E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Encoprese, um distúrbio caracterizado pela eliminação repetida de fezes em locais inadequados, frequentemente associado a condições como constipação crônica e fatores emocionais.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e acolhedora.
Vamos nessa!
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Definição de Encoprese
A encoprese é caracterizada pela eliminação repetida de fezes em locais inadequados, como roupas ou chão, podendo ser um ato involuntário ou, menos frequentemente, intencional. Para o diagnóstico, é necessário que esse comportamento ocorra pelo menos uma vez por mês durante três meses consecutivos e que a criança tenha idade cronológica ou mental mínima de 4 anos.
Existem dois subtipos principais de encoprese. No subtipo associado à constipação e incontinência por extravasamento, as fezes geralmente são malformadas, e o extravasamento pode variar de ocasional a contínuo, ocorrendo mais comumente durante o dia. A defecação é parcial, e a incontinência tende a cessar após o tratamento da constipação.
Já no subtipo sem constipação, as fezes costumam ter forma e consistência normais, e a evacuação ocorre de maneira intermitente. Esse subtipo pode estar relacionado a transtornos comportamentais, como transtorno de oposição desafiante ou transtorno de conduta, e, em alguns casos, a masturbação anal.
Em termos de prevalência, estima-se que aproximadamente 1% das crianças de 5 anos de idade apresentem encoprese, sendo mais comum entre meninos. A condição pode impactar significativamente a qualidade de vida da criança, exigindo intervenção adequada para resolução dos sintomas.
Etiologias da Encoprese
As etiologias da encoprese podem ser divididas em causas relacionadas à constipação crônica e casos mais raros, de origem psicogênica ou neurológica. Entre as principais causas estão:
Constipação Crônica
A constipação crônica, frequentemente associada à encoprese, pode resultar de diversos fatores, como:
- Dieta inadequada: consumo insuficiente de fibras, encontradas em frutas, vegetais e grãos integrais, associado a uma ingestão excessiva de alimentos constipantes, como leite integral, queijo, pão branco e arroz branco.
- Baixa ingestão de líquidos: a desidratação pode dificultar o trânsito intestinal e o amolecimento das fezes.
- Estilo de vida sedentário: a falta de exercício reduz a motilidade intestinal, dificultando a evacuação.
- Fissuras anais: a presença de fezes volumosas e endurecidas pode causar fissuras dolorosas, levando a medo e ansiedade em relação à evacuação, o que perpetua o ciclo de retenção fecal.
- Fatores comportamentais: algumas crianças ignoram a vontade de evacuar por estarem distraídas com brincadeiras, televisão ou por evitarem banheiros desconhecidos, como os da escola.
Condições médicas associadas
Certas condições podem contribuir para a constipação crônica e, eventualmente, para a encoprese, como:
- Hipotireoidismo: níveis reduzidos de hormônios da tireoide retardam o trânsito gastrointestinal, causando constipação.
- Problemas neurológicos: alterações nos nervos da coluna ou da parede intestinal podem interferir no funcionamento adequado do trato digestivo.
Fatores psicológicos
A encoprese pode surgir devido a fatores emocionais e comportamentais, incluindo:
- Ansiedade e medo: crianças podem evitar evacuar em locais desconhecidos ou apresentar tensão durante o treinamento do banheiro.
- Estresse e traumas: eventos como a perda de um ente querido, situações de abuso ou outros traumas podem estar associados ao desenvolvimento do distúrbio.
- Problemas comportamentais: raiva, impulsividade e outras questões emocionais também podem contribuir.
Ciclo Fisiopatológico
Independentemente da causa inicial, a constipação crônica pode levar à formação de grandes massas fecais que distendem o reto. Essa distensão reduz o tônus e a sensibilidade do órgão, dificultando a evacuação e agravando a retenção fecal. Com o tempo, pode ocorrer vazamento involuntário de fezes.
Manifestações clínicas da Encoprese
Os sinais mais perceptíveis são as cuecas sujas com fezes e um odor corporal desagradável, geralmente associado ao cheiro de fezes. Além disso, as crianças podem apresentar períodos alternados de constipação (ausência de evacuações) com evacuações volumosas, que podem indicar impacto fecal.
Outros sinais incluem a presença de manchas de sangue nas fezes ou no papel higiênico, geralmente resultantes de fissuras anais causadas pela passagem de fezes endurecidas. Também são comuns dores no abdômen inferior ou no reto, relacionadas à retenção fecal ou ao esforço durante a evacuação.
Em algumas situações, a criança pode tentar esconder roupas sujas de fezes, frequentemente encontradas em locais como armários ou debaixo da cama. Além disso, pode haver enurese (urinar involuntariamente), frequentemente associada à pressão exercida pelas fezes retidas no reto sobre a bexiga.
Em casos raros e mais graves, ligados a problemas psicológicos, a criança pode demonstrar comportamentos como espalhar fezes no chão, nas paredes ou nos móveis, indicando um distúrbio de maior complexidade.
Diagnóstico de Encoprese
O diagnóstico de encoprese é feito com base em critérios específicos que envolvem a eliminação repetida de fezes em locais inadequados, como roupas ou chão, que pode ser voluntária ou involuntária.
Critérios Diagnósticos para Encoprese (307.7 – F98.1)
A. Eliminação intestinal repetida de fezes em locais inapropriados
- Exemplos: roupa, chão.
- Pode ser voluntária ou involuntária.
B. Frequência mínima de episódios
- Pelo menos um evento por mês durante pelo menos três meses.
C. Idade mínima
- A idade cronológica mínima é 4 anos (ou nível de desenvolvimento equivalente em crianças com atraso no desenvolvimento).
D. Exclusão de causas externas
- O comportamento não deve ser atribuído exclusivamente aos efeitos fisiológicos de substâncias (como laxantes) ou a outra condição médica, exceto por um mecanismo envolvendo constipação.
Além disso, é fundamental determinar o subtipo da encoprese. No subtipo com constipação e incontinência por extravasamento, há evidências de constipação, seja por exame físico ou histórico clínico. No subtipo sem constipação e incontinência por extravasamento, a constipação não está presente, nem no exame físico nem na história médica.
As manifestações da encoprese frequentemente envolvem episódios de constipação, impactação fecal e retenção de fezes, que podem levar ao extravasamento. Esse quadro pode ser relacionado a fatores psicológicos, como ansiedade em relação à defecação ou comportamentos ansiosos e opositivos.
Fatores fisiológicos, como uma força de defecação ineficaz ou dinâmica de defecação paradoxal, também podem contribuir para a constipação. Além disso, condições como desidratação, hipotireoidismo ou efeitos colaterais de medicamentos podem favorecer o surgimento da constipação.
As características associadas que podem apoiar o diagnóstico incluem o embaraço da criança, que pode evitar situações sociais como ir à escola ou acampamentos, devido ao medo de constrangimento. Esse comportamento pode afetar a autoestima da criança, gerando rejeição social, raiva e punição por parte dos cuidadores.
Em casos em que a eliminação de fezes é claramente intencional, pode haver a presença de transtorno de oposição desafiante ou transtorno de conduta. Crianças com encoprese e constipação crônica também podem apresentar sintomas de enurese, e, em alguns casos, refluxo vesicoureteral, que pode levar a infecções urinárias crônicas, as quais geralmente melhoram com o tratamento da constipação.
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Referências
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014
HARVARD HEALTH PUBLISHING. Encopresis (Fecal Soiling). Disponível em: https://www.health.harvard.edu/a_to_z/encopresis-fecal-soiling-a-to-z. Acesso em: 30 jan. 2025.