Resumo sobre Lipedema: definição, fisiopatologia e mais!
(A) Lipedema. O tamanho das extremidades inferiores desta paciente tornou-se desproporcional ao restante do corpo na adolescência. Ela se queixa de dor e hematomas nas extremidades inferiores. Ao exame físico, observa-se aumento do tecido adiposo nas extremidades inferiores, com corte no tornozelo e pés com aparência normal. Uma linfocintilografia mostrou captação normal do traçador radiomarcado injetado nos pés pelos linfonodos inguinais. (B, C) Essas duas mulheres apresentavam membros inferiores assintomáticos e de aparência normal na adolescência e na juventude. Na idade adulta, ganharam peso de forma constante e desenvolveram aumento de tamanho e inchaço nos membros inferiores. • (B) OWL: IMC de 44 e linfocintilografia normal. • (C) ÓLEO: O IMC é 48 e o linfocintilógrafo não apresenta captação inguinal do traçador e refluxo dérmico. (D) Linfedema primário. Este indivíduo desenvolveu edema bilateral nos membros inferiores durante a infância. Observe aumento significativo do pé e edema. A linfocintilografia não mostra captação do marcador radiomarcado nos linfonodos inguinais. Fonte: UpToDate

Resumo sobre Lipedema: definição, fisiopatologia e mais!

E aí, doc! Vamos aprofundar mais um tema importante? Hoje o assunto é o Lipedema, uma alteração crônica marcada pelo depósito anormal e simétrico de gordura, principalmente nas pernas e, em alguns casos, nos braços. 

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Vamos nessa!

Definição de Lipedema

O lipedema é uma doença crônica descrita inicialmente na década de 1940 por Allen e Hines, caracterizada pela deposição anormal, simétrica e desproporcional de tecido adiposo. 

Acomete com maior frequência mulheres e apresenta predileção pelos membros inferiores, podendo também afetar quadris, coxas, braços e nádegas, mas geralmente poupa pés e tronco. Diferencia-se do edema comum por se tratar de uma alteração no volume e na distribuição do tecido adiposo, de provável base genética.

Entre suas principais manifestações estão o aumento progressivo do volume dos membros, dor, sensibilidade à palpação, fácil formação de hematomas e presença de nódulos firmes no tecido subcutâneo. 

O aspecto clínico confere ao lipedema uma aparência desproporcional do corpo, com predomínio do acúmulo de gordura nas extremidades em comparação ao restante do organismo. Essa condição, além de impactar a estética corporal, compromete a qualidade de vida devido ao desconforto físico e às limitações funcionais que pode gerar.

LIpedema
(A) Lipedema. O tamanho das extremidades inferiores desta paciente tornou-se desproporcional ao restante do corpo na adolescência. Ela se queixa de dor e hematomas nas extremidades inferiores. Ao exame físico, observa-se aumento do tecido adiposo nas extremidades inferiores, com corte no tornozelo e pés com aparência normal. Uma linfocintilografia mostrou captação normal do traçador radiomarcado injetado nos pés pelos linfonodos inguinais. (B, C) Essas duas mulheres apresentavam membros inferiores assintomáticos e de aparência normal na adolescência e na juventude. Na idade adulta, ganharam peso de forma constante e desenvolveram aumento de tamanho e inchaço nos membros inferiores. • (B) OWL: IMC de 44 e linfocintilografia normal. • (C) ÓLEO: O IMC é 48 e o linfocintilógrafo não apresenta captação inguinal do traçador e refluxo dérmico. (D) Linfedema primário. Este indivíduo desenvolveu edema bilateral nos membros inferiores durante a infância. Observe aumento significativo do pé e edema. A linfocintilografia não mostra captação do marcador radiomarcado nos linfonodos inguinais. Fonte: UpToDate

Epidemiologia do Lipedema

A epidemiologia do lipedema mostra dados subestimados devido à frequente subnotificação e dificuldade diagnóstica. A doença acomete principalmente mulheres, com raros casos em homens. Estima-se prevalência de cerca de 11% em adultos, incluindo 6,5% nos Estados Unidos e entre 15% e 18% em países europeus, embora alguns números apontem 1 caso a cada 72.000 pessoas.

Fisiopatologia da Lipedema

A fisiopatologia do lipedema envolve múltiplos mecanismos ainda não completamente esclarecidos. Originalmente, Allen e Hines sugeriram que a condição poderia resultar da baixa resistência do tecido adiposo à passagem de fluidos dos capilares para o interstício. 

Observa-se uma relação com fatores hormonais, já que o lipedema frequentemente surge na puberdade ou após a gravidez, períodos em que há predomínio de estrogênio. Embora raro em homens, casos descritos estão associados a estados de hiperestrogenismo, como doenças hepáticas, baixos níveis de testosterona e síndrome dos ovários policísticos.

Entre as principais alterações descritas estão a hipertrofia dos adipócitos, aumento da fibrose intercelular e infiltração de células inflamatórias, especialmente macrófagos, que contribuem para dor, hipóxia e necrose gordurosa. 

Há também perda de elasticidade nos tecidos conjuntivos, o que compromete a função dos vasos linfáticos e facilita extravasamento de líquidos e capilaridade aumentada. Esse processo pode levar à formação de microaneurismas nos vasos linfáticos e favorecer a sobreposição com quadros de linfedema.

Outro aspecto relevante é o estímulo à proliferação de células-tronco no tecido adiposo pela ação do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), desencadeado pela hipóxia local. Pacientes com lipedema apresentam alterações vasculares, como aumento da rigidez aórtica e mudanças na mecânica de rotação ventricular esquerda, sugerindo que a doença também impacta a função cardiovascular de forma indireta.

