Resumo sobre Caquexia: definição, orientações nutricionais e mais!

Resumo sobre Caquexia: definição, orientações nutricionais e mais!

E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos falar sobre Caquexia, uma condição de perda de peso extrema.

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Definição de Caquexia

A caquexia é um estado hipercatabólico que se manifesta pela perda acelerada de massa muscular esquelética, ocorrendo em um contexto de resposta inflamatória crônica. Embora tenha sido descrita inicialmente em pacientes com câncer, a caquexia também é comum em idosos e em pacientes com outras doenças crônicas avançadas, como AIDS, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). 

Apesar da perda de apetite ser comum em indivíduos com doenças graves avançadas, a significativa perda de peso observada na caquexia não pode ser completamente explicada pela ingestão calórica inadequada. Essa condição é frequentemente resultado de inflamação sistêmica, alterações metabólicas e modificações neuro-hormonais.

A combinação sintomática de anorexia, perda de apetite e caquexia, que resulta em perda de peso não intencional, é frequentemente denominada síndrome de anorexia-caquexia.

A caquexia é distinta da sarcopenia, que é definida pela redução da massa muscular esquelética em uma quantidade que está dois desvios padrão abaixo dos valores normais específicos para adultos jovens do mesmo sexo. 

Fisiopatologia da Caquexia 

A fisiopatologia da caquexia envolve uma interação complexa entre fatores tumorais, sistêmicos e metabólicos, resultando em uma série de alterações fisiológicas que contribuem para a perda de peso e a deterioração do estado nutricional dos pacientes.

A caquexia está associada a uma resposta inflamatória crônica, que é desencadeada pela presença do tumor. Essa inflamação persistente leva à produção aumentada de citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucina-6 (IL-6) e interleucina-1 (IL-1). Essas citocinas desempenham um papel crucial na promoção da degradação muscular, supressão do apetite e alterações metabólicas.

Pacientes com caquexia frequentemente apresentam um aumento do metabolismo basal, levando a um maior gasto energético em repouso. Esse hipermetabolismo contribui para a rápida perda de peso e a depleção de reservas energéticas.

A caquexia está associada a disfunções no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) e no sistema nervoso autônomo, resultando em alterações nos níveis de hormônios anabólicos, como a testosterona e o hormônio de crescimento (GH), e no aumento da atividade do sistema simpático.

A presença do tumor e a resposta inflamatória associada levam a alterações no metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios. Isso inclui um aumento da degradação proteica muscular, diminuição da síntese proteica, resistência à insulina e aumento da lipólise.

A anorexia, ou perda de apetite, é comum em pacientes com caquexia, mas não é o único fator responsável pela perda de peso. Estudos indicam que, mesmo quando os pacientes consomem quantidades adequadas de energia, eles ainda podem perder peso devido ao hipermetabolismo e à degradação muscular aumentada.

Avaliação clínica da Caquexia

A avaliação clínica de pacientes com anorexia ou caquexia é um processo crucial que envolve uma história detalhada, com foco em questões nutricionais e fatores de risco que podem comprometer a capacidade do paciente de obter ou ingerir nutrientes. 

Todos os pacientes com doença avançada, especialmente câncer, devem ser cuidadosamente avaliados quanto à perda de apetite, diminuição da ingestão calórica e perda de peso não intencional. Essa triagem pode ser conduzida por médicos ou nutricionistas licenciados.

Condições contribuintes, como hipogonadismo, insuficiência adrenal, anormalidades da tireoide e gastroparesia, devem ser consideradas durante a avaliação. Além disso, certos medicamentos, como tratamentos direcionados ao câncer, podem estar associados à sarcopenia, contribuindo para a diminuição da massa corporal magra. Para pacientes sem câncer, outros medicamentos também podem afetar o apetite.

É essencial também avaliar sintomas secundários de impacto nutricional (S-NIS), que podem incluir dor, xerostomia, náusea, constipação e depressão, pois esses sintomas podem influenciar negativamente a ingestão calórica. 

O sofrimento psicossocial é uma preocupação significativa em pacientes com anorexia ou caquexia, afetando tanto os pacientes quanto seus cuidadores. Portanto, é fundamental avaliar o sofrimento psicológico, como depressão e ansiedade, e oferecer suporte adequado.

