Resumo sobre Intoxicação por Benzodiazepínicos: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo sobre Intoxicação por Benzodiazepínicos: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Intoxicação por Benzodiazepínicos, uma condição resultante do uso excessivo ou inadequado dessa classe de fármacos amplamente utilizada na prática clínica. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Intoxicação por Benzodiazepínicos

A intoxicação por benzodiazepínicos é uma condição clínica decorrente da exposição excessiva ou inadequada a fármacos dessa classe, caracterizada pela intensificação de seus efeitos depressores sobre o sistema nervoso central. 

Os benzodiazepínicos são medicamentos amplamente utilizados desde a década de 1960 para o tratamento de ansiedade, insônia, crises convulsivas, estados de abstinência, agitação e para sedação em procedimentos, em razão de seu perfil de segurança relativamente superior aos sedativos hipnóticos mais antigos. 

Contudo, devido à sua ampla disponibilidade, uso prolongado e potencial de dependência e abuso, esses fármacos estão frequentemente associados a quadros de intoxicação, que podem ocorrer de forma acidental, terapêutica ou intencional, isoladamente ou em associação com outras substâncias.

Fisiopatologia da Intoxicação por Benzodiazepínicos

A fisiopatologia da intoxicação por benzodiazepínicos está relacionada à potencialização excessiva da neurotransmissão inibitória no sistema nervoso central. Esses fármacos atuam como moduladores alostéricos positivos do receptor GABA A, principal receptor inibitório do cérebro, responsável pela ação do ácido gama aminobutírico, o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central.

Os benzodiazepínicos ligam se a um sítio específico localizado na interface das subunidades do receptor GABA A, promovendo uma alteração conformacional que aumenta a afinidade do receptor pelo GABA. Embora não interfiram na síntese, liberação ou metabolismo do GABA, esses medicamentos intensificam sua ação ao facilitar a abertura do canal de cloreto associado ao receptor. Como consequência, ocorre um aumento do influxo de íons cloreto para o interior do neurônio, levando à hiperpolarização da membrana pós sináptica e reduzindo a excitabilidade neuronal.

Na intoxicação, essa ação inibitória é exacerbada, resultando em depressão progressiva do sistema nervoso central, manifestada clinicamente por sonolência, sedação, diminuição do nível de consciência, ataxia e disartria. 

A relativa baixa incidência de depressão respiratória isolada, quando comparada a outros sedativos como os barbitúricos, explica se pela menor densidade de receptores benzodiazepínicos no tronco encefálico, região que abriga os centros respiratórios. No entanto, o risco de depressão respiratória aumenta significativamente quando há associação com outros depressores do sistema nervoso central, como álcool ou opioides.

Manifestações clínicas da Intoxicação por Benzodiazepínicos

As manifestações clínicas da intoxicação por benzodiazepínicos são predominantemente decorrentes da depressão do sistema nervoso central, variando desde sonolência leve até estados mais graves, como estupor e coma. 

No quadro clássico de intoxicação isolada por benzodiazepínicos, observa-se depressão do nível de consciência associada à manutenção dos sinais vitais dentro da normalidade, o que diferencia essa condição de outras intoxicações por sedativos hipnóticos.

Alterações cardiovasculares são incomuns, e eventos cardíacos graves ou óbitos são raros quando a intoxicação ocorre exclusivamente por benzodiazepínicos. A principal complicação potencialmente grave é a depressão respiratória, que, embora menos frequente quando comparada aos barbitúricos, exige reconhecimento e intervenção imediatos. Quadros de comprometimento respiratório com risco de vida podem ocorrer especialmente após ingestões orais em grandes quantidades, com ou sem a associação de outras substâncias depressoras do sistema nervoso central.

A intoxicação também pode ter origem iatrogênica, particularmente em contextos de sedação para procedimentos, quando os benzodiazepínicos são administrados em conjunto com outros fármacos, como opioides, a exemplo do fentanil, aumentando o risco de depressão respiratória.

Em crianças, as manifestações clínicas costumam surgir precocemente, geralmente dentro das primeiras quatro horas após a ingestão. A ataxia é o sinal mais frequente, estando presente em aproximadamente 90% dos casos pediátricos. O comprometimento respiratório é raro nesse grupo etário, ocorrendo em menos de 10% dos casos, e episódios de hipotensão não são descritos, reforçando o perfil hemodinâmico geralmente estável da intoxicação por benzodiazepínicos.

