Resumo sobre Espectro da Neuromielite Óptica: definição, manifestações clínicas e mais!
Ressonância magnética do cérebro. Imagens ponderadas em T1 pós-contraste axial (A) e sagital (B) demonstram realce do quiasma óptico. Fonte: UpToDate

Resumo sobre Espectro da Neuromielite Óptica: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é o Espectro da Neuromielite Óptica (NMO), uma doença autoimune rara que afeta principalmente o nervo óptico e a medula espinhal. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Espectro da Neuromielite Óptica

O espectro da neuromielite óptica (NMOSD) é uma condição inflamatória do sistema nervoso central que compreende diferentes apresentações clínicas relacionadas a um mesmo mecanismo imunológico. 

Anteriormente conhecida como doença de Devic ou neuromielite óptica (NMO), essa entidade caracteriza-se por episódios de desmielinização e dano axonal graves, que afetam de forma predominante os nervos ópticos e a medula espinhal, podendo também comprometer estruturas cerebrais ricas em aquaporina-4.

Durante muitos anos, a neuromielite óptica foi considerada uma variante da esclerose múltipla, em razão das semelhanças clínicas e radiológicas. No entanto, a descoberta do anticorpo NMO-IgG, direcionado contra o canal de água aquaporina-4 (AQP4), permitiu estabelecer o NMOSD como uma entidade distinta, com mecanismos patogênicos, achados de imagem, biomarcadores e condutas terapêuticas próprios. 

Dessa forma, o conceito de espectro ampliou a compreensão da doença, incluindo manifestações que vão além da forma clássica descrita por Devic, reforçando a sua natureza autoimune e a necessidade de diagnóstico preciso para diferenciar de outras doenças desmielinizantes.

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Fisiopatologia do Espectro da Neuromielite Óptica

Ele apresenta uma fisiopatologia distinta da esclerose múltipla, com lesões mais graves e necrosantes. O processo inflamatório envolve múltiplos segmentos da medula espinhal e os nervos ópticos, levando à desmielinização extensa, morte de astrócitos, perda axonal, necrose e cavitação que acometem tanto substância cinzenta quanto branca.

O mecanismo central é autoimune, mediado principalmente pelo sistema humoral, com destaque para o anticorpo anti-aquaporina-4 (AQP4-IgG). Esse autoanticorpo se liga a canais de água expressos nos astrócitos, desencadeando inflamação, deposição de imunoglobulinas e complemento em padrão característico e, consequentemente, desmielinização secundária. A atividade clínica da doença costuma correlacionar-se com os títulos séricos de anti-AQP4, que reduzem após terapias imunossupressoras.

O acometimento primário dos astrócitos (astrociopatia) explica manifestações como náuseas e vômitos persistentes, quando o alvo é a área postrema. Além disso, a perda de expressão da AQP4 nos tecidos afetados distingue o NMOSD das lesões típicas da esclerose múltipla.

Evidências adicionais de origem autoimune incluem a associação frequente com outras doenças imunomediadas, como lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, miastenia gravis e doenças da tireoide. Também foram identificadas predisposições genéticas, como a associação do NMOSD ao alelo HLA-DPB1-0501, sobretudo em populações asiáticas.

Epidemiologia do Espectro da Neuromielite Óptica

Há uma prevalência entre 0,37 e 10/100.000 habitantes, acomete principalmente mulheres (até 10 vezes mais que homens) e costuma iniciar entre 32 e 41 anos. É mais frequente em populações não europeias (africanas, asiáticas e latino-americanas) e pode estar associado a doenças autoimunes, como lúpus, Sjögren e miastenia gravis. A maioria dos casos é esporádica, mas há raros relatos familiares e relação com variantes genéticas do HLA.

Manifestações clínicas do Espectro da Neuromielite Óptica

As manifestações clínicas do espectro da neuromielite óptica são variadas, mas têm como características principais neurite óptica e mielite transversa, geralmente em curso recorrente e com risco elevado de sequelas permanentes.

