Resumo sobre Mastite Puerperal: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo sobre Mastite Puerperal: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a mastite puerperal, uma inflamação do tecido mamário que acomete mulheres durante a amamentação, especialmente nas primeiras semanas pós-parto. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Mastite Puerperal

Mastite puerperal, também chamada de mastite lactacional, é uma inflamação da glândula mamária que acomete mulheres em fase de amamentação, sendo mais comum nas primeiras semanas após o parto. Trata-se de uma condição que pode comprometer o bem-estar materno e interferir na continuidade da amamentação, sendo considerada uma das principais causas de desmame precoce.

Seu desenvolvimento está geralmente associado à estase do leite, que ocorre quando há esvaziamento inadequado das mamas, favorecendo a proliferação bacteriana, especialmente em situações em que há fissuras ou lesões nos mamilos. A mastite pode ter origem apenas inflamatória ou evoluir com infecção, tornando essencial a identificação precoce e o manejo adequado.

Além de afetar a saúde física da lactante, a mastite puerperal pode impactar negativamente o vínculo mãe-bebê e a experiência da amamentação, exigindo uma abordagem que considere tanto os aspectos clínicos quanto o apoio emocional e educacional à paciente. A continuidade da amamentação, quando possível, é geralmente incentivada, pois contribui para a resolução do quadro e reforça os benefícios da lactação para mãe e filho.

Epidemiologia da Mastite Puerperal

A mastite puerperal acomete de 2% a 20% das mulheres que amamentam, sendo mais comum nas primeiras quatro a seis semanas pós-parto. Uma meta-análise estimou uma taxa de 11,1 episódios por 1.000 semanas de amamentação até a 25ª semana. A hospitalização por mastite é rara, com incidência de 9 casos a cada 10.000 partos. Mulheres com histórico prévio têm maior risco de recorrência.

Fisiopatologia da Mastite Puerperal

A fisiopatologia da mastite puerperal envolve uma combinação de fatores mecânicos, inflamatórios e infecciosos, que se desenvolvem de forma progressiva a partir de alterações na drenagem do leite. O evento inicial mais frequentemente associado é o estreitamento dos ductos mamários, que pode ocorrer por diversos motivos, como traumas mamilares, dificuldades na pega do bebê, uso inadequado de bombas de ordenha ou produção excessiva de leite (hiperlactação).

Esse estreitamento dos ductos leva à estase láctea, ou seja, acúmulo de leite em partes da mama, o que promove edema, inflamação local e compressão de outros ductos. Quando essa estase persiste por mais de 12 a 24 horas, o leite acumulado pode servir de meio de cultura para o crescimento bacteriano, especialmente em casos com fissuras nos mamilos. A progressão para infecção ocorre com a invasão de bactérias, geralmente Staphylococcus aureus, incluindo cepas resistentes à meticilina (MRSA), e estreptococos.

A interação entre o microbioma mamário e os fatores imunológicos e genéticos da paciente também pode influenciar a resposta inflamatória. Uma vez instalada a infecção, a inflamação pode se disseminar pelo tecido mamário, levando a casos mais graves e, em alguns pacientes, à formação de abscesso.

Manifestações clínicas da Mastite Puerperal

As manifestações clínicas da mastite puerperal variam em intensidade, podendo ir de um quadro localizado até formas mais graves com comprometimento sistêmico. Em sua apresentação mais comum, a paciente relata dor, inchaço e sensibilidade em uma região da mama, geralmente acompanhados de vermelhidão (eritema) e endurecimento local. Esses sinais costumam surgir nos três primeiros meses de amamentação e podem se expandir para além do quadrante inicialmente afetado, comprometendo áreas maiores da mama.

Nos casos de mastite lactacional infecciosa, a inflamação local se associa a febre acima de 38,3 °C, redução da secreção láctea e sintomas sistêmicos como calafrios, mialgia, mal-estar e sinais semelhantes aos de uma virose. Em situações raras, especialmente quando o tratamento é tardio ou ineficaz, a infecção pode evoluir para sepse, com sinais como hipotensão, taquicardia, taquipneia, leucocitose e possível disfunção de órgãos.

Pacientes com sintomas persistentes por mais de 24 horas devem ser avaliadas, pois a detecção precoce é essencial para evitar complicações como abscesso mamário ou sepse.

Diagnóstico de Mastite Puerperal

O diagnóstico da mastite puerperal é fundamentalmente clínico, baseado na história da paciente e nos achados ao exame físico. Geralmente, identifica-se uma área dolorosa, inchada, eritematosa e endurecida em uma das mamas, associada ou não a sintomas sistêmicos como febre e mal-estar. Pacientes com sintomas persistentes por mais de 24 horas devem ser avaliadas para confirmar a presença de infecção e complicações.

Em casos duvidosos ou complicados, exames complementares podem ser utilizados, como ultrassonografia mamária, que ajuda a identificar coleções líquidas ou abscessos. Culturas do leite materno podem ser realizadas para identificar o agente bacteriano, especialmente em casos recorrentes ou resistentes ao tratamento, embora a presença de bactérias no leite nem sempre indique infecção ativa. A avaliação laboratorial pode incluir hemograma para identificar leucocitose e outros marcadores de inflamação.

