E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco está nas Opacidades Vítreas, alterações no humor vítreo que podem causar sombras ou “moscas volantes” na visão.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, garantindo uma prática clínica ainda mais precisa e eficaz.
Vamos nessa!
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Definição de Opacidades Vítreas
As opacidades vítreas referem-se a alterações na transparência do humor vítreo, que podem interferir na passagem da luz até a retina, comprometendo a qualidade da visão. O vítreo é uma estrutura gelatinosa e transparente, formada por uma matriz extracelular composta por colágeno, proteínas solúveis, ácido hialurônico e água, com um volume médio de aproximadamente 4 mL.
Ele ocupa o espaço entre o cristalino e a retina, desempenhando um papel crucial na sustentação estrutural do globo ocular e na manutenção de um meio opticamente uniforme, essencial para que a luz atinja a retina de forma eficiente.
Embora seja uma estrutura avascular, o vítreo contém poucas células, como hialócitos, astrócitos e células gliais, que estão localizadas predominantemente em seu córtex. Uma característica importante do vítreo é sua incapacidade de regeneração quando liquefeito por processos patológicos ou removido cirurgicamente.
As opacidades podem resultar de diversas condições patológicas, tanto diretamente relacionadas ao vítreo quanto secundárias a outros processos oculares, e representam um sinal importante na investigação de doenças que afetam o segmento posterior do olho.
Moscas Volantes
As moscas volantes representam um dos tipos mais comuns de opacidades vítreas, sendo descritas como pequenos pontos, filamentos ou estruturas semelhantes a teias de aranha que se movimentam com o deslocamento ocular.
Esse fenômeno entóptico ocorre devido à presença de condensações no humor vítreo, como fibras vítreas densificadas, tecido glial proveniente da região epipapilar ou mesmo sangue intravítreo em casos menos frequentes. Essas estruturas dispersam a luz incidente e lançam sombras sobre a retina, sendo percebidas pelos pacientes como formas cinzentas móveis.
Embora em muitos casos as moscas volantes sejam relacionadas a resquícios embriológicos do vítreo, sua manifestação pode ser exacerbada por alterações estruturais no gel, como ocorre no deslocamento vítreo posterior (DVP), ou em casos de hemorragia vítrea. Durante o DVP, por exemplo, as moscas volantes podem se tornar mais evidentes devido à reorganização da matriz colagenosa do córtex vítreo posterior.
A percepção das moscas volantes tende a diminuir ao longo do tempo, pois o cérebro se adapta a ignorar essas sombras. No entanto, em casos sintomáticos significativos, o tratamento pode ser necessário.
A vitrectomia limitada é uma abordagem eficaz e segura para remover as opacidades vítreas associadas às moscas volantes, enquanto o tratamento com laser YAG tem resultados mais limitados, sendo recomendado principalmente para anéis de Weiss, outro tipo de opacidade vítrea.
Hemorragia Vítrea
A hemorragia vítrea é um tipo significativo de opacidade vítrea, caracterizada pela presença de sangue no interior do humor vítreo. Essa condição pode ter diversas causas, incluindo:
- Descolamento agudo do vítreo posterior associado a rupturas retinianas ou avulsão de vasos periféricos.
- Retinopatia diabética proliferativa, uma das causas mais frequentes.
- Oclusões venosas da retina, que podem levar a sangramentos intraoculares.
- Trauma ocular, tanto contuso quanto penetrante.
- Distúrbios hemorrágicos sistêmicos, como a síndrome de Terson e coagulopatias.
- Doenças vasculares da retina, incluindo macroaneurismas, telangiectasias e hemangiomas capilares.
- Vasculites, como a doença de Eales, que podem causar fragilidade vascular.
- Anemia falciforme, que pode levar a complicações oculares, incluindo hemorragia vítrea.
Os sintomas da hemorragia vítrea variam de acordo com sua gravidade. Hemorragias leves podem causar embaçamento difuso da visão e o aparecimento de moscas volantes, enquanto hemorragias densas podem resultar em perda visual acentuada, dificultando a percepção de detalhes ou até mesmo a luz.
O diagnóstico da hemorragia vítrea, especialmente nos casos mais densos, é auxiliado pela ultrassonografia ocular em modo B-scan. Essa técnica permite identificar a presença de sangue não coagulado, que inicialmente apresenta uma aparência uniforme, e avaliar alterações subsequentes, como agregados celulares e ecos particulados. Além disso, a ultrassonografia é essencial para descartar condições associadas, como rupturas retinianas ou descolamentos de retina.
