve principalmente ao hábito mais frequente de depilação entre mulheres, o que impede a formação das concreções bacterianas ao eliminar o substrato (pelo) necessário para adesão.
A infecção é mais comum em regiões tropicais e úmidas, favorecida por ambientes que aumentam a produção e retenção de suor. Por isso, casos são mais frequentes nos meses quentes ou em locais com ventilação limitada. A região axilar é o local mais afetado, mas também podem ser atingidas a área pubiana, o couro cabeludo e, raramente, sobrancelhas.
Entre os principais fatores associados, destacam-se:
- Hiperidrose, que cria ambiente úmido propício ao crescimento bacteriano;
- Higiene inadequada, com acúmulo de secreções e restos celulares;
- Obesidade, que favorece retenção de suor em dobras cutâneas;
- Uso de roupas apertadas ou tecidos sintéticos, que dificultam a evaporação do suor;
- Clima quente e abafado, que intensifica a atividade das glândulas apócrinas.
Avaliação clínica
A apresentação clássica da tricobacteriose envolve o surgimento de concreções aderidas à haste pilosa, mais frequentemente na região axilar. Essas concreções têm aspecto ceroso ou mucoide, com coloração amarelada na grande maioria dos casos (variante flava), mas também podem ser avermelhadas (rubra) ou escuras (nigra), especialmente quando há coinfecção com microrganismos pigmentados como Serratia marcescens.
Os principais sinais e sintomas incluem:
- Alteração na textura dos pelos: espessamento perceptível ao toque;
- Bromidrose: odor corporal acentuado, resultado da modificação do suor pelas bactérias;
- Hiperidrose: frequentemente presente e relacionada à instalação da infecção;
- Cromidrose: coloração anormal do suor, ocasionalmente relatada;
- Mudança na cor dos pelos: com tons amarelados, avermelhados ou escurecidos;
- Prurido leve: pouco comum, mas descrito em alguns pacientes.
Em cerca de 6% dos casos, a infecção é completamente assintomática, sendo descoberta apenas durante o exame físico. Inicialmente, as concreções podem passar despercebidas e só serem notadas por espessamento dos fios ou manchas em roupas claras. A evolução tende a ser lenta, com formação progressiva de bainhas bacterianas ao redor dos pelos. A pele adjacente, em geral, não apresenta sinais inflamatórios visíveis.
Diagnóstico
O diagnóstico da tricobacteriose é, em grande parte, clínico, baseado na visualização direta das concreções aderidas à haste pilosa, especialmente na região axilar. O achado típico é a presença de uma película ou bainha de coloração amarelada, com aspecto ceroso, envolvendo os fios. A inspeção cuidadosa, muitas vezes com tração leve do pelo, já pode evidenciar o espessamento ou a formação de massas ao longo do fio.
Exames complementares úteis incluem:
- Lâmpada de Wood: evidencia fluorescência amarelada nas concreções (mais comum), embora outras cores também possam surgir, como esverdeada ou esbranquiçada, a depender da composição bacteriana;
- Exame direto com KOH a 20%: demonstra material opaco aderido ao pelo, sem invasão da medula capilar;
- Dermatoscopia polarizada: revela estruturas em forma de “rosário” ou “espetos”, características das bainhas bacterianas;
- Cultura em meio enriquecido (como ágar sangue ou BHI): pode ser realizada para confirmação etiológica, especialmente em casos atípicos ou recidivantes;
- Coloração de Gram: mostra bacilos Gram-positivos dispostos em ângulo ou em forma de letra “V”.
Apesar dos recursos auxiliares, a confirmação costuma ser desnecessária nos casos típicos. Diagnósticos diferenciais devem ser considerados principalmente quando o acometimento se dá em áreas incomuns, como couro cabeludo ou púbis. Nessas situações, a avaliação com Wood e dermatoscopia pode ser decisiva para evitar confusão com pediculose, tricoses estruturais ou pigmentações por cosméticos.
Tratamento
Tricotomia como etapa inicial
A remoção mecânica dos pelos por raspagem ou depilação é o primeiro passo no manejo da tricobacteriose. Essa medida elimina as concreções visíveis, melhora a aparência clínica imediata e reduz a carga bacteriana. No entanto, essa conduta isolada raramente é suficiente, pois as bactérias persistem na base folicular e tendem a reconstituir o biofilme conforme os pelos crescem novamente.
Antibióticos tópicos como conduta principal
A utilização de antibióticos de uso cutâneo é o ponto central do tratamento eficaz. Entre as opções mais utilizadas, destacam-se a clindamicina 1%, o ácido fusídico 2% e a eritromicina tópica (2–3%). Essas formulações devem ser aplicadas uma ou duas vezes ao dia, por pelo menos 7 a 14 dias. Peróxido de benzoíla 5% também pode ser usado, combinando ação antibacteriana com efeito queratolítico. Algumas preparações associam antibiótico e antifúngico, como a clindamicina com cetoconazol, especialmente quando há suspeita de coinfecção.
Casos refratários e antibiótico sistêmico
Em situações em que o quadro se estende para além da área axilar, apresenta recidivas frequentes ou falha terapêutica tópica, pode-se considerar o uso de antibióticos orais. A eritromicina via oral é a mais empregada, geralmente na dose de 250–500 mg, duas vezes ao dia, por 7 a 10 dias. Pode ser associada a cloreto de alumínio 15%, que atua como antitranspirante e ajuda a reduzir a umidade local.
Medidas complementares e prevenção de recidivas
Para evitar recorrência, recomenda-se controle da sudorese, com uso regular de antiperspirantes potentes, higiene cuidadosa e uso de roupas leves e arejadas. Orientações sobre hábitos de higiene pessoal e troca diária de vestuário são estratégias simples que reduzem o risco de recidiva. Em pacientes com hiperidrose persistente, o uso contínuo de cloreto de alumínio ou até mesmo avaliação para tratamentos como toxina botulínica pode ser considerado.
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Referências Bibliográficas
- MONTES DE OCA-LOYOLA, M. L. et al. An Overview of Trichobacteriosis (Trichomycosis): An Underdiagnosed Disease. Cureus, v. 15, n. 9, e45964, 2023.
- RITTER, A. S.; PRASAD, P. Corynebacterium Infections. DynaMed, EBSCO Information Services, 2025.