Diagnósticos diferenciais

A mastite puerperal deve ser diferenciada de outras condições que causam dor e inflamação na mama durante a lactação ou em outras fases, como:

  • Abscesso mamário: geralmente ocorre como complicação da mastite infecciosa, caracterizado por uma coleção localizada de pus, com dor intensa e massa palpável;
  • Galactocele: cisto benigno cheio de leite, que pode causar aumento e desconforto mamário, mas não apresenta sinais inflamatórios agudos;
  • Fissuras ou trauma mamilar: podem causar dor local e desconforto, mas sem sinais de inflamação sistêmica;
  • Tromboflebite da veia superficial da mama (doença de Mondor): inflamação e trombose das veias superficiais, podendo causar dor e nódulo palpável;
  • Outras mastites não lactacionais: como mastite periductal ou granulomatosa, que possuem etiologias e tratamentos diferentes;
  • Processos neoplásicos: embora raros em lactantes, tumores mamários inflamatórios ou câncer de mama podem simular quadro inflamatório e devem ser considerados em casos atípicos ou com evolução incomum.

Tratamento da Mastite Puerperal

O tratamento da mastite puerperal baseia-se inicialmente em medidas clínicas que visam resolver o estreitamento ductal, aliviar a inflamação e garantir o fluxo adequado do leite, prevenindo a progressão para infecção bacteriana. Essas medidas incluem a amamentação frequente e sob demanda, ou a ordenha do leite na quantidade necessária pelo bebê, evitando o uso excessivo de bombas de leite e escudos de mamilo.

Para controle da dor e do desconforto, recomenda-se o uso de compressas mornas ou frias, além de analgésicos e anti-inflamatórios orais, como paracetamol ou ibuprofeno. Descanso, hidratação adequada e o uso de sutiãs confortáveis também são importantes. O paciente deve evitar massagens profundas na mama, sendo recomendada apenas uma massagem leve para facilitar a drenagem.

Caso os sintomas persistam por mais de 24 a 48 horas, ou se houver febre e sinais sistêmicos, é necessário iniciar o tratamento com antibióticos direcionados principalmente contra Staphylococcus aureus. O uso de antibióticos passou a ser indicado somente para pacientes com sinais claros de infecção bacteriana, não sendo mais adotado rotineiramente para todos os casos.

Para infecções não graves, a escolha do antibiótico depende do risco de infecção por cepas resistentes, como o MRSA, da alergia do paciente e dos padrões locais de resistência. Opções comuns incluem dicloxacilina, flucloxacilina ou cefalexina para pacientes sem risco de MRSA, e trimetoprima-sulfametoxazol ou clindamicina para aqueles com risco.

Em casos graves, com sintomas sistêmicos importantes ou falha do tratamento oral, a internação e o uso de antibióticos intravenosos, como vancomicina associada a ceftriaxona ou piperacilina-tazobactam, são indicados.

A duração do tratamento varia, mas geralmente o uso de antibióticos por cinco a sete dias é suficiente, podendo se estender até 14 dias em infecções mais severas ou de resposta lenta. Caso não haja melhora em 48 a 72 horas, deve-se investigar a presença de abscesso por ultrassonografia e ajustar a conduta conforme resultados.

Além disso, o acompanhamento e o suporte de profissionais especializados em amamentação são fundamentais para orientar sobre técnicas adequadas, alívio dos sintomas e a importância da continuidade da amamentação durante o tratamento.

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De olho na prova!

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Exame Nacional de Residência Médica EBSERH (ENARE) – 2022 – Residência com pré-requisito – Ginecologia e Obstetrícia (R+ GO)

A mastite puerperal é facilmente negligenciada clinicamente, mas pode levar a abscessos mamários, fasciíte necrosante e síndrome de choque tóxico. O agente microbiano mais frequentemente relacionado a essa patologia é:

A) Escherichia coli.

B) Staphylococcus epidermides.

C) Staphylococcus aureus.

D) Enterobacter spp.

E) Pseudomonas spp.

Comentário da questão:

Estrategista, a mastite lactacional começa com o ingurgitamento mamário e o acúmulo de leite. Isto acontece devido à dificuldade de drenagem do leite, geralmente relacionada ao trauma dos mamilos associada a pega inadequada. Ocorre inchaço e compressão de um ou mais ductos de leite. 

O leite materno contém bactérias. Se o ingurgitamento persistir ocorre a proliferação bacteriana e infecção, caracterizada por dor, vermelhidão, febre e mal-estar.

As bancas gostam muito de fazer uma pegadinha para você diferenciar o ingurgitamento mamário da mastite. Preste atenção: no ingurgitamento não há febre, calafrios ou mal estar.

A infecção pode progredir para a formação de abscesso local se não for tratada imediatamente.

        O agente etiológico mais frequente da mastite lactacional é o Staphylococcus aureus

O tratamento consiste em:

  • AINEs e compressas frias para reduzir a dor e o inchaço;
  • Esvaziamento completo da mama, através da expressão ou com a “bombinha”, a fim de evitar estase de leite;
  • Continuidade da amamentação;
  • Antibioticoterapia (1ª escolha é a Cefalexina).

Na presença de abscesso mamário, a drenagem cirúrgica (ou punção) é obrigatória. Lembre-se do aforisma: “abscesso diagnosticado é abscesso drenado!”. 

Opção correta: Alternativa “C

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Referências

Blackmon MM, Nguyen H, Vadakekut ES, et al. Acute Mastitis. [Updated 2024 Dec 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557782/

J Michael Dixon, MDAdetola Louis-Jacques, MD. Lactational mastitis. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate

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