O tratamento da hemorragia vítrea depende da causa subjacente e da intensidade do sangramento. Em casos mais graves, a vitrectomia precoce é frequentemente indicada para remover o sangue e prevenir complicações adicionais, como tração retiniana ou fibrose. A hemorragia vítrea, ao causar uma opacidade significativa no gel vítreo, pode comprometer seriamente a função visual, exigindo um manejo rápido e criterioso para preservar a visão.
Síndrome de Terson
A síndrome de Terson é uma das causas de opacidade vítrea, caracterizada pela presença de hemorragia intraocular associada a condições que elevam agudamente a pressão intracraniana.
Essa condição ocorre frequentemente em decorrência de uma hemorragia subaracnoide causada pela ruptura de aneurismas, geralmente oriundos da artéria comunicante anterior. Contudo, também pode ser associada a hematomas subdurais ou a outras situações que resultem em aumento súbito da pressão intracraniana.
Na síndrome de Terson, o sangramento intraocular é tipicamente bilateral, manifestando-se de forma intrarretiniana, pré-retiniana ou, em alguns casos, com invasão do sangue sub-hialoideo no vítreo. Esse processo é atribuído à estase venosa retiniana decorrente do aumento da pressão no seio cavernoso. A hemorragia vítrea associada a essa síndrome interfere na transparência do gel vítreo, prejudicando a transmissão da luz e comprometendo a visão.
Embora, na maioria dos casos, a hemorragia vítrea resolva-se espontaneamente ao longo de alguns meses, o manejo pode incluir vitrectomia precoce em situações específicas para acelerar a recuperação visual.
O prognóstico visual é geralmente favorável a longo prazo, desde que a condição subjacente seja tratada de forma eficaz e não ocorram complicações adicionais. Como causa de opacidade vítrea, a síndrome de Terson destaca-se pela sua relação com eventos sistêmicos graves, ressaltando a importância de uma abordagem multidisciplinar no manejo dos pacientes afetados.
Hialose Asteroide
A hialose asteroide é uma condição degenerativa caracterizada pelo acúmulo de partículas de pirofosfato de cálcio no humor vítreo, formando opacidades arredondadas e branco-amareladas de diferentes tamanhos e densidades.
Essas partículas se movimentam junto ao vítreo durante os movimentos oculares, mas não se sedimentam na parte inferior do olho, mesmo quando este está imóvel. A doença afeta predominantemente um olho em cerca de 75% dos casos.
Embora a hialose asteroide seja mais comum em indivíduos idosos, com prevalência de 3% entre pessoas com idades entre 75 e 86 anos, sua ocorrência é maior em homens do que em mulheres. Apesar de uma possível associação com o diabetes ter sido sugerida, essa relação ainda não foi comprovada cientificamente.
Geralmente, a hialose asteroide é assintomática e não causa comprometimento significativo da visão. No entanto, em casos raros em que sintomas visuais estão presentes, é essencial investigar outras condições oftalmológicas, pois a hialose asteroide, por si só, raramente reduz a acuidade visual.
O diagnóstico pode ser confirmado por exames de imagem, como tomografia de coerência óptica (TCO) e ultrassonografia ocular, que evidenciam focos de alta refletividade no gel vítreo. Embora não seja uma condição que exija tratamento na maioria dos casos, a identificação da hialose asteroide é importante para diferenciar essa patologia de outras causas de opacidades vítreas.
Sínquise Cintilante
A sínquise cintilante é uma condição caracterizada pelo acúmulo de partículas refratárias no humor vítreo, geralmente como consequência de uma hemorragia vítrea crônica, sendo mais comum em olhos cegos.
Essas partículas, formadas por cristais de colesterol e produtos degradados de eritrócitos ou derivados de células do plasma, podem permanecer livres no vítreo ou serem fagocitadas por células gigantes de corpo estranho.
Clinicamente, a sínquise cintilante é observada como numerosas partículas achatadas e de cor marrom-dourada, que apresentam alta capacidade de refletir a luz. Essas partículas tendem a sedimentar-se na porção inferior do olho quando ele está imóvel, diferenciando-se de outras opacidades vítreas que se movimentam livremente. Em alguns casos, a câmara anterior também pode ser afetada pela presença desses cristais.
A sínquise cintilante é, em geral, identificada quando a hemorragia vítrea aguda já não está presente, sendo frequentemente encontrada durante a avaliação de olhos com visão severamente comprometida.
Embora não seja uma condição que cause sintomas significativos na maioria dos casos, sua identificação é importante para diferenciar essa patologia de outras causas de opacidades vítreas e determinar a abordagem mais adequada para o manejo do paciente.