  • Neurite óptica: causa perda visual grave, geralmente mais intensa que na esclerose múltipla, podendo ser unilateral, bilateral simultânea ou sequencial rápida. O acometimento do quíasma óptico é sugestivo desse quadro.
  • Mielite transversa: manifesta-se com paraparesia ou tetraparesia simétrica, perda sensitiva abaixo da lesão e disfunção urinária. Frequentemente apresenta-se como mielite extensa longitudinal (LETM), que envolve três ou mais segmentos medulares.
  • Síndromes encefálicas e de tronco cerebral: incluem encefalopatia, desmielinização cerebral fulminante, síndrome da área postrema (náuseas, vômitos e soluços intratáveis), distúrbios hipotalâmicos (sonolência excessiva, narcolepsia, alterações autonômicas) e PRES. Em casos graves, pode ocorrer insuficiência respiratória ou até edema cerebral fatal.
  • Outros sintomas: dor (presente em até 80% dos pacientes, principalmente em tronco e pernas), mialgias e raramente miosite autoimune. Alterações metabólicas, como hiponatremia por SIADH ou perda cerebral de sal, também podem estar associadas.
  • Em crianças, há maior frequência de envolvimento cerebral, com encefalopatia, convulsões e lesões na ressonância semelhantes às da esclerose múltipla ou da encefalomielite disseminada aguda.

O curso clínico é recorrente em mais de 90% dos casos, com risco de sequelas graves já nos primeiros anos: cegueira e paraplegia podem ocorrer em até cinco anos após o início, diferindo da esclerose múltipla por não evoluir para fase progressiva, mas sim por acúmulo de déficits após cada surto.

Diagnóstico do Espectro da Neuromielite Óptica

O diagnóstico do espectro da neuromielite óptica (NMOSD) é baseado na combinação de manifestações clínicas típicas, achados de neuroimagem e na pesquisa de autoanticorpos, principalmente o anti-AQP4-IgG.

Quando suspeitar

Deve-se considerar NMOSD diante de:

  • Neurite óptica grave, bilateral, sequencial rápida ou com acometimento do quiasma.
  • Síndrome medular completa (paraparesia/quadriparesia simétrica com disfunção esfincteriana).
  • Síndrome da área postrema (náuseas, vômitos ou soluços intratáveis).

Um curso progressivo e lento, por meses ou anos, é atípico e sugere outros diagnósticos.

Investigações principais

  • Ressonância magnética (RM) de encéfalo, órbitas e medula:
    • Lesões medulares geralmente extensas, envolvendo ≥3 segmentos vertebrais (LETM).
    • Lesões típicas em áreas ricas em AQP4 (medula, hipotálamo, diencefálo, tronco).
    • Neurite óptica extensa, frequentemente acometendo o quiasma.
Neuromielite óptica
A imagem da medula espinhal no contexto de mielite aguda na NMOSD geralmente revela uma lesão de LETM estendendo-se por três ou mais segmentos vertebrais. A RM ponderada em T2 sagital da medula espinhal torácica (A) demonstra uma lesão típica de LETM envolvendo a maior parte da medula espinhal torácica (setas). As lesões de LETM têm predileção pela medula central, como demonstrado pela RM ponderada em T2 axial (B, ponta de seta) e ponderada em T1 com gadolínio (C, ponta de seta). A LETM cervical pode se estender para a medula, um padrão característico da NMOSD demonstrado em D (setas; RM ponderada em T2 sagital) e E (setas; RM ponderada em T1 sagital com gadolínio). Lesões agudas de LETM podem estar associadas à hipointensidade intralesional, como demonstrado pela RM ponderada em T1 sagital (F, seta); neste exemplo, uma borda de realce com gadolínio circunda a região hipointensa. Sequelas crônicas da LETM podem incluir segmentos longitudinalmente extensos de atrofia da medula espinhal, como demonstrado por RM ponderada em T2 nos planos sagital (G, as duas pontas de seta indicam o segmento atrófico e a seta superior indica o diâmetro normal da medula espinhal cervical não afetada) e axial (H, a ponta de seta mostra uma medula espinhal atrófica). RM ponderada em T2 com supressão de gordura e eco rápido de spin nos planos axial (I) e coronal (J) mostra aumento do sinal em quase toda a extensão do nervo óptico esquerdo, especialmente em sua porção posterior (setas). RM ponderada em T1 axial com gadolínio mostra realce do quiasma óptico (K, setas). Essas imagens são de dois pacientes diferentes apresentando neurite óptica aguda no contexto de NMOSD. Fonte: UpToDate
Neuromielite óptica
Ressonância magnética do cérebro. Imagens ponderadas em T1 pós-contraste axial (A) e sagital (B) demonstram realce do quiasma óptico. Fonte: UpToDate
Ressonância
Neuromielite Óptica. Ressonância magnética mostrando inflamação da coluna vertebral, um aspecto comum da neuromielite óptica. Contribuição de Steve Lange, MD
  • Sorologia:
    • Anti-AQP4-IgG (NMO-IgG), teste mais específico (alta especificidade, sensibilidade moderada).
    • Se negativo, pesquisar anticorpos anti-MOG, que definem a MOGAD, uma doença relacionada mas distinta.
  • Líquor (LCR): útil para diferenciar da esclerose múltipla. No NMOSD pode haver pleocitose e proteína elevada, mas oligoclonais geralmente ausentes (ao contrário da EM).
  • Exames adicionais: triagem de doenças autoimunes associadas (lúpus, Sjögren etc.).