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Manifestações clínicas do Lipedema

As manifestações clínicas do lipedema apresentam um padrão característico, geralmente iniciado na puberdade, embora o surgimento também possa ocorrer em fases posteriores da vida. 

Muitas pacientes relatam que, mesmo com peso normal ou discretamente aumentado, os membros inferiores tornam-se dolorosos, aumentados e desproporcionais em relação ao restante do corpo. O histórico familiar positivo em mulheres com quadro semelhante é comum, sugerindo componente hereditário.

Características clássicas do lipedema

  • Acomete quase exclusivamente mulheres;
  • Aumento simétrico e bilateral de quadris, coxas, pernas e nádegas, com preservação dos pés;
  • Presença de almofadas de gordura na região maleolar;
  • Dor espontânea ou à palpação das áreas afetadas;
  • Tendência a equimoses de fácil formação;
  • Ausência de infecções locais;
  • Impacto psicossocial relevante.

Exame físico

Observa-se tecido adiposo desproporcional que se estende dos quadris até os tornozelos, com demarcação nítida na região maleolar. O sinal de Stemmer é negativo, indicando preservação da função linfática. Quando há envolvimento de membros superiores, o padrão é semelhante, com mãos poupadas.

Evolução clínica

Em pacientes com índice de massa corporal (IMC) dentro da normalidade, o quadro tende a permanecer estável. Contudo, o ganho de peso compromete a função linfática, favorece o aparecimento de edema e aumenta o risco de evolução para linfedema irreversível. Até 80% das pacientes apresentam IMC acima de 30 kg/m², condição que intensifica o acúmulo de tecido adiposo e a progressão das alterações nos membros inferiores.

Diagnóstico de Lipedema

O diagnóstico do lipedema é, em grande parte, clínico, baseado na história do paciente e no exame físico. Dois critérios principais são considerados fundamentais: o aumento desproporcional e simétrico do tecido adiposo, predominantemente nos membros inferiores, e a presença de dor nessas regiões. 

Geralmente, adolescentes e mulheres jovens apresentam os sinais clássicos, relatando que, por volta dos 18 anos, já havia desproporção evidente entre as pernas e o restante do corpo, mesmo com peso normal ou apenas discretamente aumentado.

Em adultos, a avaliação pode ser mais complexa, especialmente quando há índice de massa corporal (IMC) acima de 30 kg/m². Nesses casos, os sinais típicos tornam-se menos evidentes, o que dificulta a diferenciação entre lipedema, obesidade isolada ou linfedema associado. É importante destacar que o aumento de gordura sem dor (lipohipertrofia indolor) não é compatível com o diagnóstico de lipedema.

Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, exames complementares podem auxiliar em situações específicas. A linfocintilografia é útil em pacientes com sobrepeso ou obesidade, ajudando a distinguir lipedema de condições como obesidade sem linfedema (OWL) e linfedema induzido pela obesidade (OIL). Esse exame apresenta alta sensibilidade e especificidade para linfedema, sendo capaz de demonstrar função linfática normal em pacientes com lipedema, desde que o IMC não ultrapasse 40 kg/m².

A ressonância magnética (RM) também pode contribuir, principalmente em casos de dúvida diagnóstica ou para planejamento cirúrgico. Nas imagens, observa-se aumento circunferencial e simétrico do tecido adiposo subcutâneo, sem acometimento muscular ou ósseo, achado típico da doença.

Tratamento do Lipedema

O tratamento do lipedema tem como objetivos principais controlar a dor, prevenir o desenvolvimento de linfedema secundário e suas complicações, e melhorar a função física e psicossocial dos pacientes.

Medidas conservadoras

O manejo da dor pode incluir encaminhamento a serviços especializados. A terapia compressiva pode ser útil em pacientes com sobrepeso ou edema associado, embora em indivíduos com IMC menor e edema mínimo possa não trazer benefícios e até piorar a dor. 

Manter peso saudável, por meio de alimentação adequada e prática regular de exercícios, ajuda a reduzir a inflamação do tecido adiposo e melhora o bem-estar físico e psicológico. Pacientes com sobrepeso ou obesidade podem ser encaminhados a programas de perda de peso que incluam estratégias nutricionais, medicamentosas ou cirúrgicas, quando indicadas.

Suporte psicossocial

O acompanhamento psicológico e o incentivo à autogestão contribuem para a melhora da qualidade de vida, auxiliando no controle da dor, nas dificuldades funcionais e nas limitações estéticas causadas pela doença.

Intervenção cirúrgica

A lipoaspiração é considerada em casos sintomáticos, visando reduzir a dor, melhorar a aparência e a qualidade de vida. Estudos mostram que a lipoaspiração é mais eficaz em estágios iniciais do lipedema e em pacientes com IMC inferior a 35 kg/m². 

Para pacientes com IMC elevado, programas de perda de peso, incluindo cirurgia bariátrica quando indicado, podem ser realizados antes da lipoaspiração para reduzir riscos e melhorar os resultados.

O procedimento cirúrgico geralmente é realizado em um membro por vez, com intervalo mínimo de seis semanas, permitindo mobilização precoce e redução do risco de trombose venosa. 

Após a cirurgia, os pacientes usam curativos compressivos e, posteriormente, vestimentas de compressão por pelo menos seis semanas para otimizar a retração da pele e auxiliar na recuperação. Estudos indicam melhora significativa na função física, qualidade de vida e satisfação com a aparência após a lipoaspiração em pacientes com lipedema.

Extensivo RM

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Referências

Arin K Greene, MD.  Diagnosis and management of lipedema. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate

Vyas A, Adnan G. Lipedema. [Updated 2023 Jan 30]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/books/NBK573066/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc

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