Amiloidose
A amiloidose é uma condição caracterizada pela deposição extracelular de proteínas fibrilares, podendo ocorrer de forma localizada ou sistêmica. No contexto ocular, o envolvimento vítreo é frequentemente associado à amiloidose familiar, que também apresenta manifestações sistêmicas como polineuropatia, nervos corneanos proeminentes e dissociação luz-perto no reflexo pupilar.
As opacidades vítreas decorrentes da amiloidose podem ser unilaterais ou bilaterais, inicialmente apresentando-se de forma perivascular. Com a progressão da condição, as opacidades envolvem o vítreo anterior, adquirindo uma aparência laminar característica, conhecida como “lã de vidro”. Em alguns casos, essas opacidades podem aderir à parte posterior do cristalino por meio de espessas placas proteicas, intensificando o impacto visual.
A amiloidose vítrea pode levar a uma opacificação densa, comprometendo significativamente a visão. Nessas situações, a vitrectomia pode ser necessária para remover as opacidades e restaurar a transparência do meio óptico, melhorando a acuidade visual do paciente. A identificação e o manejo adequado da amiloidose são essenciais, dado seu impacto na qualidade de vida e sua possível associação com manifestações sistêmicas.
Cistos vítreos
Os cistos vítreos são formações esféricas cheias de líquido que podem ser congênitas ou adquiridas, apresentando características distintas dependendo de sua origem.
Os cistos vítreos congênitos podem ser pigmentados ou não. Os cistos pigmentados geralmente se originam do epitélio pigmentado do corpo ciliar, enquanto os cistos não pigmentados derivam de resíduos do sistema vascular hialoide primário.
Ambos os tipos tendem a ser fixos, com os cistos não pigmentados frequentemente ligados ao disco óptico. Embora esses cistos possam ser encontrados flutuando livremente no segmento posterior, em raros casos, eles também podem estar localizados na região anterior do olho.
Já os cistos adquiridos estão associados a diversas patologias, como trauma ocular ou processos inflamatórios, e podem surgir em qualquer parte do vítreo. Semelhantes aos congênitos, os cistos adquiridos tendem a ser fixos, mas também podem ser encontrados livres no segmento posterior ou anterior do olho.
O tratamento para cistos vítreos raramente é necessário, uma vez que eles frequentemente não causam sintomas significativos. No entanto, em casos onde o cisto provoca desconforto ou afeta a visão, pode-se considerar opções terapêuticas como cistotomia a laser ou vitrectomia para remoção do cisto e alívio dos sintomas.
Vasculatura fetal persistente
A vasculatura fetal persistente é uma condição ocular rara e congênita, na qual ocorre a persistência de vestígios da vascularização fetal que normalmente deveria regredir após o nascimento.
Durante o desenvolvimento fetal, o vítreo é irrigado por uma rede vascular chamada vasculatura hialoide, que geralmente desaparece antes do nascimento. No entanto, em alguns casos, essa vasculatura não regride completamente, resultando em vasos remanescentes que permanecem visíveis após o nascimento.
Uma manifestação comum dessa condição é o tufo no disco óptico, denominado papila de Bergmeister, que é causado pela persistência do tecido vascular hialoide. Outro sinal característico é o ponto de Mittendorf, uma área de tecido remanescente do sistema vascular fetal que se localiza na superfície posterior do cristalino.
Além desses, a vasculatura fetal persistente pode se manifestar de maneira mais pronunciada como um véu vítreo congênito, uma estrutura translúcida, que se assemelha a uma cortina e pode ser vascularizada. Embora rara, a vasculatura fetal persistente não causa sintomas graves na maioria dos casos e, quando presente, é geralmente observada durante exames oftalmológicos.
A condição é de etiologia desconhecida, e na grande maioria dos casos, não é necessário tratamento, pois a vasculatura fetal persistente não interfere de maneira significativa na função visual. Em situações raras onde há complicações, como a obstrução da visão, pode ser considerado algum tipo de intervenção.
Veja também!
- Resumo de anatomia e fisiologia ocular
- Resumo de estruturas oculares: córnea e cristalino
- Resumo de distúrbios de refração
- Resumo de Tumores Oculares Malignos
- Resumo sobre Ptose Palpebral: definição, causas e mais!
- Resumo sobre Rupturas Retinianas: definição, manifestações oculares e mais!
Referências
SALMON, John F. Kanski oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 9. ed. Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional, Editora Guanabara Koogan Ltda., 2023.
YANO, Myron; DUKER, Jay S. Oftalmologia. 5. ed. Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional, Editora Guanabara Koogan Ltda., 2022.