Critérios diagnósticos (2015)

  1. Com AQP4-IgG positivo:
    • Pelo menos 1 característica clínica central (neurite óptica, mielite aguda, síndrome da área postrema, síndrome do tronco cerebral, síndrome diencefálica, ou síndrome cerebral típica).
    • Exclusão de diagnósticos alternativos.
  2. Com AQP4-IgG negativo ou desconhecido:
    • Pelo menos 2 características clínicas centrais em ataques distintos.
    • Uma delas deve ser neurite óptica, mielite extensa (LETM) ou síndrome da área postrema.
    • Evidência de disseminação no espaço (≥2 locais distintos).
    • Achados de RM compatíveis.
    • Exclusão de diagnósticos alternativos.

Assim, o diagnóstico do NMOSD depende da associação clínica + sorológica + radiológica, sendo o anti-AQP4-IgG o marcador mais específico.

Tratamento do Espectro da Neuromielite Óptica

O tratamento do espectro da neuromielite óptica (NMOSD) envolve duas abordagens principais: controle dos surtos agudos e prevenção de recorrências.

  • Surtos agudos: geralmente tratados com metilprednisolona intravenosa em altas doses. Em casos graves ou refratários, utiliza-se plasmaférese ou, em menor escala, imunoglobulina intravenosa.
  • Prevenção de recaídas: o objetivo é reduzir novos surtos, que são responsáveis pela progressão da incapacidade. Os fármacos aprovados para NMOSD incluem:
    • Eculizumabe (anticorpo contra C5 do complemento)
    • Inebilizumabe (anticorpo anti-CD19)
    • Satralizumabe (anticorpo anti-IL-6R)
      Além deles, também se utilizam rituximabe (anti-CD20), micofenolato de mofetila e azatioprina como imunossupressores de uso frequente.
  • Escolha terapêutica: depende da disponibilidade, perfil de segurança, custos e presença de comorbidades. O uso contínuo é essencial, já que a maioria dos pacientes apresenta curso recorrente e cada surto pode causar sequelas permanentes, como cegueira e paraparesia.

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Referências

Wingerchuk DM, Weinshenker BG. Neuromyelitis optica (Devic’s syndrome). Handb Clin Neurol. 2014;122:581-99. doi: 10.1016/B978-0-444-52001-2.00025-X. PMID: 24507536.

Christopher C Glisson, DO, MS, FAAN. Neuromyelitis optica spectrum disorder (NMOSD): Clinical features and diagnosis. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate

Christopher C Glisson, DO, MS, FAAN. Neuromyelitis optica spectrum disorder (NMOSD): Treatment and prognosis. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate

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