Tratamento da Intoxicação por Benzodiazepínicos

A base do tratamento é o suporte clínico. A avaliação inicial deve priorizar vias aéreas, respiração e circulação. Em casos de depressão respiratória ou rebaixamento significativo do nível de consciência, pode ser necessária a intubação orotraqueal para garantir ventilação adequada. 

A monitorização contínua e o suporte hemodinâmico devem ser mantidos conforme a necessidade. Métodos de descontaminação gastrointestinal, como carvão ativado em dose única ou múltipla, irrigação intestinal total e hemodiálise, não possuem papel no manejo da intoxicação por benzodiazepínicos e não são recomendados.

Uso do flumazenil

O flumazenil é um antagonista competitivo dos receptores benzodiazepínicos e pode reverter a sedação induzida por esses fármacos. No entanto, seu uso não é indicado de forma rotineira na intoxicação aguda, pois os riscos frequentemente superam os benefícios.

Entre os principais efeitos adversos associados ao flumazenil estão convulsões e arritmias cardíacas, especialmente taquicardia supraventricular paroxística, havendo relatos de eventos fatais. 

Em pacientes com uso crônico de benzodiazepínicos, a administração do flumazenil pode precipitar síndrome de abstinência aguda, reduzir o limiar convulsivo e desencadear crises convulsivas potencialmente graves, além de dificultar o tratamento, já que os benzodiazepínicos deixam de ser eficazes após o bloqueio de seus receptores.

Indicações restritas

O flumazenil pode ser considerado em situações específicas, principalmente em pacientes não dependentes de benzodiazepínicos, como crianças com ingestão acidental ou pacientes submetidos à sedação para procedimentos.

 Mesmo nesses cenários, a decisão deve ser individualizada, baseada na avaliação criteriosa do risco benefício, considerando que a maioria dos casos evolui de forma favorável apenas com medidas de suporte e observação clínica.

De olho na prova!

Não pense que esse assunto fica de fora das provas de residência, concursos públicos e até das avaliações da graduação. Veja abaixo:

RJ – Secretaria Estadual de Saúde – SES RJ – 2019 – Residência (Acesso Direto)

Nas intoxicações por benzodiazepínicos, o antídoto a ser utilizado é o(a):

A) insulina

B) glucagon

C) piridoxina

D) flumazenil

Comentário da questão: 

Estrategista, a intoxicação grave por benzodiazepínicos pode causar sedação, hiporreflexia, ataxia, hipotensão, bradicardia e, em casos graves, depressão respiratória e coma.

Cabe ainda ressaltar, que os benzodiazepínicos e as drogas “Z” são muito seguras e com alto índice terapêutico, com a sua dosagem letal se distanciando cerca de 200 vezes da dosagem terapêutica. Por isso, casos de morte são raros quando ocorrem intoxicações apenas com benzodiazepínicos ou drogas “Z”, acontecendo principalmente quando essas substâncias são consumidas em conjunto com outros depressores do SNC.

Desta forma, o flumazenil é a droga de escolha para reverter os efeitos graves causados pela intoxicação por benzodiazepínicos e drogas “z”, como o zolpidem, contudo, deve ser administrado apenas em casos considerados graves, em que há depressão respiratória.

Vamos às alternativas!

Alternativa “a” incorreta: Insulina é uma medicação utilizada para o manejo da diabetes, estados hiperglicêmicos e hipercalêmicos, dentre outros usos.

Alternativa “b” incorreta: Glucagon pode ser utilizado como antídoto em intoxicações por betabloqueadores, antagonistas do canal de cálcio e antidepressivos tricíclicos.

Alternativa “c” incorreta: Vitamina B6, também conhecida como piridoxina, pode ser utilizada nas intoxicações por isoniazida, comumente usado no tratamento da tuberculose.

Alternativa “d” correta: Flumazenil é usado como antídoto nas intoxicações por benzodiazepínicos e drogas “z”, como o zolpidem

Veja também!

Referências

Kang M, Galuska MA, Ghassemzadeh S. Benzodiazepine Toxicity. [Updated 2023 Jun 26]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482238/

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