Avaliação do estado nutricional

A avaliação do estado nutricional em pacientes com anorexia ou caquexia envolve uma abordagem multifacetada, que inclui medidas subjetivas e objetivas. As medidas subjetivas são obtidas por meio de breves questionários nutricionais preenchidos pelo paciente, como recordatórios alimentares, Escala Visual Analógica (VAS) para anorexia e a Subescala de Anorexia/Caquexia da Avaliação Funcional de Anorexia/Terapia de Caquexia (FAACT-A/CS). 

Além disso, ferramentas de triagem de desnutrição, como a Avaliação Subjetiva Global Gerada pelo Paciente (PG-SGA), mini avaliação nutricional (MNA), Ferramenta Universal de Triagem de Desnutrição (MUST) e Questionário Nutricional Simplificado de Apetite (SNAQ), são utilizadas para identificar pacientes em risco de desnutrição. Essas ferramentas consideram fatores como índice de massa corporal (IMC), perda de peso recente e mudanças na ingestão de alimentos.

Para complementar a avaliação subjetiva, medidas objetivas também são empregadas. Isso inclui registros dietéticos de ingestão nutricional mantidos pelo paciente em casa, exames físicos para avaliar perda de gordura subcutânea, perda de massa muscular e edema, além de medidas antropométricas como circunferência do braço e dobras cutâneas. 

Medidas objetivas do estado nutricional, como peso corporal seriado, bioquímicas e laboratoriais, também são realizadas, incluindo avaliação de albumina e transferrina. Essa abordagem abrangente permite uma avaliação completa do estado nutricional do paciente, identificando riscos de desnutrição e direcionando intervenções nutricionais adequadas.

Tratamento de Caquexia

As intervenções nutricionais e de estilo de vida desempenham um papel significativo no manejo da anorexia e caquexia, sendo essenciais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Estratégias como a promoção do prazer em saborear os alimentos e a valorização das refeições como momentos sociais são incentivadas, juntamente com a adoção de refeições pequenas e frequentes, ricas em calorias. Além disso, o uso de canudos para facilitar a ingestão de líquidos e a preferência por refeições de fácil preparo são recomendados. 

No entanto, é importante ressaltar que o aumento da ingestão calórica não reverte o processo subjacente da caquexia, e que tanto a perda de apetite quanto a perda de peso não intencional são sintomas comuns em pacientes em estado avançado de doenças crônicas.

A otimização do manejo de condições contribuintes para a anorexia, como náuseas crônicas e depressão, pode resultar em melhorias significativas. Para casos de anorexia persistente, tratamentos farmacológicos podem ser considerados, embora sua eficácia na reversão da caquexia seja limitada. 

A consulta com um nutricionista é recomendada para todos os pacientes com caquexia, visando fornecer suporte individualizado para atender às necessidades nutricionais e desencorajar o uso de suplementos dietéticos não comprovados.

Além disso, o tratamento específico de condições como a gastroparesia é importante para melhorar a ingestão alimentar. No entanto, em pacientes com doença avançada e risco de vida, a nutrição artificial geralmente não é recomendada, exceto em casos específicos de obstrução intestinal de alto grau ou má absorção. Nessas situações, um teste de curto prazo de suporte nutricional parenteral domiciliar pode ser considerado, com reavaliação periódica para garantir que os benefícios superem os danos.

Para pacientes com câncer, opções farmacológicas como a olanzapina podem ser utilizadas para gerenciar a caquexia, enquanto pacientes com HIV/AIDS podem se beneficiar da adição de acetato de megestrol às medidas de suporte. No entanto, é importante considerar os riscos associados a esses medicamentos, como edema e fenômenos tromboembólicos.

Veja também!

Referências

Consenso Brasileiro de Caquexia e Anorexia em Cuidados Paliativos. Associação Brasileira de Cuidados Paliativos. Disponível em: https://bit.ly/3G54DCJ;

Eduardo Bruera, MDRony Dev, DO. Assessment and management of anorexia and cachexia in palliative care. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate

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