Resumo sobre Neurite vestibular: definição, manifestações clínicas e mais!
Fonte: UpToDate

Resumo sobre Neurite vestibular: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Neurite Vestibular, uma condição caracterizada pela inflamação aguda do nervo vestibular, responsável pela condução das informações de equilíbrio entre o ouvido interno e o cérebro. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Neurite Vestibular

Neurite vestibular é uma condição benigna e autolimitada caracterizada por inflamação do ramo vestibular do oitavo nervo craniano. Essa inflamação provoca o aparecimento súbito de vertigem intensa, frequentemente acompanhada de náuseas e desequilíbrio da marcha. 

Costuma estar associada a infecções virais prévias ou concomitantes e, embora os sintomas mais marcantes durem alguns dias, a recuperação completa do sistema vestibular pode levar semanas ou até meses. 

O diagnóstico é clínico e exige do profissional a capacidade de distinguir essa condição periférica de causas centrais mais graves, como síndromes cerebrovasculares, que podem apresentar quadro semelhante. O tratamento é, em geral, de suporte, utilizando medicamentos para controle dos sintomas e, posteriormente, reabilitação vestibular.

Fisiopatologia de Neurite Vestibular 

A fisiopatologia da neurite vestibular envolve um processo inflamatório que acomete seletivamente a porção vestibular do oitavo nervo craniano. A causa mais aceita é de origem viral, com destaque para a possível reativação do herpes simples (HSV) previamente latente. Contudo, hipóteses vasculares e imunológicas também são consideradas na literatura.

O dano vestibular tende a afetar preferencialmente a divisão superior do labirinto, inervada pelo ramo superior do nervo vestibular, enquanto a divisão inferior é menos frequentemente comprometida. O motivo dessa predileção ainda não está totalmente esclarecido, mas acredita-se que diferenças anatômicas entre as duas divisões do nervo vestibular possam explicar essa vulnerabilidade distinta.

Esse comprometimento do ramo superior altera a transmissão das informações sensoriais de equilíbrio provenientes das estruturas que ele inerva, resultando na assimetria do tônus vestibular e, consequentemente, nos sintomas clássicos de vertigem súbita, náuseas e desequilíbrio.

Manifestações clínicas da Neurite vestibular

  • Vertigem de início agudo e contínua, descrita como intensa e incapacitante, diferindo dos episódios breves e recorrentes vistos na VPPB ou na doença de Ménière;
  • Náuseas e vômitos frequentes, geralmente proporcionais à intensidade da vertigem;
  • Alterações do equilíbrio, com instabilidade da marcha e tendência a desviar para o lado afetado;
  • Piora dos sintomas com movimentos cefálicos, embora não sejam desencadeados por esses movimentos;
  • Instalação progressiva ao longo de horas, com pico em 24 a 48 horas e duração de vários dias antes da melhora espontânea;
  • Possível histórico de infecção viral recente ou concomitante, embora ausente em até 50% dos pacientes;
  • Ausência habitual de cefaleia, o que ajuda a diferenciar de causas centrais ou enxaquecosas;
  • Ausência de sintomas neurológicos associados. Presença de alterações visuais, fraqueza, disartria, dormência ou dificuldade para andar sugere origem central e não neurite vestibular;
  • Preservação da audição. Quando há perda auditiva unilateral, o diagnóstico se volta para labirintite.

Exame físico

O exame físico em casos de neurite vestibular geralmente revela um quadro compatível com comprometimento vestibular periférico, já que o exame neurológico global tende a ser normal. 

A avaliação da postura, marcha e movimentos oculares é fundamental para diferenciar essa condição de causas centrais de vertigem, que apresentam alterações mais graves e sinais neurológicos associados. 

O teste HINTS, quando realizado por profissional experiente, torna-se especialmente útil por sua alta sensibilidade e especificidade na distinção entre vertigem periférica e central.

Principais achados no exame físico:

  • Exame neurológico sem déficits. Não se observam alterações motoras, sensitivas, disartria, dismetria ou reflexos anormais, o que afasta etiologias centrais.
  • Alterações do equilíbrio e marcha. A postura sentada permanece normal, mas a marcha pode se mostrar instável, com desvio ou queda para o lado afetado.
  • Head Impulse Test com padrão periférico. Observa-se sacada corretiva ao girar a cabeça para o lado lesionado, indicando falha do reflexo vestíbulo-ocular. Sacadas bilaterais sugerem origem central.
  • Nistagmo característico. O nistagmo é horizontal ou horizontal-torsional e unidirecional, obedecendo à Lei de Alexander. A presença de nistagmo vertical ou bidirecional indica suspeita de causa central.
  • Test of Skew negativo. Não há desalinhamento ocular no teste de cobertura e descobertura, reforçando o diagnóstico periférico. Qualquer desvio ocular durante o teste sugere etiologia central
  • Audição preservada. A integridade auditiva é típica da neurite vestibular, sendo a perda auditiva unilateral uma pista diagnóstica de labirintite.

Diagnóstico de Neurite vestibular

O diagnóstico da neurite vestibular é essencialmente clínico e baseado nos sinais e sintomas típicos de disfunção vestibular periférica aguda, como vertigem contínua, náuseas e desequilíbrio. 

No entanto, trata-se de um diagnóstico de exclusão, o que significa que a principal preocupação inicial é descartar causas centrais potencialmente graves, especialmente o acidente vascular cerebral.

A realização de exames de imagem, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, não é rotineiramente indicada. Eles só se tornam úteis quando os achados clínicos não são compatíveis com uma lesão vestibular periférica, quando o paciente apresenta fatores de risco para AVC ou quando os sintomas não mostram melhora dentro de 48 horas. Entre os métodos de imagem, a ressonância magnética é mais sensível que a tomografia para descartar eventos cerebrovasculares.

Além da avaliação clínica, exames complementares específicos podem ajudar a identificar qual divisão do nervo vestibular está acometida. Testes como os potenciais miogênicos evocados vestibulares (cervicais e oculares) e o video head impulse test (vHIT) contribuem para localizar o ramo vestibular superior ou inferior afetado.

Tratamento da Neurite vascular

O tratamento da neurite vestibular é voltado principalmente para o alívio dos sintomas na fase aguda e para a recuperação funcional do sistema vestibular ao longo do tempo. Na apresentação inicial, o manejo é sintomático, utilizando medicamentos como antieméticos (prometazina, metoclopramida), anti-histamínicos (dimenidrinato, meclizina) e benzodiazepínicos (diazepam, lorazepam) para controlar vertigem intensa, náuseas e vômitos. 

Esses fármacos, porém, devem ser usados por um período curto, idealmente não superior a três dias, pois seu uso prolongado pode prejudicar a compensação central e favorecer a cronificação dos sintomas ou vertigem recorrente.

Após a fase aguda, a reabilitação vestibular torna-se um componente fundamental do tratamento, auxiliando na reorganização e compensação das vias vestibulares afetadas, acelerando a recuperação e reduzindo sintomas persistentes.

O uso de corticosteroides já foi considerado uma opção terapêutica, mas sua eficácia é incerta. Uma revisão Cochrane de 2011 não encontrou evidências suficientes para recomendá-los no manejo da disfunção vestibular aguda. Da mesma forma, embora a hipótese viral da doença tenha sugerido possível benefício dos antivirais, estudos mostram que o valaciclovir, isolado ou em combinação com corticoide, não traz melhora significativa no quadro.

Veja também!

Referências

Smith T, Rider J, Cen S, et al. Vestibular Neuronitis. [Updated 2023 Jul 21]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK549866/

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